E-book
digitalizado e enviado por: Carlos Diniz
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exclusividade para:
ÍNDICE
CAPÍTULO 1
A Porta e o
Caminho Fé
Obediência
CAPÍTULO 2
O Objetivo e o
Subjetivo
Duas Categorias de
Verdade
Fato Um: Cristo
Morreu na Cruz
Fato Dois:
Ressuscitamos com Ele
Fato Três:
Assuntos aos Céus
Dando Frutos
CAPÍTULO 3
Querer e Realizar
CAPÍTULO 4
Alívio Concedido e
Descanso Alcançado
O Alívio da
Salvação
O Descanso da
Vitória
Tome o Jugo de
Cristo
Aprenda do Senhor
CAPÍTULO 5
Vigiar e Orar
O Momento da
Oração
No Momento de Orar
Evite Tudo o Que
Não É Oração
Orando em Todo
Tempo
Vigiar Depois da
Oração
CAPÍTULO 6
O Outro Aspecto da
Oferta Pela Culpa
A Relação Entre a
Oferta pela Culpa
e as Outras Quatro
Ofertas
Os Dois Aspectos
da Oferta pela Culpa
A Importância da
Oferta pela Culpa
A
Oferta pela Culpa Relaciona-se aos Homens
Algumas Ofensas
Contra os Homens
1. Ser indigno de
confiança
2. Negar em penhor
3. Roubar outras
pessoas
4. Oprimir um
vizinho
5. Negar a
devolução de coisas perdidas
6. Jurar com
mentiras
Como Lidar com as
Culpas
Acrescente a
Quinta Parte
O Tempo de
Devolver
Trazer a Oferta
pela Culpa
CAPÍTULO 7
Bem-aventurados
São os Mansos
A Tática
Operacional de Deus:
Trabalhar
com o Homem em Primeiro Lugar
Deus
Precisa do Homem Que Conhece a Cruz
Deus Trabalha com
Moisés
Como
Deus Trabalha com a Sabedoria e o Poder Carnais de Moisés
Admitiu Não Ter Poder
Reconheceu a Falta
de Eloqüência
Retrocesso
Excessivo por
Não Conhecer o
Poder da Ressurreição
Foi Circuncidado
O Princípio da
Cruz
CAPÍTULO 8
Verdadeiramente
Pobre
Mentalidade de
Laodicéia
Pobreza e Cegueira
Pobreza e
Superficialidade
Abundância e
Profundidade
CAPÍTULO 9
A Importância da
Fé
CAPÍTULO 10
Quatro
Estágios Importantes na Jornada da Vida.
Gilgal (v. 1) -
Tratando com a Carne
Betel (vv. 2, 3) -
Lidando com o Mundo
Jericó (v. 4)
-Tratando com Satanás
O Rio
Jordão (vv. 6-14) - Tratando com a Morte.
Capítulo 1
A PORTA E O CAMINHO
Leitura:
"Entrai
pela porta estreita (larga é aporta, e espaçoso, o caminho que conduz para a
perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é aporta, e
apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com
ela" (Mateus 7.13, 14).
Hoje, nosso propósito não é explicar a passagem
mencionada, mas demonstrar a trajetória da vida cristã, porque os versículos
acima tratam de dois grandes princípios: (1) entrar pela porta e (2) percorrer
o caminho. Enfatizar um deles e excluir o outro resultará em um extremo. Deus
coloca, diante do cristão, uma porta e um caminho, ou um caminho e uma porta, a
fim de mantê-lo em equilíbrio. O que significa entrar pela porta? Entrar pela
porta quer dizer passar por uma crise. Assim como a passagem tem uma porta que
bloqueia seu avanço, passar pela porta significa enfrentar algo que você nunca
experimentou antes. Não importa quão espessa seja a porta, não se leva cinco
minutos para atravessá-la. Quando alguém passa, está, de imediato, em um novo
ambiente. Há uma diferença enorme entre o cenário anterior à passagem pela
porta e a cena posterior. Cinco minutos antes, a pessoa estava em um mundo
particular, mas, agora, está em um mundo diferente. Anteriormente, a pessoa
estava do lado de fora da porta e, agora, encontra-se do lado de dentro. Por
exemplo: do lado de fora do Parque Jessfield[1], é
possível vermos poeira e carros. Porém, ao entrar pela porta do parque,
sentimos, de imediato, que estamos em uma área totalmente diferente. Portanto,
falando em termos espirituais, entrar pela porta significa que, em um curto
período de tempo, surge uma diferença tremenda. Num período tão breve, o
cristão passa por uma crise, e sua condição espiritual toma outro rumo no mesmo
instante. O cristão não apenas tem de atravessar uma crise, mas deve percorrer
um caminho também. O caminho é longo, e é necessário muito tempo para
percorrê-lo. Leva muito tempo para atravessar a porta? É óbvio que ela pode ser
atravessada com rapidez. O que, então, requer mais tempo: entrar pela porta ou
percorrer o caminho? Naturalmente, percorrer o caminho exige mais tempo. Surge
um grande desequilíbrio se alguém entra pela porta sem dar um passo no caminho
em seguida. Depois que o cristão atravessa a porta, ele deve seguir adiante,
passo a passo. Percorrer o caminho significa prosseguir gradualmente - um passo
depois do outro. Para atravessar a porta, é necessário apenas um passo, mas o
ato de percorrer o caminho não pode ser realizado em apenas um passo. Assim, ao
entrar pela porta, o cristão imediatamente sente uma mudança distinta. Ele
segue adiante (mais uns cem passos) e, então, pode ter de atravessar outra
porta. Talvez, após dar mil passos, outra crise ainda o espere. O cristão deve,
portanto, estar preparado para percorrer o caminho sempre que decidir
atravessar uma porta. Por isso, passar pela porta significa enfrentar uma
crise, enquanto percorrer o caminho quer dizer progredir.
Hoje em dia, há muitas controvérsias sobre esse
assunto entre os cristãos. Alguns enfatizam a crise, enquanto outros, o
progresso. Alguns consideram que entrar pela porta deve ser uma experiência
suprema, enquanto outros supõem que podem prosseguir sem qualquer necessidade
de atravessá-la. Ambas as posições são desequilibradas. Devemos saber que, de
um lado, precisamos passar por uma crise e, por outro, prosseguir no caminho.
Entrar pela portar e percorrer o caminho são dois importantes princípios
bíblicos; eles devem ser igualmente enfatizados. De acordo com a Palavra de
Deus, entrar pela porta, em nossa trajetória espiritual, antecede o ato de
percorrer o caminho. Em primeiro lugar, a crise; depois, o progresso. Contudo,
acontece o contrário para quase toda jornada terrestre, pois esta requer normalmente
caminhar antes de entrar. Por exemplo: você deve, primeiro, percorrer a Rodovia
Hardoon antes de passar pela entrada de Wen Teh Lane e chegar ao local
preparado para a adoração. Na jornada espiritual, porém, o caso é outro, pois
pode ser semelhante a uma viagem rumo a um palácio ou mausoléu real cercado por
uma gigantesca muralha. Você precisa passar pela entrada primeiro e, depois,
andar por uma extensa trilha antes de chegar ao destino. Uma vez que a Bíblia
sempre apresenta a porta e o caminho juntos, podemos vê-los em ação tanto na
"fé" quanto na "obediência" — dois princípios-chave da vida
cristã.
Fé
A fé é um princípio de nossa caminhada cristã. A fé é
governada por duas regras, representadas por uma porta e por um caminho. Todos
os que estão familiarizados com a experiência espiritual sabem que a fé é
constituída dos elementos "crer" e "confiar".
Há uma diferença entre o ato de fé e a atitude de fé.
Crer de uma por todas as vezes é o que chamamos de passar por uma crise, mas
confiar continuamente depois é o que chamamos de progredir. Exercer um ato
singelo de fé é entrar pela porta, mas manter uma atitude de fé a partir de
então é percorrer o caminho.
A fim de o cristão realmente crer em Deus quanto a uma
questão específica, ele deve, primeiro, exercer um ato de fé, com singeleza de
coração, pelo qual ele verdadeiramente creia em Deus, antes de conseguir
percorrer o caminho da fé. Ao entrar pela porta, ele cruza o portal da dúvida
e, então, com a singeleza de coração, recebe uma promessa de Deus, o que
acontece quando atravessa a porta ou passa por uma crise.
Por favor, lembre-se de que os crentes devem, em
primeiro lugar, entrar pela porta da fé e, depois, podem avançar pelo caminho
da fé, mantendo uma atitude de fé.
Muitas pessoas especulam o fato de poder confiar em
Deus ao manter uma atitude de fé sem transpor o portal da fé por meio de um
singelo ato de fé. Elas não sabem que, sem atravessar a porta, é totalmente
impossível percorrer o caminho. Sem passar por uma crise ou dificuldade, não há
como progredir. É fundamental que haja uma ruptura nítida com o passado e uma
aceitação definitiva do testemunho de Deus — isso é entrar pela porta. Ao
contrário, nunca poderá haver progresso espiritual. Portanto, na área da fé,
entre pela porta e, depois, percorra o caminho.
Dentre as muitas verdades nas quais acreditamos, não
existe nenhuma mais sublime do que existirmos "em Cristo" — que é a
posição que o redimido do Senhor obtém, segundo o ensinamento do Novo
Testamento. Nada pode ser mais elevado do que esta posição, uma vez que o
perdão dos pecados, a justificação e a santificação estão em Cristo. Todas as
bênçãos espirituais encontram-se em Cristo. Tudo está Nele. Assim sendo, a
maior graça que podemos receber é ter nossa existência colocada em Cristo. Tudo
o que Deus nos oferece está em Seu Filho.
Atualmente, a pergunta mais importante que devemos
fazer a nós mesmos é: "Quem podemos ser em Cristo?" O missionário
inglês na China Hudson Taylor[2] admirava a vida vitoriosa e sabia que tudo
deveria ser encontrado em Cristo. Contudo, quando começou a percorrer o caminho
cristão, esforçou-se para permanecer em Cristo e descobriu que não conseguia
fazê-lo, pois parecia que, com freqüência, era derrotado. Essa luta durou até o
momento em que Deus concedeu a Hudson Taylor uma revelação, mostrando-lhe que
já estava em Cristo. A necessidade que sentia de ser restaurado não iria ser
curada pelo fato de pedir que fosse colocado em Cristo. Ao contrário, ele era
uma pessoa regenerada e, portanto, já estava em Cristo. A resposta para sua
necessidade era simplesmente descansar nesse fato, pois este era O significado
de permanecer em Cristo. Uma vez que ele já estava em Cristo, não havia como
estar ainda mais Nele. Assim, ele alcançou a vitória - esta é a porta da fé. Hudson
Taylor agora entrou pela porta. E depois da entrada por meio do ato de fé, ele
conseguiu aprender a tomar posse desse fato dia a dia e a confiar em Deus com
uma atitude de fé. De outra forma, até mesmo se ele desejasse acreditar em
Deus, não encontraria forças para confiar tanto.
Embora a expressão "em Cristo" seja simples,
a verdade que contém é excessivamente ampla; tão abrangente que chega a ser
quase incomensurável. Deus "nos tem abençoado com toda sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo" (Ef 1.3). Todas as bênçãos
encontram-se Nele. Sendo as bênçãos que Nele existem de tal forma abundantes,
por que muitas pessoas, que aparentemente crêem, não as recebem? Isso acontece
porque ignoram os dois princípios da fé. Deve haver o ato de fé, assim como a
atitude de fé. Muitos podem ter crido e, aparentemente, exibido a atitude de
fé, mas lhes falta o ato de fé. Em outras palavras, eles não cruzaram o portal
da fé ao mesmo tempo em que, com singeleza de mente, acreditaram na realidade
de Deus. Eles confundiram a atitude de fé com a própria fé. Se passarem pela
crise de fé, entretanto, experimentarão muitas das bênçãos que estão em Cristo
ao manter, posteriormente, essa atitude de fé. Isso não quer dizer que os
cristãos obtêm tudo no dia em que atravessam a porta. Em certo sentido, possuem
todas as coisas. Todavia, ainda não provaram todas. A situação é semelhante a
quando entramos em um jardim onde tudo está diante de nossos olhos, mas temos
de caminhar por ele a fim de experimentar todas as coisas que ali se encontram.
Na entrada, podemos possuir tudo ao declarar que todas as coisas nos pertencem.
Primeiro, a porta; depois, o caminho.
Quando Deus ordenou que os filhos de Israel cruzassem
o rio Jordão, Ele disse, primeiro, a Josué: "Dispõe-te, agora, passa este
Jordão, tu e todo este povo, à terra que Eu dou aos filhos de Israel. Todo
lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como Eu prometi a
Moisés" (Js 1.2, 3). Antes de atravessarem o Jordão, Deus falou que havia
dado a terra de Canaã aos israelitas.
Eles simplesmente precisavam ir em frente e possuí-la.
Eles tinham fé? Sim, pois os que não criam já haviam morrido no deserto, e
todos os que estavam prestes a entrar em Canaã eram pessoas de fé. Os
israelitas cruzaram o rio Jordão, tomando posse da palavra de Deus. Eles
agarraram Sua palavra e declararam que, a partir de então, a terra de
Canaã lhes pertencia. Por conseguinte, eles passaram o Jordão e tomaram posse
da terra.
Todavia, após terem atravessado o Jordão, será que
tomaram posse de toda a terra de imediato? Satanás nunca fará tal concessão ao
povo de Deus. As muralhas de Jericó eram altas, e as portas da cidade estavam
seguramente fechadas. Se estivéssemos presentes nessa situação, provavelmente
teríamos ido a Deus e reclamado, dizendo: "Tu disseste que a terra de
Canaã seria nossa. Cruzamos o rio, mas, agora, as muralhas de Jericó são altas
demais, e as portas da cidade estão
fechadas com segurança. A Tua palavra não falhou?" Entretanto, os filhos
de Israel não fizeram nada disso, mas acreditaram na palavra de Deus e tomaram
posse de Sua promessa. Eles passaram a rodear a
cidade, uma vez por dia, até que, no sétimo dia, rodearam-na sete vezes e
gritaram. Em resposta, as muralhas de Jericó desmoronaram.
Posteriormente, eles conquistaram uma cidade após a
outra. Embora tivessem seus fracassos — e falharam por não expulsar por
completo as sete tribos de Canaã —, tomaram posse de mais da metade das cidades
de Canaã.
Devemos exercitar a fé a fim de possuir todas as
bênçãos espirituais em Cristo — assim como os filhos de Israel haviam
apreendido a palavra de Deus ao atravessar o rio Jordão e conquistado a terra.
Esse assunto também pode ser comparado aos documentos de propriedade que o pai
moribundo dá em herança para o filho, que precisa encontrar as terras descritas
nas escrituras e administrar sua herança. A herança é do filho, mesmo que ele
ainda não a tenha visto ou administrado. Portanto, ele deve investigar e,
subseqüentemente, gerenciar suas propriedades de acordo com o que está escrito
nos documentos. Por conseguinte, receber os títulos de propriedade pode ser
considerado o ato de fé, ou seja, a crise, ao passo que gozar das propriedades
que constam na herança de acordo com os documentos pode ser considerado a
atitude de fé (ou confiança), isto é, o progresso.
"Dispõe-te, agora, passa este Jordão, tu e todo
este povo", dissera Deus. Essa declaração constituiu, para o povo,
atravessar o portal da fé. E, após ter passado por essa crise, eles destruíram
uma cidade depois da outra segundo a palavra de Deus, o que foi, para eles,
percorrer o caminho da fé. Ao ler o Novo Testamento, você observa que todas as
coisas em Cristo lhe pertencem. Porém, se você não conseguiu possuir nada,
ainda não experimentou a crise da fé. Sem passar pelo portal da fé, você nunca
será capaz de atravessar o caminho da fé, e haverá pouco progresso em sua vida
espiritual. Ainda que você tenha ouvido muitos ensinamentos sobre fé, você não
os aproveitará, pois deve passar por esta crise, dizendo: "Ó Deus, eu Te
agradeço por me teres dado, de fato, a terra de Canaã. Esta terra é
minha." É preciso que você possua a terra ao apropriar-se dos documentos
de propriedade. Você não vai sair e verificar se a terra realmente lhe
pertence, mas reivindicá-la, pois é sua.
Pegar os documentos de propriedade e aceitar a bênção
que Deus lhe concedeu em Cristo significam experimentar a crise de fé. Pode
haver ocasião em que, por um lado, você sinta ciúme, orgulho e cobiça em seu
interior e, por outro lado, deixa de sentir amor, humildade ou bondade. Você
pede que o Senhor o liberte. Você pede uma, duas e várias vezes. Até que, um
dia, você recebe revelações concernentes às riquezas de Cristo e percebe quão
tolo foi ao pedir libertação. Você recebe a seguinte palavra de Deus: "A
Minha graça te basta" (2 Co 12.9). Assim, não é mais preciso pedir, pois o
Senhor fala: "Sou santo, bom e cheio de graça." Todas as coisas estão
Nele. Quando Deus lhe mostra as riquezas em Cristo, você passa por uma crise.
Depois, experimentará mais e mais da graça que existe em Cristo.
T.
Austin-Sparks[3] é um
servo de Deus que tem sido grandemente usado. A verdade mais preciosa de toda a
sua vida é a de seu ser "em Cristo". A vida deste servo foi
completamente modificada a partir do dia em que seus olhos foram abertos por
Deus a fim de contemplar as riquezas que lhe pertenciam em Cristo. Deus fez com
que ele percebesse que precisava, antes de qualquer coisa, tornar-se um pobre
homem rico, pois tinha-se esquecido das riquezas
abundantes, que são a herança do crente em Cristo. Vamos perceber, hoje, que
devemos passar pela crise da fé. Que Deus nos conceda o espírito de sabedoria e
revelação, e que nossos olhos sejam abertos a fim de contemplarmos nossa união
com Cristo.
Depois de ter observado sua união com Cristo, será que
você nunca mais ficará nervoso nem sentirá a inveja mover-se em seu interior?
Será que, no futuro, você mostrará apenas bondade e amor? Posso lembrá-lo que o
diabo é tão teimoso hoje em dia quanto foi com os habitantes de Canaã. Satanás
o confrontará em cada passo do seu caminhar. A menos que você permaneça na
vitória de Cristo, divisará derrota. Quem não passou pela crise da fé jamais
será capaz de percorrer o caminho da fé. Entretanto, quando seus olhos forem
abertos para ver as riquezas em Cristo, você será tentado de imediato pelo
diabo, que insinuará o seguinte: "Você diz que todas as bênçãos estão em
Cristo. Então, por que você ainda fica irritado e nervoso? Você diz que todas
as bênçãos lhe pertencem, mas você possui algumas delas em seu interior? A
revelação que você diz ter recebido não é verdadeira, mas você está iludido.
Você diz que Deus lhe deu a terra de Canaã, mas, se esse fosse o caso, por que
as muralhas de Jericó permanecem tão altas, e as portas, tão firmemente
trancadas? Como você pode acreditar que conseguirá desbaratar as sete tribos de
Canaã? Não! O que Deus lhe disse são simplesmente palavras vazias. É melhor que
você volte para a margem oriental do rio Jordão!"
Os cristãos devem reconhecer que atravessar o rio
Jordão e não rodear a cidade de Jericó é apenas entrar pela porta da fé sem
percorrer o caminho da fé. Cruzar o Jordão e deixar de rodear Jericó nunca fará
com que as muralhas caiam por terra. Entrar pela porta da fé sem percorrer o
caminho da fé não resultará em progresso espiritual. Ao contrário, a
experiência espiritual de cada cristão que avança atesta as pegadas da fé.
Satanás não deixará que você caminhe e leve consigo as
bênçãos facilmente. Você ouviu dizer que todas as coisas estão em Cristo.
Porém, ao chegar em casa, Satanás lhe dirá: "O amor não lhe pertence, a
bondade não lhe pertence; nada, enfim, é realmente seu."
E por causa das mentiras de Satanás que você pára de
lutar e desiste? Você deve agir como agem os proprietários que administram as
terras que possuem de acordo com seus títulos de propriedade. Assim como eles,
você deve cuidar da sua terra de acordo com tudo o que está descrito no
documento. Você não precisa pedir ou tentar, pois tão-somente deve levar o
documento consigo e reivindicá-la. E, quando vier a tentação, você simplesmente
terá de usar a passagem bíblica adequada à ocasião. Se for irritação, use a
passagem bíblica que trata da irritação. Se for amor, use os versículos
apropriados sobre o amor. Encontre as passagens certas para que possa, enfim,
declarar: "Essa é minha herança, e, portanto, reivindico-a." Você
notifica a Satanás que ele é um mentiroso e, logo, deve afastar-se de você.
Você exercita sua fé ao dizer: "Vivo pela graça de Cristo e posso ser
paciente e bondoso."
Por favor, observe com cuidado, porém, que o que
precisa ser retirado é a irritação e não a fé, a montanha, não a fé. Não é a fé
que deve recuar, mas o mau gênio é que deve ser afastado. Permaneça na fé.
Nenhum muro é tão alto a ponto de não poder cair por terra. Os filhos de Israel
não usaram armas, mas simplesmente rodearam a cidade no primeiro dia e foram
embora. E, durante os cinco dias seguintes, fizeram a mesma coisa. Aos olhos do
povo de Jericó, aquilo parecia brincadeira de criança. Contudo, no sétimo dia,
eles rodearam a cidade sete vezes, gritaram crendo que as muralhas de Jericó
cairiam, e os muros, de fato, caíram.
Determinado cristão pode ter passado pela crise da fé,
mas não percorreu o caminho da fé e lamenta pelo mau gênio, pela inveja, pelo
orgulho, pela cobiça e por todas as coisas que ainda o acompanham. Ele não sabe
o que fazer. Por um instante, lembre-se disto, por favor: primeiro, você deve
ver as riquezas que tem em Cristo, ou seja, entrar pela porta da fé.
Porém, ao entrar, você deve assumir sua nova posição
ao lidar com qualquer tentação que apareça em seu caminho — seja o orgulho, a
inveja ou qualquer outra coisa. Você permanece na fé e declara que todas estas
tentações devem cair por terra. Então, elas cairão. Aleluia! Os filhos de
Israel cercaram a cidade de Jericó e deram o grito de fé para que as muralhas
caíssem. Do ponto de vista humano, essa atitude era extremamente tola, mas,
quando eles gritaram, a cidade de Jericó caiu. O mesmo acontece nos dias de
hoje: se gritarmos com fé, o mau gênio, a cobiça, o orgulho e a inveja cairão
igualmente. Passar por uma crise significa ver tudo o que é nosso em Cristo.
Isso constitui o primeiro passo de fé. Depois, tome posse de tudo o que existe
em Cristo como se apegasse a um título de propriedade.
"Porque morrestes" (Cl 3.3). Deus lhe mostra
que você está morto. Portanto, não deve ficar irritado ou nervoso. A medida que
você, pela fé, crê no que Deus diz em Sua Palavra, entra pela porta. Contudo,
Satanás irá rapidamente onde você estiver e poderá lazer com que fique irritado
pela provocação do seu cônjuge, ou filhos ou qualquer outra pessoa.
Naturalmente, você concluirá que, provavelmente, a palavra "porque
morrestes" não se aplica a você na Bíblia. logo, você confia em seus
sentimentos, e sua fé desfalece. Suponhamos, por exemplo, que meu pai tenha
comprado uma terra e tenha me dado a escritura da propriedade. Ele me diz para
ir e administrar os bens. Então, vou ao país onde se situa a terra e encontro
um caminhante que me pergunta por que estou indo até lá. "Preciso
encontrar a terra do meu pai", respondo. "A terra não é do seu pai,
mas do meu pai", protesta o caminhante. Agora, nesse momento, se eu
duvidasse da palavra do meu pai, provavelmente voltaria para casa. No entanto,
se eu dissesse "De jeito nenhum. Meu pai não se equivocou, pois, de acordo
com esse documento que tenho em mãos, a terra nos pertence", o invasor
seria obrigado a ir embora. Assim, um dos dois deve partir.
O mesmo acontece conosco, pois Deus Pai já nos deu
todas as bênçãos em Cristo Jesus. A Bíblia é o documento que o Pai nos concede.
Se você acreditar no que está escrito na Bíblia, Satanás será obrigado a
partir. É triste observar que muitas pessoas são incapazes de suportar as
tentações satânicas. Elas desistem da Palavra de Deus e perdem a fé. Devemos,
portanto, receber a Palavra de Deus não apenas uma vez, mas sempre que formos
tentados. Devemos ser fortes por meio da Palavra — isso é percorrer o caminho
da fé.
Ontem, alguém pode ter declarado que, em Cristo,
venceu seu nervosismo. Todavia, é possível que, hoje, seu orgulho retorne. Ele
se sente confuso, pois, realmente, havia vencido seu temperamento ontem, mas,
hoje tornou-se orgulhoso de novo. E possível que a palavra bíblica "porque
morrestes" não seja totalmente confiável? Não, mas simplesmente significa
que ele deve percorrer o caminho da fé. Após a vitória sobre Jericó, os filhos
de Israel sofreram uma derrota em Ai (Js 7.2-5). Se dependermos de nós mesmos,
fracassaremos mais cedo ou mais tarde. Porém, poderemos vencer nossos inimigos
se confiarmos na Palavra de Deus. Não alimente a idéia de viver
descansadamente. Devemos tratar do mau gênio e do orgulho assim que eles
aparecerem. A luta da fé é inevitável, e o caminho da fé, inestimável. Cada
passo do caminho precisa ser alcançado com "a sola" da fé (veja
novamente Js 1.3).
Uma porta e um caminho: esses são os princípios da
vida espiritual. Antigamente, eu não tinha idéia do que significava "todas
as bênçãos espirituais em Cristo". Hoje, consigo compreender a expressão,
pois quer dizer passar através da crise. No entanto, depois de passar pela
porta da crise, preciso percorrer, passo a passo, o território que a Palavra de
Deus me mostrou. Tanto a porta quanto o caminho devem ser considerados. Sem
passar pela porta, ninguém consegue percorrer o caminho.
Contudo, do mesmo modo, se a porta é divisada, mas a
pessoa anda com muita lentidão, não pode progredir. Ela deve caminhar, passo a
passo, e aprisionar cidade a cidade com determinação. () inimigo jamais se
renderá sem lutar. Devemos travar a batalha espiritual.
Obediência
Quanto à questão da obediência, assim como com relação
à fé, também existem a porta e o caminho. Primeiro, entre pela porta da
obediência e, depois, percorra o caminho da obediência. Certa vez, algumas
irmãs me disseram que, para elas, era muito difícil praticar a obediência.
Outras irmãs, contaram elas, pareciam ser capazes de obedecer com facilidade,
mas, obedecer era algo semelhante a carregar os sofrimentos do mundo inteiro.
Respondi-lhes: "Se vocês nunca entraram pela porta da obediência, como
podem percorrer o caminho da obediência?" Deixe-me dizer que, se você
nunca abriu mão da própria vontade e entregou-se ao Senhor com determinação, se
nunca colocou de lado aquilo a que tinha mais apreço e negou o que mais
adorava, é inútil pensar em percorrer o caminho da obediência. Se uma pessoa
permanece do lado de fora da porta, é perda de tempo tentar persuadi-la a
obedecer ao Senhor. Em primeiro lugar, faça com que atravesse a porta e, então,
ajude-a a obedecer a Deus, um elemento após o outro, auxiliando-a no caminho da
obediência. Você já disse adeus ao passado? Você já tirou toda a dureza do
coração? Você já parou de procurar glorificar a si mesmo? A menos que tenha
tido uma experiência clara, não será capaz de percorrer o caminho da
obediência, pois ainda não atravessou a porta.
Quando perguntaram a Rebeca se ela desejava ir com o
servo de Abraão, ela respondeu: "Irei" (Gn '4.58). Então, deixou a
casa do pai e, após tê-la deixado, montou em um camelo e viajou pelo deserto.
Isso significa o caminho do sofrimento (o camelo representa o sofrimento na
passagem mencionada). Foi apenas assim que conseguiu ajudar Isaque e
agradar-lhe. Todos os cristãos devem dizer ao Senhor: "A partir de agora,
estou disposto a abrir mão de tudo, incluindo qualquer pessoa, acontecimento ou
coisa, em favor da Tua vontade." Se não for assim, quando Deus nos
ordenar, hoje, que abandonemos determinada coisa, responderemos que não
conseguimos, pois é muito doloroso. Amanhã, se Ele nos desafiasse com outro
assunto, poderíamos responder novamente: "Não. Não consigo, porque dói
muito." Pode parecer que Deus é muito severo para conosco. Por quê? Pois
nunca deixamos a casa de nosso pai. "Esquece o teu povo e a casa de teu
pai. Então, o Rei cobiçará a lua formosura" (Sl 45.10, 11). Na trajetória
da obediência, um cristão, assim como uma moça que está prestes a casar-se,
deve, primeiro, deixar a casa do pai c sair de sua proteção. Portanto, se já
tivéssemos tomado tal decisão antes, poderíamos ter conseguido percorrer o
caminho da obediência.
Com freqüência, digo que muitos cristãos nunca
sofreram, pois Deus nunca pediu que sofressem. Alguns cristãos sofrem, mas não
se alegram, pois não aprenderam. Devemos ser suficientemente felizes ao sofrer.
No caso de ainda ignorar o que Deus requer ou espera de você, se você não sabe
qual é a atitude de Deus para com você com relação a certos assuntos, você
ainda não entrou pela porta da obediência. Precisa haver um momento em que você
deve dizer a Deus com determinação: "Ó Deus, aqui estou, disposto a
abandonar minhas idéias, expectativas, ambições e meus planos. Eu os largarei
por amor a Ti." Se não for assim, Deus não lhe pedirá nada. Será que
Isaque poderia ter pedido a mão de uma mulher desconhecida se não houvesse o
plano divino para que ele casasse com Rebeca? Deus não irá pedir-lhe um centavo
sequer se você ainda não tiver se entregado a Ele com singeleza de coração.
Você pode ofertar para o bem de sua própria consciência, mas suas ofertas não
foram requeridas por Deus. Lembremo-nos de que, se pretendemos percorrer o
caminho da obediência, devemos atravessar a crise da consagração. Não faremos
nenhum progresso espiritual sem consagração[4]. É
fundamental sermos desarmados por Deus. Não devemos nem sequer imaginar percorrer
o caminho da obediência se nunca passamos pela porta da obediência. Quando
somos redimidos, não duvidamos de que pertencemos a Deus. Entretanto, a partir
do momento da nossa consagração, deveremos reconhecer que realmente pertencemos
a Ele.
Você ainda não se consagrou a Deus? Você obedece a
Deus porque Ele o tocou a respeito desse assunto? Está com medo da ordem
divina? Talvez, a questão do medo esteja relacionada ao que cada um espera que
Deus requeira. Qualquer coisa que você não ousa pensar ou tocar ou qualquer
coisa que você tende a evitar pode ser muito bem o assunto a respeito do qual
Deus falará com você. Muitas vezes, o Espírito Santo opera em você, mas você
não considera importante; ao contrário, tenta fugir. Você pensa em outras
coisas e fala sobre coisas diferentes. Você pode até ler a Bíblia a fim de
escapar da voz de Deus. Algumas pessoas fogem quando Deus as convoca para
pregar o Evangelho. Alguns são tocados
por Deus quanto à questão financeira ou ao relacionamento com outras pessoas ou
com os irmãos da igreja. Este toque divino, se admitido, é bastante doloroso
para a carne, mas é o toque mais abençoado que existe.
Não abrigue o pensamento de que Deus não enxerga os
recessos do coração, porquanto estamos despidos e completamente expostos diante
Dele. É melhor que Lhe digamos com determinação: "Ó Deus, a partir de
agora, pertenço ao Senhor Jesus. A partir de agora, o meu objetivo é o
Senhor Jesus. A partir de agora, nada desejo na terra além do Senhor
Jesus".
Quando o fizermos, deveremos passar pela crise da
obediência. Nenhum cristão normal deixa de passar por esta crise, e nenhum bom
servo de Deus deixa de atravessar essa porta.
Depois que você, de fato, tiver passado por esta porta
— ao consagrar-se e abrir mão de tudo —, será provado pelo Senhor. Você será
afligido até que Deus esteja convencido de que você realmente Lhe pertence, e
que você esteja convencido de que verdadeiramente pertence a Ele. Após Abraão
ter cruzado o rio e chegado a Canaã, ele foi provado por Deus diversas vezes
até, afinal, oferecer Isaque. O Senhor queria comprovar que Abraão realmente O
temia. O mesmo acontece conosco: após passar pela crise, podemos ter alguma
coisa além de Deus que ainda amamos e admiramos em secreto. Se Deus nos pedir
que neguemos a esta coisa, deveremos negá-la se formos fiéis. No caso de ainda
não termos fé suficiente, veremos a cruz e a contornaremos ela. Existem muitos
cristãos, nos dias de hoje, que contornam a cruz, o que apenas prolongará a
trajetória. Nosso caminho deverá ser bem mais curto se formos fiéis, mas será
bem mais longo se não formos, pois andaremos em círculo.
Minha tarefa foi mostrar a você que, em ambas as áreas
de "confiar" e "obedecer", a porta sempre vem em primeiro
lugar, e, depois, segue o caminho. Tanto a porta quanto o caminho devem ser
igualmente enfatizados. A porta precisa
ser atravessada primeiro a fim de que o percurso do caminho seja possível. Se
não for assim, tudo será em vão, pois todos os ensinamentos sobre fé e
obediência se tornarão impraticáveis.
Que Deus nos abençoe no dia de hoje, abrindo nossos
olhos a fim de que vejamos que nada é difícil demais para Ele, nenhum preço é
alto demais para Ele e nenhuma consagração é excessiva para Ele. Cremos em Deus
e, portanto, entramos pela porta da fé. Amamos o Senhor e, portanto, entramos
pela porta da obediência. Por Ele ser fiel, percorreremos o caminho da fé. Por
Ele nos amar, trilharemos o caminho da obediência. "Mas a vereda dos
justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito"
(Pv 4.18).
Capítulo 2
O OBJETIVO E O SUBJETIVO
Leitura:
'Porque Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que
Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna " (João 3.16).
'E Eu rogarei ao
Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre
convosco" (João 14. 16).
"Como não
pode o ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem
vós o podeis dar, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós, os ramos.
Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada
podeis fazer"(João 15.4b, 5).
"O Espírito
da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O conhece; vós O
conhecereis, porque Ele habita convosco e estará em vós" (João 14.17).
"Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em Mim tem a vida eterna" (João
6.47).
"Aquele,
porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a
água que Eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna" (João
4.14).
'Todavia, vos
escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro Nele e em vós, porque as
trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha" (1 João 2.8).
"Porquanto,para
mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Filipenses 1.21).
"Segundo
minha ardente expectativa e esperança de que em nada será envergonhado; antes,
com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu
corpo, quer pela vida, quer pela morte" (Filipenses 1.20).
"Mas vós
sois Dele, em Cristo Jesus, O Qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e
justiça, e santificação, e redenção" (1 Coríntios 1.30).
"Aos quais
Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os
gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória" (Colossenses 1.27).
Duas
Categorias de Verdade
As verdades encontradas tanto no Novo quanto no Antigo
Testamento podem ser agrupadas em duas categorias: subjetivas e objetivas. Para
melhor entendermos, explicarei, primeiro, o que significam os termos
"objetivo" e "subjetivo". Talvez, a analogia do convidado e
do proprietário da casa possa ser útil para essa compreensão. Olhar para alguma
coisa a partir do ponto de vista do convidado pode ser classificado como
objetivo. Olhar do ponto de vista do proprietário da casa pode ser classificado
como subjetivo. O objetivo é, para quem contempla, o que acontece na vida de
outra pessoa. O subjetivo é o que ocorre na própria vida da pessoa. Por
conseguinte, todas as verdades que não foram experimentadas na vida da própria
pessoa são consideradas verdades objetivas, e as verdades que a pessoa
experimentou são reconhecidas como subjetivas. Qualquer coisa que esteja do
lado de fora de alguém é objetivo para ele. No entanto, embora esteja do lado
de fora, não deixa de ser uma verdade. A Bíblia enfatiza igualmente ambos os
lados.
Podemos ilustrar esse assunto por meio dos seguintes
exemplos.
"Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito" (Jo 3.16).
"E Eu
rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador" (14.16).
Muitas pessoas conseguem recitar o primeiro versículo
de cor, mas não conseguem recitar o segundo. Na verdade, ambas as passagens são
igualmente valiosas. Deus nos concede dois presentes: em João 3.16, a Bíblia
diz que Ele nos deu o Filho e, em João 14.16, o Espírito Santo. Deus concede
Seu Filho aos pecadores e o Espírito Santo a todos os que acreditam em Seu
Filho. Deus dá
Seu Filho ao mundo a fim de que todos possam ser
salvos por Jesus e concede o Espírito Santo aos crentes a fim de que eles
tenham o poder para vencer. Todas as coisas realizadas no Filho são verdades
objetivas, e as efetuadas em mim, pelo Espírito Santo, verdades subjetivas.
Conseqüentemente, tudo o que é feito em Cristo é objetivo, ao passo que tudo o
que é feito em mim, pelo Espírito Santo, é subjetivo.
Quando Cristo morreu na cruz, eu morri com Ele - e
esse é outro fato objetivo. Entretanto, se eu me tocasse a fim de verificar se,
de fato, estava morto, certamente eu não me sentiria morto. Quando prego o
Evangelho para uma pessoa e digo-lhe que ela é uma pecadora, mas que Cristo
morreu por ela, será que esta pessoa consegue ver que, de fato, morreu com
Cristo? Não, pois todas as coisas em Cristo são objetivas para nós e exteriores
a nós. Porém, todas as obras do Espírito Santo são forjadas em nós, e,
portanto, são subjetivas em natureza. O Espírito Santo não faz nada dentro de
Si mesmo, mas dentro de nós. Logo, lembremo-nos de que qualquer coisa feita em
Cristo é objetiva, e qualquer coisa feita em nós é subjetiva.
Em João 15.4, 5, nosso Senhor menciona "permanece
em Mim" duas vezes. O que significa "permanece em Mim"
(expressão, é claro, que faz referência a existirmos "em Cristo")?
Nós nos recordamos de que tudo o que está em Cristo é
objetivo. Logo, o lado objetivo é mencionado primeiro, e, então, a experiência
subjetiva de "Eu nele [em você]". O "Eu nele [em você]" vem
depois do "permanece em Mim". A partir disso, podemos ver que todas
as experiências subjetivas são fundamentadas em fatos objetivos. Se existir
apenas a obra do Espírito Santo sem o trabalho de Cristo, ninguém poderá ser
salvo. Da mesma forma, ninguém será salvo se existir apenas o trabalho de
Cristo sem a obra do Espírito Santo. Assim como somos capazes de permanecer em
pé, com os dois pés firmes, e ver claramente com nossos olhos, e assim como os
pássaros podem voar à vontade com suas asas, precisamos permanecer em Cristo, e
Ele permanecerá em nós.
"Quem crê em Mim tem a vida eterna" (6.47).
Todos os que crêem no Senhor sabem disso. Contudo, quem pode alcançar a vida
eterna sem Ele? É uma questão de fé. Na verdade, quem crê tem a vida eterna. Há
outra passagem no Evangelho de João que diz o seguinte: "Aquele, porém,
que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água
que Eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna" (4.14). A
água que o Senhor dá é a água da vida. Trata-se de uma fonte que jorra de
dentro de você, e da qual você consegue provar a doçura. João 6.47 apresenta o
lado objetivo, que descreve sobre ter a vida eterna, enquanto João 4.14
apresenta o lado subjetivo, que relata acerca de provar a vida eterna
como a água que jorra.
Em 1 João
2.8, a Bíblia declara: "Aquilo que é verdadeiro Nele e em vós".
Algumas verdades são genuínas em Cristo, e outras o são em você. Ambas são
autênticas e precisam ser igualmente enfatizadas. De que forma o Senhor ensina
a respeito de produzir fruto? "Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá
muito fruto" (Jo 15.5). Em outras palavras, quando a verdade objetiva
mantém equilíbrio com a verdade subjetiva (e vice-versa), muitos frutos são
produzidos.
O mesmo equilíbrio é encontrado em João 14.17, que
diz: "O Espírito da Verdade (...) habita convosco e estará em vós".
"Habita convosco" é objetivo em natureza e se refere à presença de
Cristo com Seus discípulos por intermédio do Espírito Santo. "Em
vós", por outro lado, é subjetivo em natureza e alude à presença de Cristo
nos discípulos por meio do Espírito Santo. O que hoje é objetivo, estando no
exterior do crente, passará a ser subjetivo por meio da presença do Espírito
Santo.
Paulo declarou, por um lado, que "vós sois Dele,
em Cristo Jesus" (1 Co 1.30). Por outro lado, afirmou o seguinte:
"Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl 1.27). Nossa existência em
Cristo é algo objetivo, mas a existência de Cristo em nós é algo subjetivo.
Podemos descobrir centenas de passagens bíblicas
acerca da esfera objetiva e subjetiva da verdade. Quando tomamos posse de ambas
as esferas, podemos dizer que começamos a percorrer as trilhas da Palavra de
Deus. Um trem viaja em trilho duplo, e c perigoso que corra em um só trilho;
mas, em trilho duplo, pode correr com segurança. Da mesma forma, se prestarmos
atenção aos aspectos objetivo e subjetivo da verdade cristã, não correremos
perigo, mas seremos grandemente auxiliados. Não tenho a intenção de discutir
teologia, mas prefiro falar sobre a vida prática. Deixe-me relacionar alguns
dos maiores fatos realizados de modo objetivo em Cristo e as experiências
correspondentes produzidas em nós de maneira subjetiva por meio da obra do
Espírito Santo.
Fato
Um: Cristo Morreu na Cruz
O primeiro e principal é o fato de que Cristo morreu
na cruz pelos nossos pecados. Esse é o centro de todas as verdades objetivas
contidas na Bíblia. Ao lermos as Escrituras Sagradas, descobriremos, em todas
as partes, a forma como Cristo morreu, remiu nossos pecados e é nossa
propiciação. Lá, na cruz, Cristo sofreu nossos pecados em Seu corpo. A redenção
já foi efetuada, e isso é um fato hoje.
Uma vez que o Senhor Jesus levou o pecado do mundo inteiro,
por que nem todo o mundo é salvo?
Além do mais, por que alguns dos que creram e são
salvos não possuem a alegria da salvação? Por que ainda se preocupam com os
pecados que cometem? Tudo isso acontece, porque as pessoas enxergam apenas o
lado subjetivo. Como alguém pode ser salvo se enxerga somente pecados e
imundície em si mesmo? Devemos perceber que o que Cristo realizou está no lado
objetivo e não pode ser encontrado no subjetivo. Porquanto o que o Senhor fez,
Ele o fez no Calvário, e não em nós. Como podemos encontrá-lo em nós? Contudo,
no momento em que percebermos que Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados,
gritaremos "Aleluia! Ele sofreu os nossos pecados, e, portanto, podemos
ser salvos!" Sempre que a fé alcançar a verdade objetiva, o Espírito Santo
operará nas pessoas, dando-lhes a paz do perdão e a alegria da salvação. Jamais
conseguiremos encontrar tal consolo no lado subjetivo, pois não é este o
caminho de Deus. Deus, primeiro, dá Seu Filho aos homens e, depois, concede o
Espírito Santo. A dádiva do Espírito Santo vem depois da dádiva do Filho. Em
primeiro lugar, Cristo. Depois, o Espírito Santo. O Espírito Santo opera dentro
de nós tudo o que o Senhor operou fora de nós [na cruz].
A Epístola aos Hebreus nos diz que a fé é semelhante
"à âncora da alma, segura firme e penetra além do véu" (6.19).
Suponha que estejamos em um navio a vapor que possui uma âncora enorme.
Qual é a utilidade da âncora se permanecer dentro do
navio? Ela deve ser lançada na água a fim de estabilizar o navio. Não deve
permanecer no navio. Assim é a fé. A fé jamais acredita no que está em nós, mas
se lança sobre o Senhor Jesus. Ela é arremessada de nós para Cristo. Sempre que
a fé prende-se ao objetivo, impede rapidamente o subjetivo. Se a âncora
permanece no navio, não ajudará a estabilizá-lo. Se existem mais âncoras no
navio, será que elas ajudarão a firmá-lo? Deixe-me dizer-lhe que, se o navio
fosse carregado com sete âncoras ainda maiores, não se firmaria a menos que as
âncoras fossem jogadas na água. Quanto mais olhamos para nós mesmos, mais
decepcionados ficamos. Porém, se lançarmos a âncora da fé na cruz do Senhor
Jesus, teremos paz. Devemos sempre começar com o objetivo e, então, concluir
com o subjetivo. Por isso, há dois lados. Nunca seremos beneficiados se apenas
prestarmos atenção na presença do Espírito Santo sem, em primeiro lugar,
observarmos a obra consumada de Cristo na cruz. Nem teremos qualquer
experiência se olharmos exclusivamente para o que Cristo realizou na cruz sem
enxergar o que o Espírito Santo fará em nós. Outro caso será o assunto de nossa
crucificação com Cristo. Nós fomos crucificados? Não. "Sabendo isto: que
foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não sirvamos o pecado como escravos" (Rm 6.6).
Não fomos nós, mas nosso velho homem que foi
crucificado com Cristo no mesmo momento em que Ele o foi. Esse é um fato
objetivo. Seus olhos devem estar fixos no Senhor. Se você tentasse crucificar a
si mesmo, descobriria o quanto é perverso, e quão impossível é morrer para
você. O maior erro cometido pelos crentes está bem aqui: embora a Bíblia diga
que fui crucificado com Cristo, olho para mim e vejo que sou tão duro, corrupto
e indisciplinado como sempre fui. Ainda assim, tento crucificar a mim mesmo,
mas não consigo fazer-me morrer. É esse o ponto em que o erro começa: você
começa consigo próprio. Você deve ter em mente que todos os começos verdadeiros
acontecem em Cristo. Você não morre, porque se viu morto. Você apenas passou a
estar morto, porque morreu no mesmo instante em que Cristo morreu. A âncora
somente funciona quando é arremessada ao mar. A fé não opera enquanto não for
lançada em Cristo. Como você pode dizer que está morto para o mundo, quando
você olha e constata que não morreu para o mundo? Mantenhamos sempre em mente
que você e eu passamos a estar mortos com Cristo no momento em que Ele morreu
na cruz. Foi isso o que Ele fez. Objetivamente, Cristo morreu, e, por
conseguinte, você também morreu. "Porque, se viverdes segundo a carne,
caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do
corpo, certamente vivereis" (8.13). Este é o complemento perfeito de
Romanos 6.6, que relata acerca da co-crucificação com Cristo. Porém, em Romanos
8.13, a Bíblia fala em mortificarmos os feitos do corpo por meio do Espírito
Santo. A crucificação é o que terminou em Cristo; a mortificação, contudo, deve
ser realizada pelo Espírito Santo. Ser crucificado com Cristo é aquilo em que
cremos; algo objetivo. Posso gritar "Aleluia!", pois, quando Cristo
morreu, meu velho homem foi crucificado com Ele. Todavia, do lado subjetivo, se
me disponho, hoje, a obedecer, respondendo afirmativamente tão logo o Espírito
Santo me lembra de que determinada coisa já foi crucificada, estou morto de
fato para essa coisa. Amanhã, o Espírito Santo me dirá que outra coisa já foi
crucificada em mim, e, na verdade, será crucificada experimentalmente se eu
estiver disposto a permitir. ( ) Santo Espírito de Deus me diz que meu
nervosismo foi crucificado, e, portanto, não preciso perder o controle — se eu
disser: "Não estou disposto a perder o controle", o Espírito
Santo me dará forças para eu não me descontrolar.
O Espírito Santo diz que meu orgulho já foi
crucificado, e, por isso, não tenho mais obrigação de ser orgulhoso — se eu
disser: "Estou disposto a deixar de ser orgulhoso", receberei poder
do Espírito Santo para deixar de ser. A medida que me disponho a obedecer a uma
coisa e, depois, a outra, o Espírito Santo opera a salvação de Deus em mim,
agindo em uma de cada vez. No caso de eu tentar suprimir meu nervosismo pelo
esforço próprio, não conseguirei obter
sucesso ainda que me empenhe ao máximo. Quando passo a olhar, primeiro, para o
que Cristo fez ao morrer, descubro que o Espírito Santo está aplicando em mim a
mesma morte.
Durante os dois primeiros séculos da Era Cristã, os
crentes se cumprimentavam de uma das duas formas: ou dizendo: "O Senhor
está voltando" ou: "Em Cristo". Que doce e precioso é estar em
Cristo! O Espírito Santo, que habita em você, mortificará os feitos do seu
corpo. Hoje em dia, os cristãos enfatizam demais as verdades objetivas ou as
subjetivas. A ênfase exacerbada ao lado subjetivo resultará em opressão, o que
é tão fútil quanto ter uma âncora no navio e não lançá-la ao mar. Entretanto, também
será igualmente insignificante se alguém permanecer negligente em seu caminho
espiritual, pois reconhece que Cristo já morreu. De fato, Cristo morreu na
cruz, mas qualquer pessoa acabará perecendo se não crer — se não lançar a
âncora da fé em Cristo. Se alguém está disposto a crer na morte de Cristo na
cruz, será salvo. De forma semelhante, o Espírito Santo lhe diz que seu
nervosismo, orgulho, ciúme e sua luxúria foram crucificados, e, se você estiver
disposto a aceitar esse fato, receberá poder espiritual para vencer todas as
coisas. Cabe a você acreditar na verdade objetiva, e ao Espírito Santo,
traduzir o que é objetivo para sua experiência subjetiva. Você acredita na
verdade que existe do lado de fora, e o Espírito Santo fará com que ela opere
dentro de você. Você crê na obra consumada do Calvário, e o Espírito Santo fará
com que ela se torne real em você.
Fato
Dois: Ressuscitamos com Ele
Não se trata apenas da verdade da co-morte conjunta,
mas da verdade da co-ressurreição. "E, juntamente com Ele [Cristo], nos
ressuscitou" (Ef 2.6). Como fomos ressuscitados? Ressuscitamos com Cristo.
Mais uma vez, note que é Cristo. Novamente, percebemos um fato objetivo.
"Nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus
Cristo dentre os mortos" (1 Pe 1.3). Em outras palavras, quando uma pessoa
nasce de novo, ela ressuscita com Cristo no mesmo instante. Todo cristão
nascido de novo ressuscitou com Cristo, e vice-versa — ressuscitou com Cristo,
pois foi Ele quem ressuscitou.
O que significa ressurreição? O Senhor Jesus havia
morrido. Seu corpo estava lá, mas todo o Seu sangue havia se esvaído. Havia
numerosas feridas em Sua cabeça (em virtude de Ele ter usado a coroa de
espinhos), marcas dos cravos em Suas mãos e Seus pés e uma ferida de lança em
Seu lado. O poder da morte havia-se apoderado do corpo de Jesus. Contudo
(repare no inusitado!), a vida de Deus entrou naquele corpo, e, hoje, Cristo
vive! Esta vida, assim que penetra em Jesus Cristo, vence todos os poderes da
morte e ressuscita Seu corpo. Na morte, Seus
olhos não podiam enxergar, Seus ouvidos não podiam ouvir, e Suas mãos e Seus
pés não podiam mover-se. Hoje, Ele pode. A morte, na Bíblia, significa ser
absolutamente impotente e fraco. A morte é uma incapacidade espiritual e uma
impossibilidade espiritual. Anteriormente, o corpo de Jesus tinha sido
envolvido com lençóis aromáticos. Então, o que aconteceu em Sua ressurreição? A
ressurreição de nosso Senhor Jesus foi diferente da de Lázaro. No caso de
Lázaro, quando ele saiu da sepultura, suas mãos e seus pés estavam atados com a
mortalha, e o rosto, coberto com um lenço. Ele precisou que as pessoas o
desamarrassem. Todavia, na ressurreição de nosso Senhor, a Bíblia relata:
"Os lençóis, o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não
estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte" (Jo 20.6b, 7). Ele
não precisou que desenrolassem ou cortassem os lençóis e o lenço. Quando a vida
poderosa de Deus fluiu em Jesus, tanto o cativeiro legítimo quanto o ilegítimo
perderam o poder. Outrora, Seu corpo era um cadáver; hoje, porém, está vivo e
ativo. Assim é a ressurreição de nosso Senhor Jesus.
Lembro-me de que, quando comecei a servir ao Senhor,
orei para que Deus me ressuscitasse com Ele. Pensei, na época, que, se o Senhor
me ressuscitasse com Ele, eu teria o poder para fazer a vontade de Deus. Eu
errei ao orar daquela forma, pois, mais uma
vez, comecei por mim mesmo. A Bíblia diz que ressuscitei com Cristo — esse é um
fato consumado. Lembre-se de que, quanto mais nos voltamos para nós mesmos,
piores nos tornamos. Entenda, por favor, que não quero dizer que não devemos
ter experiências subjetivas, mas que simplesmente devemos crer, em primeiro
lugar, na verdade objetiva. Agora, posso dizer: "Senhor, agradeço-te por
já teres ressuscitado, e por eu ter ressuscitado Contigo." Primeiro, temos
de acreditar no fato de que ressuscitamos dos mortos. Todavia, como
ressuscitamos? Ressuscitamos, porque nos sentimos ressuscitados? Não! Foi
Cristo quem nos ressuscitou.
Podemos perguntar o mesmo a respeito da salvação.
Quando éramos ainda pecadores, não escutamos o Evangelho dizer que o Senhor
Jesus já havia morrido por nós, e que Seu sangue já tinha sido derramado pela
remissão de nossos pecados? Cremos, e, por isso, somos salvos. Não olhamos para
nosso lado a fim de vermos se somos bons o bastante, mas olhamos para o outro
lado, para onde o Senhor consumou a redenção na cruz. Ao tomarmos posse deste
fato, recebemos paz.
Se olhássemos tão-somente para o lado subjetivo da
verdade e não aplicássemos o lado objetivo de igual maneira, não seríamos
capazes de "voar", pois teríamos apenas "uma asa". Devemos
olhar para uma metade, em vez de fazer vistas grossas para a outra. Efésios 2.6
declara que Deus "nos ressuscitou juntamente com Ele [Cristo]", ao
passo que Efésios 1.19, 20 diz: "E qual a suprema grandeza do Seu poder
para com os que cremos, segundo a eficácia da força do Seu poder; o qual
exerceu Ele em Cristo, ressuscitando-O". Embora os crentes de Éfeso já
soubessem que haviam ressuscitado com Cristo dentre os mortos, foram
incentivados, pelo apóstolo Paulo, a conhecer a suprema grandeza do poder
manifesto de Deus. Em outras palavras, embora admitamos a ressurreição,
precisamos também do poder da ressurreição. No aspecto objetivo, já existe
ressurreição, mas, no aspecto subjetivo, ainda há necessidade de sujeitar-se ao
poder da ressurreição. Ninguém deve dizer que, em virtude de seu nervosismo ter
sido crucificado, ele já perdeu o mau gênio. No lado objetivo, seu nervosismo
foi crucificado de fato, mas, no lado subjetivo, ele deve mortificar seu
nervosismo pelo poder do Espírito Santo. Tendo a verdade objetiva, deve suceder
também a experiência subjetiva. Acontece uma situação infeliz hoje em dia, ou
seja, as pessoas não acreditam na verdade objetiva por mais que tentem viver a
experiência subjetiva, ou acreditam na verdade objetiva, mas ignoram por
completo a experiência subjetiva. De acordo com a Palavra de Deus, entretanto,
as pessoas não podem ser salvas sem fé e jamais serão libertas sem obediência.
A fé diz respeito à obra consumada de Cristo, e a obediência, ao Espírito Santo. Estes dois elementos -
fé e obediência — são essenciais.
"Para O
conhecer, e o poder da Sua ressurreição" (Fp 3.10). Paulo declarou que a única razão pela qual
considerava todas as coisas como perda era conhecer o poder da ressurreição.
Ele não disse conhecer a ressurreição, pois a ressurreição foi conhecida no
momento em que creu no Senhor. Particularmente, no lado subjetivo, ele sabia
que devia abrir mão de todas as coisas antes que pudesse conhecer o poder da
ressurreição de Cristo.
Fato
Três: Assunto aos Céus
A ascensão é a última verdade objetiva consumada
concernente a Cristo mencionada no Novo Testamento. O nascimento, o sofrimento,
a ressurreição c a ascensão de nosso Senhor são, juntas, as maiores de todas as
verdades. Com relação ao assunto final da ascensão, empreguei muitas horas,
assim que aceitei o Senhor, tentando imaginar como seria uma bênção se eu
pudesse sentar nos lugares celestiais todos os dias e ter os pecados debaixo
dos meus pés. No entanto, como voar em um avião, eu não poderia suportar muito
tempo lá em cima. Logo, cairia. Orei e orei, esperando que, um dia, eu pudesse
sentar, em segurança, nos lugares celestiais e quebrar meu velho recorde de
ascensão. Certo dia, quando lia Efésios 2.6 (que diz: "E, juntamente com Ele, nos ressuscitou, e nos
fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus"), comecei a entender.
No momento em que um cristão ressuscita com Cristo, ele também se assenta nos
lugares celestiais com Cristo. Ele não se senta com Cristo em virtude de sua
diligência ou por causa de sua oração, mas pelo fato de ter sido levado aos
lugares celestiais no instante em que o próprio Cristo ascendeu aos céus.
Cristo está nos lugares celestiais, e, por conseguinte, eu também estou nos
lugares celestiais.
Todavia, preciso permitir que o valor de Sua ascensão
seja manifesto por meu intermédio, pois, por outro lado, a Bíblia diz também:
"Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as cousas
lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas cousas lá
do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está
oculta juntamente com Cristo" (Cl 3.1-3). Este é o lado subjetivo da
questão. "Sua vida está oculta com Cristo em Deus" — assim é a
ascensão. Uma vez que você morreu, ressuscitou e ascendeu, deve buscar as
coisas do alto e pensar nestas coisas todos os dias. Suponha que um pecador,
por exemplo, escute dizer que Jesus Cristo morreu por seus pecados. Ele não
deve pensar que pode continuar pecando já que Jesus morreu por seus pecados.
Apesar de termos a posição de ascensão, não tiraremos proveito dela se
colocarmos nossa mente em coisas menos importantes. Apenas no momento em que
crermos que, quando Cristo ascendeu, ascendemos também e colocarmos a mente nas
coisas do alto, estaremos verdadeiramente nos lugares celestiais tanto objetiva
quanto subjetivamente.
Dando
Frutos
Termos o fato objetivo sem haver a correspondente
experiência subjetiva faz com que nos aproximemos do reino do idealismo sem
obter qualquer favor do céu. No lado objetivo, Cristo fez todas as coisas e,
portanto, merece que confiemos Nele de todo o coração. No lado subjetivo, o
Espírito Santo fará a obra, e Ele deve ser obedecido por completo. Todas as
experiências espirituais começam quando cremos no que Cristo consumou e
terminam quando obedecemos ao que o Espírito Santo nos ordena fazer. O que
Cristo realizou nos dá a posição, e o que o Espírito ordena faz com que
experimentemos. O que Cristo consumou é fato que deve ser recebido, e o que o
Espírito Santo nos dirige é princípio que requer obediência. Todas as
experiências espirituais começam pelo objetivo, e não existe exceção à regra. A
âncora da fé precisa ser lançada sobre a morte, a ressurreição e a ascensão de
Cristo.
"Permanecei
em Mim, e Eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si
mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não
permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em Mim, e
Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer" (Jo 15.4,
5). A ordem é muito importante neste
versículo. Primeiro, "em Mim" - o "Mim" é Cristo. Em
primeiro lugar, permaneça em Cristo. Isso é objetivo. Depois, "Eu nele"
— ou seja, Cristo permanece em você e em mim. Isso é subjetivo. Com o objetivo,
surge o subjetivo. Finalmente, vem a promessa de dar muito fruto. A medida que
cremos no fato objetivo, encontramo-lo sendo incorporado a nós. Por fim, o
objetivo mais o subjetivo resultarão em produção de frutos. Ter apenas o
objetivo ou apenas o subjetivo não produzirá frutos. A combinação de ambos
produz os frutos.
No cenáculo de Jerusalém, depois da ascensão de
Cristo, havia homens e mulheres reunidos para orar. Em tipologia, podemos dizer
que os homens representam, no caso, a verdade objetiva, enquanto as mulheres, a
verdade subjetiva. A presença de homens indica a presença da verdade objetiva,
o que significa que a verdade está presente. A presença das mulheres indica a
presença da verdade subjetiva, o que significa que a experiência está presente.
O resultado de ambos foi que três mil e, depois, cinco mil almas foram
acrescentadas à igreja (At 2.41; 4.4). Foi assim que a igreja começou. No tempo
da segunda vinda do Senhor, haverá, de um lado, o Cordeiro de Deus - o elemento
objetivo — e, do outro, a Noiva do Cordeiro — o elemento subjetivo, que, por
meio da !',raça divina, será vestida de linho finíssimo, resplandecente e puro,
porque o linho finíssimo representa os atos de justiça dos santos (Ap 19.8). Se
um cristão vive ou não para agradar ao Senhor, depende do equilíbrio que mantém
entre os dois aspectos: o objetivo e o subjetivo. Atualmente, na Igreja, alguns
se especializam em ministrar sobre a verdade subjetiva (assim como os do
Movimento de Santidade). Nesse caso, falando com base na tipologia, você só tem
as mulheres. Outras pessoas, entretanto, apenas se interessam em defender a
verdade objetiva (assim como os Irmãos Unidos). Nesse caso, você só tem os
homens. Ambos sofrem perdas. Enfatizar apenas o subjetivo não produzirá a
experiência correta, mas trará muito sofrimento desnecessário. Por outro lado,
enfatizar só o objetivo não produzirá a experiência correspondente, mas
resultará em decepção. Por isso, a atenção desequilibrada dedicada a um dos
dois não é o caminho de Deus. De acordo com o princípio da Bíblia, a ordem é:
primeiro o objetivo e, depois, o subjetivo. Primeiro, a realidade de Cristo;
depois, a direção do Espírito Santo. O resultado é a produção de muitos frutos.
Que Deus nos capacite a saber como obedecer-Lhe e servir-Lhe mais em Seu
caminho.
Capítulo 3
QUERER E REALIZAR
Leitura:
"Assim,
pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém,
muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar,
segundo a Sua boa vontade. Fazei tudo sem murmurações nem contendas; para que
vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de
uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no
mundo; preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie
de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente. Entretanto, mesmo que
seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé,
alegro-me e, com todos vós, me congratulo. Assim, vós também, pela mesma razão,
alegrai-vos e congratulai-vos comigo" (Filipenses 2.12-18).
Todos sabemos que a Epístola aos Filipenses foi
escrita por Paulo em uma prisão romana. Nessa prisão, o apóstolo não se limitou
a escrever apenas esta epístola, mas escreveu a Epístola aos Efésios e a aos
Colossenses. Cada uma destas cartas tem sua própria ênfase: Efésios fala sobre
a Igreja como sendo o Corpo de Cristo; Colossenses fala sobre o que Cristo é
para a Igreja. Porém, a destinada aos filipenses não trata de doutrinas
profundas como as encontradas nas duas outras, mas compartilha, dentre outras
coisas, algumas palavras pessoais de Paulo a respeito de colocar fim a uma
contenda entre duas irmãs da igreja em Filipos: "Rogo a Evódia e rogo a
Síntique pensem concordemente, no Senhor" (4.2). Estas duas servas tiveram problemas entre si, e, por
isso, Paulo lhes fez uma exortação especial.
A Epístola aos Filipenses concede atenção particular à
humildade, à paz e ao amor mútuo. Pode-se dizer que esta epístola é uma espécie
de comentário acerca do capítulo 13 de 1 Coríntios. No segundo capítulo, Paulo
admoesta os crentes de Filipos a terem humildade e a considerar os outros
superiores a si mesmos, não tendo em vista o que é propriamente seu, mas o que
é dos outros. Após essas admoestações, o apóstolo apresentou o exemplo do
Senhor Jesus e a maneira como Ele se esvaziou, assumindo a forma de servo e
tornando-se semelhante aos homens, e como se humilhou, tornando-se obediente
até a morte — e morte na cruz. Ele lhes disse que deveriam ter a mesma mente de
Cristo. Entretanto, diante dessa palavra, surge um problema de imediato. Embora
o coração esteja desejoso, o poder de obedecer está ausente. Ouvir é uma coisa,
mas praticar é outra. À medida que o apóstolo Paulo falava acerca de como o
Senhor se esvaziou e se humilhou — tornando-se obediente ate a morte (e morte
na cruz) —, as duas irmãs contenciosas poderiam estar pensando: "Como será
possível chegarmos a uma posição tão nobre e elevada?" Por essa razão,
Paulo continuou a escrever mais coisas nos versículos 12 a 18 com o intuito de
apresentar-lhes a forma como isso poderia ser realizado.
"Assim,
pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém,
Muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor" (v. 12). "Assim,
pois" indica continuidade de raciocínio. "Amados meus" é um
título que Paulo utiliza sempre que vai mencionar algo de vital importância.
"Como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais
agora, na minha ausência." Qual é o significado dessas palavras? Paulo
quer dizer que, anteriormente, quando pregou o Evangelho no meio dos crentes de
Filipos, eles sempre haviam sido obedientes ao apóstolo. Agora, que existia um
problema, eles deveriam ser ainda mais obedientes: "Vocês eram obedientes a mim não somente quando
eu pregava o Evangelho no meio de vocês, e não somente quando eu era um exemplo
enquanto estava com vocês, e não somente quando estavam em constante contato
comigo. Mas, agora, vocês devem ser obedientes a mim." Logo, essas
palavras incluem três elementos: (1) vocês me obedeciam quando eu estava com
vocês, porque vocês estavam em contato comigo, (2) vocês deveriam ser até mais
obedientes em minha ausência, pois eu os comprometi inteiramente com Deus, e
(3) vocês devem obedecer e realizar algo agora, ou seja, desenvolver a salvação
individual com temor e tremor.
"Desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor." Leiamos esta passagem várias vezes. O "temor" deve
estar voltado para Deus, enquanto o "tremor", para si mesmo. Por um
lado, devemos temer a Deus e, por outro, devemos tremer em relação a nós
mesmos. Deus é muito digno, e, por isso, devemos temê-Lo. A tentação é muito
severa, e, por isso, temos de tremer por nós mesmos. Contudo, como a obra de
salvação será desenvolvida? Agradecemos a Deus, pois Ele tem um modo para que a
desenvolvamos.
A Bíblia divide o assunto da salvação em três
períodos. O primeiro período é o passado, no qual Deus nos salvou do castigo do
pecado, que é a morte. O segundo período é o presente, no qual Deus está-nos
salvando do poder do pecado. O terceiro período é o futuro, no qual Deus nos
salvará da presença do pecado, e entraremos no Reino a fim de reinar com
Cristo. Deixe-me ilustrar cada um destes períodos com um versículo pertinente:
(1) "Que [Deus] nos salvou e nos chamou" (2 Tm
1.9). Essa é a experiência passada que teve todo aquele que crê.
(2) "Por isso, também [Cristo] pode salvar totalmente
os que por Ele se chegam a Deus" (Hb 7.25). Essa é a salvação presente que
podemos obter hoje.
(3) "Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez
para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado,
aos que O aguardam para a salvação'' (Hb 9.28). Essa é a salvação futura e
completa.
Portanto, é evidente que a Escritura Sagrada
re-fere-se aos três períodos da salvação. Todos os cristãos podem ter a salvação
passada, mas é possível que não tenham a salvação presente e a futura. Alguns
podem ter a salvação passada e a presente e estar à procura da salvação futura.
Uma pessoa pode ser salva do castigo do inferno mesmo que ainda peque com
freqüência. Uma pessoa pode ser salva do castigo do inferno, mas pode ser que
não reine no futuro.
Citarei três outras passagens para provar a validade
dos três períodos da salvação.
(1) "Porque pela graça sois salvos" (Ef 2.8).
Esta passagem se refere à salvação passada.
(2) "Porque, se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela Sua vida" (Rm 5.10). Esta passagem diz
respeito à forma como somos salvos, hoje, pela vida do Senhor.
(3) "Porque, na esperança, fomos salvos" (Rm
8.24). Esta passagem indica a salvação futura.
Agradecemos e louvamos ao Senhor, pois fomos salvos!
Todavia, existem dois períodos da salvação que ainda faltam ser experimentados.
Portanto, devemos prosseguir com fervor. Para as pessoas que ainda não foram
salvas, devemos dizer que creiam que podem ser remidas do castigo do inferno.
Mas, para nós, que fomos libertos do inferno, precisamos ser salvos do poder do
pecado e procurar a glória do Reino vindouro. Desenvolvamos, assim, nossa
salvação com temor e tremor.
Dwight L. Moody foi um evangelista poderoso, o mais
sábio na atividade de salvar almas. Certa vez, ele disse que, em sua vida,
nunca havia visto uma pessoa preguiçosa ser redimida! Logo, parece que, se uma
pessoa é preguiçosa, não pode ser nem sequer liberta do castigo do inferno.
"Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te
iluminará" (Ef 5.14).
Há pouco, mencionei que não precisaríamos fazer nada
para ganhar a salvação do castigo do inferno. Se tentássemos fazer esforços
para obtê-la, disse eu, seria quase agonizante. Precisamos, apenas, render-nos
e crer, afirmei, pois Cristo já fez todas as coisas por nós. Tudo isso é
realmente verdade. Entretanto, trata-se de metade da verdade.
A outra metade é que devemos desenvolver nossa
salvação com temor e tremor, e isso é algo pelo qual devemos ter
responsabilidade. Se não formos responsáveis pela própria salvação, acabaremos
desequilibrados na vida cristã. Cristo, de fato, morreu por nós, derramou Seu
sangue por nós, ressuscitou e ascendeu por nós. Mesmo assim, algumas pessoas
deduzem, a partir disso tudo, que, sendo esse o caso, não temos nada a fazer
senão adorar o Senhor. Logo, elas se tornam completamente passivas e entendem
que não é preciso orar, ler a Bíblia e consagrar-se. Contudo, todos devem saber
que, uma vez que Deus já fez tudo por nós, necessitamos ser ainda mais zelosos.
Em virtude de Deus já ler feito a obra, devemos desenvolvê-la. Como somos
capazes de desenvolvê-la? O versículo seguinte de Filipenses 2 nos responderá.
"Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a Sua boa vontade" (v. 13). Filipenses 2.12 e
2.13 mostram-nos os dois lados da única verdade gloriosa. Considerando o verso
12, parece que nós precisamos fazer tudo, mas, ao lermos o versículo 13, parece
que Deus faz todas as coisas. Um diz que devemos desenvolver, e o outro diz que
Deus efetuará. Ambos os versos não são contraditórios, mas complementares,
pois, embora o versículo 12 diga, de fato, que devemos desenvolver, o versículo
13 nos diz que Deus nos capacita a fazer o que devemos.
Os dois versículos percorrem um longo caminho para
explicar-nos um fato muito importante concernente aos dois lados da verdade nas
Escrituras. Vemos, na Bíblia, o único lado dos muitos mandamentos solenes que
Deus nos ordena. É como se apenas enxergássemos o lado difícil das ordenanças.
Parece que Deus coloca um fardo pesado sobre nossas costas. Sem termos a força
necessária para carregá-lo, estamos quase espremidos debaixo do fardo. Porém,
também vemos, na Palavra de Deus, o outro lado das muitas promessas do Senhor:
como Ele faz todas as coisas, como todas as coisas são pela graça e como tudo
provém de Seu trabalho — parece desnecessário fazer algo. Agora, os indivíduos
que não percebem e compreendem estes dois lados da verdade acabam, sem dúvida,
pendendo para um deles. Um grupo de pessoas pensará que, se são mandamentos de
Deus, elas devem cumpri-los por conta própria. Conseqüentemente, consideram as
ordenanças divinas como fardos pesados que devem, mas não conseguem carregar. É
muito provável que sejam completamente esmagadas. Outro grupo de pessoas
julgará que todas as coisas foram feitas pela graça e obra divinas e, por isso,
não terão o menor senso de responsabilidade. Assim, como resultado, elas se
tornarão distanciadas do caminho cristão. Estar em desequilíbrio — sem importar
para que lado penda — é perigoso e fará com que a pessoa deixe de guardar os
mandamentos de Deus e não alcance as promessas divinas, pois a verdade de Deus
é equilibrada e enfatiza os dois lados da mesma maneira. Deus efetua, e nós
desenvolvemos. Se apenas permitirmos que Deus opere Sua salvação em nós e
recusarmos desenvolvê-la, nada conseguiremos. Por outro lado, se tentarmos
desenvolver a salvação sem Deus tê-la efetuado em nós primeiro, nada
alcançaremos também. Todas as questões humanas estão resumidas na sentença
"querer e realizar". "Querer" é a decisão interior,
enquanto "realizar" é a ação exterior. Tudo o que é decidido
interiormente é realizado exteriormente. Assim sendo, o querer indica a
condição do nosso coração, e o realizar se refere ao nosso viver exterior.
Contudo, quer desejemos interiormente ou realizemos
exteriormente, é Deus quem trabalha em nós até realizarmos Sua boa vontade.
Todas as decisões que tomamos provêm do trabalho de Deus, e todas as ações que
realizamos dependem do trabalhar de Deus.
Quão freqüentemente pretendemos obedecer a Deus ainda
que não consigamos. Porém, diz o Senhor: "Eu opero em você, e, assim, você
consegue obedecer." Muitos cristãos se sentem infelizes, pois não
conseguem fazer muitas coisas. Com freqüência, dizemos a Deus: "É tão
difícil obedecer-Te. Não consigo. Para mim, é impossível deixar de amar o
mundo. É difícil também deixar de odiar determinada pessoa." No entanto,
Deus não quer que você sofra e, por isso, opera em você a fim de permitir que
você obedeça à Sua vontade. Por essa razão, você deveria dizer ao Senhor:
"Ainda que eu não consiga obedecer, abrir mão do mundo e amar as pessoas,
peço-Te que opere em mim de forma que eu possa desejar obedecer-Te, deixar o
mundo e amar as pessoas." Se você orar com fé, será transformado. O que
você foi incapaz de vencer nos últimos três ou quatro anos será vencido quando
você tão-somente crer e comprometer-se.
Quando Robert Chapman[5]
começou a servir o Senhor, sua platéia aumentava progressivamente.
Um desse dia, ele descobriu como realmente amar a
esposa e filhos no Senhor, e, então, Robert Chapman veio a ser poderoso na obra
de Deus. Certa vez, pediram que testemunhasse, e ele falou as seguintes
palavras: "Se existe algum dom em mim, sei de onde vem: da
obediência."
Deus operará em nós até sermos capazes de agir. Por
exemplo, o homem ferido pelos ladrões quando se dirigia a Jericó foi colocado,
pelo samaritano, no animal que este montava e levado a uma hospedaria.
Desejamos caminhar, mas não temos forças, pois fomos feridos pelo pecado. Nunca
conseguiremos ter a força necessária para caminhar por conta própria.
Entretanto, Deus opera em nós, realmente capacitando-nos para querer
desenvolver e para desenvolver nossa própria salvação. Qualquer coisa que
cumprir a boa vontade de Deus é resultado da obra do Senhor em nós — tanto no
querer quanto no realizar. Seria bom que nos lembrássemos disso.
D. M. Panton[6],
da Inglaterra, tinha as seguintes palavras a dizer: "Porque Deus vive em
mim, posso fazer todas as coisas que o próprio Deus é capaz de fazer." Uma
senhora morreu, e, na lápide, estavam inscritas as palavras que ela própria
costumava dizer: "Ela fez o que não era capaz de fazer!"
Diariamente, vivemos tempos difíceis de vencer. Para
obtermos a perfeita salvação e vivermos uma vida pura, é preciso existir o
trabalho de Deus. Muitos tentam imitar Cristo, mas nunca conseguirão, porque,
em primeiro lugar, é Deus quem faz, e, só então, eu posso fazer. Apodero-me do
fato de que Ele trabalha em mim. Não sou eu quem trabalha, mas apenas ajo, pois
Deus está agindo primeiro. Se eu tentar desenvolver as grandes ordens da Bíblia
sozinho, estarei destinado ao fracasso. Tudo o que devo fazer é pedir que Deus
opere em mim até que eu deseje.
O mesmo Sr. Panton mencionado anteriormente contou a
seguinte história. Certa vez, um médico enviou uma enfermeira para pedir que
certo paciente fizesse determinada coisa. A enfermeira disse ao paciente o que
o doutor havia ordenado, mas o paciente replicou, dizendo que não poderia
fazê-lo. A enfermeira foi até o médico e contou-lhe o ocorrido. Assim, o
próprio médico foi examinar o homem a fim de descobrir por que ele não poderia
fazer o determinado. O doutor descobriu que o problema não estava no paciente
conseguir ou não cumprir a ordem, mas em querer ou não. Se em nosso interior
não desejarmos, não conseguiremos realizar com eficácia. Se, interiormente, não
desejamos abandonar o mundo, não conseguiremos deixá-lo exteriormente. No
entanto, Deus é capaz de operar [em nós] tanto o querer quanto o realizar Sua
boa vontade. Em virtude de Deus ter operado, podemos realizar. Uma vez que Ele
já operou em nós, devemos realizar o que foi operado. Assim, vamos enfatizar,
agora, a questão de como podemos desenvolver a salvação divina. Não se trata de
esperar ou orar, mas de desenvolvê-la imediatamente. Todos os que creram no
Senhor, têm Jesus Cristo dentro deles. "Ou não reconheceis que Jesus
Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados" (2 Co 13.5).
Existem dois erros comuns na mentalidade de muitos
cristãos. Um diz que devo fazer o bem, esperar ser bom e viver uma vida
espiritual. O segundo diz que, se já fui salvo, não preciso levantar um dedo
para orar, ler a Palavra de Deus ou consagrar-me -pois Cristo me tornará
zeloso. O primeiro erro está em tentar fazer o bem dependendo de si próprio. O
segundo está na atitude de não buscar com fervor. O fato é que, se uma pessoa
não é diligente depois de ser salva do castigo do inferno, ela não terá uma
vida espiritual, e, então, não será bem-sucedida se não crer em Deus e depender
Dele. A pessoa deve crer que Deus é quem opera nela tanto o querer quanto o
realizar a fim de que ela consiga orar, ler a Bíblia e testemunhar. Crer vem em
primeiro lugar, e, depois, vem o realizar. O Reino do céu deve ser alcançado
pelo esforço, e os que se esforçam se apoderam dele (Mt 11.12). Dia a dia,
devemos desenvolver, com diligência, nossa própria salvação, o que não é
impossível, pois Deus já operou em nós. Uma vez que a obtivemos, estaremos
certamente capacitados. Deixe-me apresentar uma ilustração.
"Acautelai-vos", disse o Senhor aos Seus
discípulos. "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se
arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete
vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe" (Lc 17.3,
4). Assim que Jesus terminou de pronunciar essas palavras, os discípulos
clamaram: "Aumenta-nos a fé" (v. 6). Eles sabiam que, com relação a
esse assunto em particular, não conseguiriam jamais praticá-lo. Perdoar uma,
duas ou três vezes era algo que eles, provavelmente, tinham capacidade de
realizar. Porém, perdoar sete vezes por dia era simplesmente demais.
Quem poderia ser tão paciente perante tamanha
provocação? Logo, pediram que o Senhor aumentasse a fé que cada um possuía. O
que Jesus lhes disse? "Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um
grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e
ela vos obedecerá" (v. 6). Que ligação tem a palavra acima proferida pelo
Senhor com o ato de perdoar? Devido a você ter fé em seu interior, pode dizer
ao seu coração de ódio: "Ódio, ordeno que saia de mim." Tendo esse
tipo de fé, você certamente conseguirá perdoar às pessoas quando elas lhe
pedirem perdão. Crendo que Deus já o fez, também somos capazes de fazê-lo. A fé
não deve estar presente apenas no perdão,
mas na oração, na leitura da Palavra de Deus e em não amar o mundo. Você é
capaz, pois crê que Deus o faz capaz.
"Fazei tudo sem murmurações nem contendas"
(Fp 2.14). O apóstolo já lhes havia dito que Deus é quem opera neles tanto o
querer quanto o realizar. O resultado de tal trabalho é bastante evidente:
haverá paz em vez de nervosismo ou atrito. Não haverá contendas, pois não
existirão dúvidas. Não haverá murmurações, pois existirão fé e amor. O
versículo 13 fala da vida de Deus operando em mim, e o versículo 14 relata a
respeito da harmonia perfeita que pode resultar. Essa manifestação não é
encontrada apenas em Filipenses, mas também em Efésios e Colossenses. Depois de
Efésios 3.19 falar sobre como "ser tomado de toda a plenitude de
Deus" (sendo os versículos 20 e 21 as palavras de uma doxologia[7]),
os versos 2 e 3 do capítulo 4 insistem, logo depois, em "toda a humildade
e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da
paz". À medida que o poder de Deus opera no interior, a paz e a harmonia
passam a ser vistas em meio aos crentes.
"Sendo
fortalecidos com todo o poder, segundo a força da Sua glória, em toda a
perseverança e longanimidade, com alegria" (Cl 1.11).
A força da glória de Deus é o que há de maior no poder
de Deus. Tendo obtido tamanha força gloriosa, somos capazes de realizar um
feito bastante miraculoso além de toda expectativa humana: "em toda a
perseverança e longanimidade, com alegria" é a manifestação mais in-crível
do poder de Deus.
Ser paciente com um crente problemático é mais difícil
do que orar e receber uma resposta de Deus. É duro ser paciente, mas o poder de
Deus nos capacita. Nas três epístolas escritas por Paulo, vemos que, quando um
cristão recebe a obra e a plenitude do poder de Deus, ele é capaz de estar em
paz com as pessoas, ser paciente e conter-se.
"Para que
vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de
uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no
mundo" (Fp 2.15).
"Irrepreensíveis", pois as pessoas nada têm a falar contra você.
"Sinceros", pois há simplicidade e singeleza dentro de você.
"Corrupta" significa não ser correta, e "perversa" quer
dizer deslocada, fora do lugar. Nesta geração, que é deformada e deslocada
quanto à vontade divina, um cristão é muito diferente, pois é simples e
irrepreensível; o cristão brilha como luz neste mundo. Isso é uma manifestação
de vida.
"Preservando
a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em
vão, nem me esforcei inutilmente" (v. 16). Alguns crentes acham que não
precisam falar e testificar, contanto que mantenham uma conduta correta e
atraiam as pessoas para o Senhor. No entanto, trata-se de crentes
despreparados. Precisamos testificar com a boca e com a vida. Devemos preservar
a palavra da Vida, produzi-la e erguê-la a fim de que as pessoas possam
enxergá-la. A Bíblia nunca indica que podemos testificar apenas com a vida e
não com os lábios. Temos de abrir a boca e testificar entre os nossos
conhecidos, amigos e as pessoas com quem mantemos contato. Se não o fizermos,
não seremos capazes de preservar a palavra da Vida. É verdade que Jesus, no
Evangelho de Mateus, diz: "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5.14), mas, no mesmo Evangelho, também declara:
"Portanto, todo aquele que Me confessar diante dos homens, também Eu o
confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus" (10.32). Se você é capaz
de crer e agir, acredite também que consegue brilhar com sua vida e testificar
com a boca em meio àqueles com quem vive. Ao fazer isso, Paulo diz que você é
perfeito.
O "Dia de Cristo" refere-se ao dia no qual
Ele deverá reinar. A palavra "correr", presente na expressão
"corri em vão", significa procurar pecadores e pregar o Evangelho.
"Esforcei", presente na expressão "me esforcei
inutilmente", refere-se a servir aos crentes — pastoreá-los e ensiná-los.
O apóstolo não acha que está correndo ou esforçando-se em vão se os crentes
conseguem ser vistos como luzeiros no mundo. "Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o
sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me
congratulo" (Fp 2.17). A expressão "o sacrifício e serviço da vossa
fé" reflete o mesmo pensamento encontrado nas palavras "apresenteis o
vosso corpo por sacrifício vivo" de Romanos 12.1.
Paulo quer dizer, em Filipenses, simplesmente o
seguinte: "Se vós, habitantes de Filipos, apresentardes vosso corpo por
sacrifício vivo, estarei disposto a oferecer a minha vida por libação".[8]
"Alegro-me e, com todos vós, me congratulo"
— Paulo está alegre e congratula-se, isto é, regozija-se, com todos.
"Assim, vós
também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo" (v. 18). O versículo precedente menciona como Paulo está
contente e se congratula com todos. O versículo 18 diz que eles estão alegres
e, portanto, congratulam-se com o apóstolo. Ah!... Os que são verdadeiramente
movidos pelo poder de Deus sentem apenas alegria. Cremos que Deus já operou e,
portanto, também podemos realizar. Todos nós ficaremos bem se, agora,
quisermos.
Capítulo 4
ALÍVIO CONCEDIDO E
DESCANSO ENCONTRADO
Leitura:
"Vinde a
Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração;
e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo
é leve" (Mateus 11.28-30).
A o ler toda a passagem de Mateus 11.20-30, podemos
perceber que o Senhor Jesus está expressando Seu sentimento interior. Antes de
proferir as palavras acima mencionadas, Ele havia sido muito provocado, porque,
embora tivesse realizado muitas obras poderosas em Corazim, Betsaida e
Cafarnaum, curado muitos enfermos e ajudado muitos necessitados, a resposta que
recebeu foi um espírito não-arrependido. Sem entender o que haviam visto e
ouvido (o que testificava que Jesus, de fato, tinha vindo do céu para ser o
Messias e Salvador de todos), os moradores daquelas cidades não creram. Eles
poderiam ter falado com os lábios para o Senhor, mas o coração deles permanecia
endurecido e sem arrependimento.
Tudo o que o Senhor havia feito parecia ter sido em
vão. Então, Mateus registra a oração de nosso Senhor Jesus Cristo. Observemos
as primeiras palavras de Mateus 11.25: "Por aquele tempo". Nosso
Senhor orava ao Pai, a respeito daquele tipo de circunstância, dizendo:
"Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas
cousas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos". As pessoas
naquelas grandes comunidades consideravam-se "sábias e instruídas".
Portanto, não poderiam aceitar o Senhor Jesus. Embora nosso Senhor quisesse que
fossem salvas, Ele preferiu obedecer à vontade de Deus. Apesar de ter sido
rejeitado por elas, Ele conseguiu dizer a Deus: "Graças Te dou, ó Pai
(...), porque ocultaste estas cousas aos sábios e instruídos e as revelaste aos
pequeninos". Em meio a uma situação mais difícil, que normalmente causaria
profundo desespero, Ele honrou a vontade divina e considerou-a Sua grande
alegria. Jesus ignorou Seus próprios pensamentos ao dizer: "Sim, ó Pai,
porque assim foi do Teu agrado" (v. 26). Ele não disse "Não",
mas disse "Sim". Ele poderia dizer: "Sim, Pai" a qualquer
momento, pois estava sempre solícito à boa vontade do Pai e sabia muito bem a essência
do versículo seguinte: "Tudo Me foi entregue por Meu Pai. Ninguém conhece
o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o
Filho O quiser revelar" (v. 27). As pessoas das grandes cidades podiam não
conhecer o Filho e não se arrependerem, mas Seu coração estava satisfeito.
Eis o segredo da paz interior que tinha nosso Senhor
em qualquer circunstância: Ele poderia descansar em virtude de Seu
relacionamento com o Pai. Contanto que o Pai soubesse, tudo estava bem com Ele.
A aprovação e o louvor de Seu Pai eram as únicas coisas pelas quais Jesus
ansiava. Ele não se importava com a forma como era tratado pelos homens, pois o
sorriso e a vontade do Pai Lhe bastavam. Ele não atentava para o que era
importante para o mundo.
Antes de ter orado, Jesus encontrou-se em uma posição
difícil, pois havia sofrido profunda incompreensão. Ainda que tenha proferido
tudo para as pessoas, não foi bem recebido, e não havia razão para isso. Se
você e eu nos encontrássemos em uma situação semelhante, é provável que
clamássemos por fogo do céu a fim de consumir aquelas pessoas — assim como João
e Tiago haviam pedido certa vez (Lc 9.54). Também refletiríamos sobre a razão
(ou as razões) pela qual tínhamos sido colocado em tal circunstância. Teríamos
murmurado e ficaríamos angustiados. Todavia, nosso Senhor, após ter sofrido
todas essas coisas, falou: "Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu
agrado." O coração de Jesus não se perturbou. Em Mateus 11.27, Jesus nos
conta o segredo de Sua paz. Os versículos precedentes nos falam a respeito do
acontecimento e da forma como o Senhor conseguiu descansar e permanecer imóvel
naquela situação. Contudo, nos versículos 28 e 29, Ele nos faz ver que, se
formos tratados da mesma forma, também poderemos encontrar descanso e não
seremos afetados. Portanto, desejamos, agora, concentrar-nos nestes dois
versículos e perceber de que forma eles relatam sobre dois descansos diferentes
— sendo um mais profundo do que o outro.
O
Alívio da Salvação
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e Eu vos aliviarei" (v. 28). Este é o alívio — ou
descanso — da salvação. Porém, o versículo 29 menciona o descanso da vitória[9]. O
primeiro diz respeito à reconciliação com Deus, e o segundo se relaciona ao
alívio interior da alma. O primeiro é o descanso da salvação, ao passo que o
segundo é o descanso experimentado neste mundo.
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados." Como você se sente com relação ao mundo? Muitas pessoas,
ainda jovens, já provaram a amargura deste mundo. Algumas podem dizer: "O mundo
é tenso[10]".
Quando reparo nas pessoas que utilizam o tempo com grandes negócios em uma rua
abarrotada de gente, começo a imaginar com que estão tão ocupadas. O que estão
fazendo? Estão loucas? Sinto pena delas. Deixe-me declarar que o mundo é
realmente tenso. As pessoas não têm descanso nem alívio. O Senhor não diz:
"Vinde a Mim, todos os grandes pecadores, e Eu vos aliviarei". [Para
os pecadores], o prazer do pecado é doce, e eles estão antecipando até mais
prazer. Por isso, o Senhor apresenta uma descrição muito diferente ao dizer:
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos
aliviarei." Você se cansa e sente-se sobrecarregado. Embora muitos possam
usufruir o prazer do pecado, cada pessoa sente que está dando duro no trabalho.
Muitas pessoas podem não sentir a dor do pecado, mas todas reconhecem que as
experiências da vida são bastante dolorosas. Independentemente de ser
milionário, político, teólogo, estudante, comerciante, plebeu, operário ou até
mendigo, a pessoa não se sente satisfeita plenamente.
Às vezes, penso ser bem razoável um condutor de
jinriquixá murmurar, mas será que um milionário murmuraria também? Certa vez,
fiquei hospedado na casa de um milionário e ouvi-o lastimar-se em voz baixa.
Embora o dinheiro ofereça muitos prazeres no mundo, a vida é cansativa, apesar
de tudo. Em outra ocasião, eu conversava com uma mulher analfabeta que se
queixava da infelicidade que sentia por não saber ler. Ela afirmou que, se
soubesse, acreditaria em Cristo e leria a Bíblia. Penso que, para uma mulher
analfabeta, seja natural resmungar, ainda que o mesmo não pareça possível para
um professor universitário. Quem sabe pelo quê um professor universitário
também murmura? Ouvi falar de um professor universitário vindo do exterior que,
sendo muito pessimista, sempre resmungava. Em um determinado dia, quando o sol
brilhava, e o céu estava azul-celeste, a grama estava muito verde, e os
pássaros do campus cantavam, alguns de seus colegas lhe disseram: "Senhor,
observe que lindo dia. Certamente, o senhor não murmurará hoje!" Ele olhou para o céu e para as coisas que o
cercavam, e, de fato, não havia nada pelo qual lamentar-se. Porém, o que ele
fez, enfim? Disse: "Ai... Um tempo como esse não vai durar muito!"
Por toda parte, você pode encontrar pessoas que estão muito cansadas e
sobrecarregadas. Elas não têm alívio e ficam imaginando quando tudo terminará.
No entanto, tenho medo de que você, que lê essas palavras, também esteja
trabalhando sem descanso. Quantos de vocês sentem estar carregando um fardo
pesado demais e não têm descanso?
Uma vez, fui pregar em uma aldeia e, lá, ministrarei a
respeito de estar sobrecarregado. A aldeia que visitei situava-se do outro lado
de uma colina e era inacessível de trem ou navio a vapor. Portanto, peguei um
navio até determinado ponto e, daí em diante, caminhei até chegar ao povoado. O
dia estava quente, e eu carregava muitos livros evangélicos, panfletos, comida
e roupas extras. Tive de transportar tudo sozinho já que não consegui encontrar
ninguém que as levasse para mim. Senti-me bem nos primeiros vinte passos, mas,
depois, mal conseguia carregar a bagagem. Pensei que, se conseguisse chegar ao
destino com rapidez, poderia descansar. Todavia, não havia nenhuma árvore na
colina para que eu pudesse esconder-me do sol escaldante. Naquele momento,
comecei a compreender como os pecadores devem ser cansados e sobrecarregados. É
possível que alguns de vocês ainda não creiam no Senhor Jesus e, portanto, não
têm descanso nem alívio. Então, para onde vocês vão? Ouçam as palavras de
Jesus: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu
vos aliviarei."
Este mundo é, na verdade, um lugar monótono e
cansativo. Muitos têm dinheiro, mas confessam sentir-se cansados. Muitos têm
emprego, mas também se sentem cansados. Muitos possuem a fama e o afeto que o
mundo oferece, mas também se encontram fatigados. Se eles não conseguem obter o
que procuram, não conseguem descansar. Eles sabem que o descanso é algo bom,
mas o fardo que carregam é pesado demais. Não ousam pedir descanso, mas
simplesmente esperam que o fardo se torne mais leve. Assim agiam os israelitas
dos tempos antigos, que esperavam que Faraó tornasse o fardo mais leve em vez
de ansiar por total alívio do peso. A condição dos israelitas pode representar
a condição das pessoas de hoje. Assim como eles haviam simplesmente esperado
que o fardo fosse diminuído, mas não interrompido, da mesma forma os homens de
hoje pedem apenas um fardo mais leve e menos preocupante. Permita-me declarar
que o que o Senhor Jesus Cristo oferece não é menos cansaço, mas total
descanso. Você sabe o que significa descanso? Significa parar de trabalhar.
Você, que está preso ao pecado e pressionado por muitos fardos, não tem
descanso. Por isso, saiba que o Senhor Jesus veio para lhe dar alívio e
descanso. Você não precisa fazer nada, pois Ele simplesmente lhe dará descanso.
Quando eu era jovem, meus pais me diziam, com
freqüência, como o Senhor Jesus havia se tornado nosso Salvador, aplacando a
ira de Deus. Eu imaginava quantas obras boas eu deveria realizar a fim de que
Deus parasse de odiar-me e desejasse conceder-me a salvação. Muitas pessoas
pensam do mesmo modo. Entretanto, observe, por favor, o que o Senhor Jesus diz
aqui: você não precisa fazer nada, mas simplesmente pode ir até Ele e conseguir
alívio e descanso. Jesus não ordena que você se esforce para fazer o bem, mas
apenas lhe concederá descanso. Descanso é algo que os homens desejam e, mesmo
assim, sempre presumem que devem fazer o bem antes de serem aceitos por Deus. Contudo,
o Senhor Jesus convida os homens a irem até Ele e receber alívio em vez de
trabalhar. Conforme as Escrituras esclarecem, Ele realizou todas as obras —
sejam elas na área da vida eterna, redenção, juízo, justificação ou o que for;
o Senhor Jesus já fez todas as coisas. Portanto, agora, Ele o convida para ir
até Ele e obter descanso. Deixe-me contar
outra história. Em certa aldeia, um cristão era vizinho de um carpinteiro
incrédulo. O cristão conhecia a verdade e, por isso, tentava, com freqüência,
convencer seu vizinho a crer em Jesus. O carpinteiro, porém, estava obsessivo
com a idéia de que, apesar de Jesus ter consumado a obra de redenção, ele
deveria praticar o bem e consertar-se antes de poder acreditar. Sem dúvida,
Jesus havia expiado seus pecados, mas o homem pensava que ainda tinha de fazer
algo. Por esse motivo, o carpinteiro não cria.
Certa noite, um ladrão foi até a casa do cristão e
tentou entrar pela porta da frente. O ladrão ouviu barulho na casa e, por isso,
não ousou entrar, mas, em vez disso, roubou a porta. Na manhã seguinte, o
cristão descobriu que a porta da frente de sua casa havia sido roubada! Então,
ele pediu ao carpinteiro que lhe fizesse outra porta. Sendo vizinho e amigo, o
carpinteiro escolheu o melhor material e apressou-se para terminar o trabalho
no mesmo dia. Contudo, quando ele estava preparado para instalar a porta, o
cristão, com o rosto sério, disse-lhe: "A porta que você fez ainda não
está pronta. Não é boa o bastante." Essas palavras confundiram o carpinteiro
e deixaram-no muito aborrecido. Ele falou ao cristão: "Eu escolhi o melhor
material e me apressei a terminar o trabalho. Diga por que não está bem-feito.
Diga por que eu deveria melhorá-lo." "Vá para casa e traga alguns
pedaços de madeira, pregos e um martelo. Vou-lhe mostrar o que deve
fazer", respondeu o cristão.
O carpinteiro foi para casa e levou o material
solicitado. Com o martelo, o cristão pregou, de forma aleatória, os diversos
pedaços de madeira na porta, o que fez o carpinteiro aborrecer-se ainda mais. Ele
pensou que seu vizinho cristão tivesse enlouquecido. Depois, o cristão começou
a explicar o que havia feito, dizendo: "Amigo, não se aborreça comigo.
Vamos conversar. Você realmente terminou a porta?" "Claro que
sim!", respondeu o carpinteiro. "Mas ela não ficou melhor depois que
eu coloquei esses pedaços de madeira?", perguntou o cristão. "A porta
já estava terminada", respondeu o carpinteiro, "e você simplesmente
estragou o trabalho ao pregar esses pedaços adicionais!" Então, o cristão
replicou: "A obra redentora de Cristo já foi concluída. Em João 19.30,
Jesus clamou da cruz: "Está consumado!" Mas você insiste em dizer
que, embora o Senhor Jesus já tenha realizado o trabalho, você ainda deseja
acrescentar outras coisas a fim de melhorá-lo e consertá-lo. Foi por causa
desse raciocínio que eu decidi pregar esses pedaços de madeira na porta que
você já tinha terminado." Com a explicação dada pelo vizinho cristão, o
carpinteiro compreendeu e, de imediato, creu na obra consumada do Senhor.
Ontem, o cristão perdeu uma porta, mas, hoje, Deus ganhou um pecador.
O Senhor Jesus nos chama para obter descanso sem
qualquer trabalho porque Ele sofreu por nossos pecados, morrendo por nós, e
ressurgiu da morte, de modo a dar-nos uma nova posição diante de Deus. Não precisamos
fazer nada, mas simplesmente ir a Ele para descansar. Este é o Evangelho.
No mundo, muitas pessoas trabalham sob um pesado
fardo. Até no que diz respeito à salvação são incapazes de pensar de outro
modo. Acreditam que, se tentarem fazer o bem e sofrer, Deus poderá ter
misericórdia delas e salvá-las. Ah!... Quantos adeptos do hinduísmo estão
agindo assim! Eles se deitam em camas cheias de pregos, imaginando que o deus
desconhecido possa ter piedade deles em virtude do sofrimento que têm e perdoar
seus pecados. Até nossos filhos pensam assim. Uma vez, uma criança disse o
seguinte: "A primeira coisa que fiz depois de pecar foi provocar uma
grande dor em mim mesma para que Deus perdoasse o meu pecado".
Ah!... O mundo inteiro pensa assim: trabalhar e sofrer
até o ponto exigido para que Deus conceda o perdão. Entretanto, entenda, por
favor, que isso é uma mentira, um auto-engano, uma forma de pensar totalmente
irreal. Ninguém pode obter alívio diante de Deus por meio de mais trabalho e
sofrimento. Hoje, a convocação é: "Vinde a Mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei." Em virtude de a obra
redentora ter sido consumada, o Senhor levou nossos pecados. Qualquer pessoa
pode ir ao Senhor e receber alívio. Nenhum pecador pode obtê-lo por conta
própria, mas deve ir ao Senhor a fim de conseguir descanso.
O
Descanso da Vitória
Agora, vou falar — e, desta vez, aos crentes — sobre
outro descanso: "Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou
manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma." Este é
o descanso que o cristão deve encontrar. O primeiro descanso é o alívio que o
pecador deve sentir, e ele não conseguirá esse alívio até ser aceito por Deus.
Todavia, o cristão já teve seus pecados perdoados e, então, pode descansar,
pois o problema da salvação já foi resolvido. Contudo, apesar de já ter
resolvido o problema da justificação e da vida eterna, o cristão, às vezes,
permanece cansado. E verdade que o crente descansa no Cordeiro e em Seu sangue
precioso, mas, de tempos em tempos, não encontra descanso na vida terrena. Algo
parece perturbar-lhe o coração. Ele tem o alívio mencionado em Mateus 11.28,
mas não tem o descanso do versículo 29.
O descanso aludido no versículo 29 é um tipo especial
de alívio. Trata-se de um alívio na alma, um descanso no ser interior. O Salmo
42.5 questiona: "Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas
dentro de mim?" A alma pode fazer com que fiquemos abatidos e perturbados.
Porém, o descanso que o Senhor nos concede é o alívio da alma, o que permite
que vivamos neste mundo sem preocupação e inquietação.
O Senhor continuou, dizendo-nos os motivos de Seu
descanso para a alma. "Porque sou manso e humilde de coração." O
primeiro motivo deve ser encontrado na palavra "manso"; o segundo, na
palavra "humilde". O que é mansidão? É uma ternura sem qualquer matiz
de dureza. O Senhor nada tem em Si que
irrite ninguém. Ele é tão terno e delicado que não rejeita ninguém nem pensa em
Si mesmo. Ele é tão suave como o toque da água. Tal é o tipo de vida que nosso
Senhor manifestou no mundo.
Contudo, embora muitas pessoas possam manifestar
mansidão para com os outros, elas não são humildes. Exteriormente, são serenas,
mas, no coração, sentem orgulho. Ser humilde de coração significa assumir uma
posição de humildade. O Senhor é humilde de coração, ou seja, Ele se considera
merecedor de tratamento humilde, pois não espera nada melhor[11].
Quando, um dia, Ele pregava na cidade onde havia sido
criado, Nazaré, e foi expulso e perseguido pelos habitantes, a Bíblia diz que
Jesus "passava por entre eles" (Lc 4.30). Na terra, Jesus não foi
apenas manso, mas também humilde. Ele sabia qual era Sua porção na terra e não
esperava nenhum tratamento melhor.
O orgulho está no coração e na aparência. Se eu me
considero melhor do que as outras pessoas, se cobiço o que Deus não me deu, se
procuro algo para mim mesmo, sou orgulhoso.
A atitude que o Senhor mantinha continuamente,
enquanto estava na terra, era de mansidão e humildade. A fim de que nós,
cristãos, encontremos o descanso sobre o qual Ele falou, precisamos fazer duas
coisas: primeiro, tomar sobre nós o Seu jugo; segundo, aprendei Dele. Um jugo é
uma peça de madeira que prende os bois pelo pescoço para fazer com que
trabalhem com diligência. Na terra de Judá, o jugo era sempre compartilhado por
dois bois em vez de ser colocado em apenas um. O jugo era colocado sobre o boi
pelo seu senhor, e, por isso, o Senhor, nosso Mestre, diz para tomarmos sobre
nós o Seu jugo. Este jugo nos é dado por Deus e não pelo homem ou pelo diabo.
Ele é concedido por Deus e escolhido por nós.
Tome
o Jugo de Cristo
Qualquer coisa designada por Deus nos dará alegria se
nos apoderarmos dela. Se eu estiver contente, terei paz. Não tenho motivos para
ser infeliz, pois não fugi do jugo que Deus designou para mim.
Tenho um colega de escola que foi criado em um
orfanato. Ele era brilhante e estudava muito. Era membro de uma igreja, mas não
havia nascido de novo. Sua ambição era atingir um nível educacional mais
elevado, alcançar grande fama e ganhar muito dinheiro. No ano em que se graduou
no Trinity College, em Foochow, um missionário quis enviá-lo aos Estados Unidos
para estudar. Porém, a fim de preparar-se, pediram-lhe que fosse, primeiro,
para a Universidade St. John e concluísse o curso de dois anos que faltava. A
escola lhe daria uma bolsa de estudos.
Todavia, alguns meses antes, ele aceitou a Cristo e
foi chamado para pregar o Evangelho. O jugo do Senhor estava sobre ele naquele
momento. Entretanto, interiormente, ele pensou em quão infeliz seria a vida se
viesse a tornar-se pregador — sobretudo, pregador rural. Ele teria um salário
pequeno, e sua vida seria bastante pobre. Todos os planos e todas as ambições
se esvaneceriam. A expectativa de sua mãe e de seu tio concernente a ele seria
destruída. Ele não quis carregar o jugo que Deus lhe tinha concedido e pensou
em fugir. Então, prometeu ao reitor que iria à Universidade St. John.
Um dia, encontrei-o e perguntei-lhe o que havia
decidido para o futuro. Ele me contou que tinha resolvido ir para a
universidade estudar. Eu sabia, é claro, que Deus o tinha chamado. Portanto,
disse-lhe, com bastante franqueza, que ele havia escolhido o caminho errado.
Sendo assim, como poderia pensar em encontrar descanso? "A esperança da
minha idosa mãe e do meu tio está voltada para mim", respondeu ele;
"vou estudar literatura e fazer pesquisas em teologia. Também trabalharei
para o Senhor na escola. Assim, não estarei realizando um duplo
propósito?" "Obedecer é melhor do que sacrificar", respondi.
"O Senhor não tem tanto prazer na gordura de carneiros e em holocaustos e
sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua palavra:" (1 Sm 15.22).
"Mas eu já decidi", replicou meu amigo. "Porém, você optou pelo
caminho errado", respondi. "Se você for para aquela universidade e se
contaminar com o veneno da nova teologia, receio que sua fé seja transformada,
e que não mais possamos andar juntos no Caminho." Então, despedi-me dele.
Depois que o deixei, meu colega caminhou em uma pista
de atletismo com o coração sobrecarregado. Ele não tinha paz. Posteriormente,
foi para a capela da escola, ajoelhou-se e orou. A medida que pensava no pai
morto, na mãe viúva e no próprio futuro, ele chorava com amargura. Pensava em
abandonar o jugo de Deus, mas não tinha paz no coração. Todavia, como lhe foi
difícil obedecer... Enfim, percebeu que deveria submeter-se à vontade de Deus e
prometeu ao Senhor que abriria mão da oportunidade de estudar mais e, em vez de
ir à universidade, pregaria o Evangelho. Após ter orado e obedecido, ele se
levantou e encontrou paz e alegria no coração. Imediatamente, procurou o reitor
e contou-lhe o motivo pelo qual havia mudado de idéia. Rejeitou a bolsa de
estudos e a ajuda para estudar no exterior prometida pelo missionário. Saiu da
escola. Mais tarde, testificou que aquela noite foi a mais feliz de sua vida.
(Repare, por favor, que eu não tenho a intenção de pedir que ninguém abandone
os estudos, mas, se Deus chamá-lo para pregar, você deverá obedecer. Se você
não for chamado para pregar, poderá estudar, se quiser.)
Conheço muitos cristãos que passaram pelo mesmo tipo
de experiência descrita. Você não tem descanso enquanto contende com Deus,
pedindo que Ele aceite. Sua consciência lhe diz que está errado, e você é muito
infeliz! Porém, você encontra alívio quando fala para Deus: "Tomarei o Teu
jugo." Hoje, Deus pretende que estejamos dispostos a tomar sobre nós Seu
jugo, tanto nas pequenas coisas do dia-a-dia quanto nas grandes coisas da vida.
Alguns pregadores acham difícil trabalhar com outros colegas de ministério.
Algumas irmãs acham árduo viver com a família do marido. Alguns empregados
acham difícil trabalhar com os colegas, e alguns alunos se cansam do
relacionamento que têm com os professores e com os outros estudantes. Trata-se
de jugos a serem carregados. É claro que você está cansado desses fardos e
deseja abandoná-los ou que eles o abandonem. Você se sente oprimido e não tem
paz. Entenda, por favor, que estes são os fardos que Deus lhe deu e quer que
você carregue — é a porção que Deus designou para você. Ele deseja que você se
submeta a tal circunstância, pois é o melhor para você.
O que significa tomar a cruz? Não significa gastar
milhares de dólares para comprar, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, uma
cruz para ser carregada, mas se trata de tomar o jugo em cada situação
particular, que é a porção que Deus lhe deu. Você considera o meio em que vive
muito ruim e gostaria de mudar de lugar com outras pessoas? Porém, tal atitude
não seria tomar o jugo. Às vezes, Deus une uma pessoa cuidadosa com outra
descuidada, ou uma fraca com outra forte, ou uma saudável com outra enferma, ou
uma pessoa esperta com uma ignorante, ou uma calma com outra agitada, ou uma
arrumada com outra desleixada. Deus age assim com o intuito de dar a ambas a
oportunidade de aprender a natureza de Cristo. Se você lutar contra isso, não
terá descanso. No entanto, se disser a Deus "Tomarei o jugo que Tu me
deste e estou disposto a assumir minha posição e a obedecer", você
encontrará alívio e alegria.
A razão pela qual os cristãos modernos têm
dificuldades em dar um bom testemunho é a resistência em tomar o jugo de Deus.
Eles desejam uma mudança no meio em que vivem, mas não percebem que o caráter
cristão deve ser manifesto em tal ambiente. A vida mais elevada que podemos ter
é receber, com prazer, tudo aquilo de que não gostamos por natureza. Deixe-me
dizer que você terá pleno descanso se aceitar, com alegria, o jugo que Deus lhe
der. Não me refiro ao alívio da salvação, que lhe é dado pela redenção
consumada de Cristo na cruz do Calvário, mas de um descanso que depende da sua
obediência, sua atitude de negar a si próprio e seu tomar a cruz para si.
Espero que
todos nós encontremos esse novo descanso, o qual, diferente da neve que pode
ser rapidamente sacudida do casaco em um dia de inverno, não tentemos evitar.
Você e eu não temos necessidade de lutar contra o ambiente que nos foi
designado, pois podemos dizer ao Senhor "Graças Te dou, pois este é o jugo
que Tu me deste" da mesma forma que Jesus disse "Sim, ó Pai, porque
assim foi do Teu agrado". Logo, teremos alegria. Embora o que aconteceu
com o Senhor Jesus tenha sido muito difícil, Ele não murmurou, não se preocupou
e não conspirou, mas simplesmente obedeceu e, então, pôde ter alegria. Devemos
obedecer a Deus em prol da alegria, pois, ao obedecer-Lhe, encontramos alegria
realmente. Sei que todos nós temos, ao nosso redor, muitas pessoas que não
conseguimos amar e com quem não conseguimos trabalhar, mas espero, daqui em
diante, que todos aceitemos tudo o que vier das mãos de Deus e tomemos o jugo
suave e leve.
Aprenda
do Senhor
Não devemos apenas tomar o jugo, mas também aprender
do Senhor. A atitude de Jesus é registrada em Filipenses 2.6-8: "Pois Ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes,
a Si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e
morte de cruz". Dois pontos precisam ser enfatizados.
Um primeiro lugar, o Senhor nunca defende Seus
próprios direitos ou fala sobre Si mesmo: "Ele, subsistindo em forma de
Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo se
esvaziou". Nosso Senhor é igual a Deus, compartilhando do mesmo poder e da
mesma glória. O Senhor Jesus é um com Deus. Porém, apesar de ter o direito de
agir assim, Jesus não se exaltou, mas, ao contrário, esvaziou-se e assumiu a
forma de servo em vez de permanecer em igualdade com Deus, o que seria Seu
direito. Como o diabo é completamente diferente! Tendo sido criado como
arcanjo, desejou ser igual a Deus. Jesus foi o oposto do diabo: em vez de
permanecer igual a Deus, esvaziou-se. Lembre-se, por favor, que nenhum de nós
deve falar em favor de seus próprios direitos, mas cada um deve estar disposto
a abdicar de seus direitos legítimos.
Certa vez, uma irmã governava sua casa como se fosse
uma rainha e, quando conseguiu a salvação, passou a agir quase como uma
empregada. Quando ela pedia algum dinheiro para os pais e não recebia com tanta
rapidez como costumava receber, dispunha-se a abrir mão da posição e do
privilégio que tinha por ser filha. O cristão não pode esperar que seus pais o
tratem necessariamente melhor do que o
irmão, ou que os amigos o tratem necessariamente com a
mesma bondade de antes. Se eles se recusam a conceder-lhe seus direitos, você
deve colocar-se na mão de Deus e aprender do Senhor, Aquele que
"subsistindo em forma de Deus (...) a Si mesmo se esvaziou". Ele
nunca falou de Si mesmo, e, por isso, não deveríamos falar de nós mesmos.
O descanso do cristão não está apenas em não dever
nada a ninguém, mas também em agüentar tudo o que for preciso. Muitos jovens
cristãos eram desonestos antes de serem salvos. Porém, depois de adquirir a
salvação, tentam ser justos com as pessoas. Quando os cristãos sofrem, hoje,
qualquer injustiça, sentem-se nervosos e desconhecem o fato de que os crentes
não devem ser apenas justos com os outros, mas também suportar as injustiças
que sofrem dos outros. O que o Senhor recebeu dos outros certamente não foi
justo. Com toda verdade e justiça, Ele não tinha de vir a este mundo para
tornar-se homem a fim de salvar-nos. No entanto, por amor a nós, Jesus se
dispôs a suportar todo tratamento injusto.
Um segundo lugar, "assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens". Isso significa que Jesus aceitou a
limitação.
No céu, nosso Senhor tem a liberdade de ir para onde
quer e até poderia aparecer para os homens como o Anjo de Deus conforme
relatado no Antigo Testamento. Contudo, depois
de ter encarnado e assumido a semelhança humana, Ele cresceu da primeira
infância até a maturidade. Jesus crescia segundo a idade dos homens e, como
homem, precisava comer e beber, dormir e descansar. Isso era uma tremenda
restrição à Sua Deidade. De fato, Ele se tornou ainda mais limitado ao assumir
a forma de servo. Como homem, é possível que Ele não tivesse a liberdade de
Deus, mas, mesmo assim, tinha a liberdade dos homens a fim de experimentar o
divertimento dos homens. Porém, ao assumir a forma de servo, Ele sacrificou até
a liberdade dos homens comuns, sendo restrito e preso em todos os Seus
caminhos. Ele conhecia apenas a vontade do Pai. Que restrição Ele deve ter
recebido em Sua humanidade! Apesar de ser o Deus infinito, o Senhor Jesus
aceitou a limitação finita; e, embora tivesse assumido a semelhança humana,
reconheceu igualmente as restrições.
O que dizer sobre nós? Ah! Como nosso coração se
rebela contra qualquer limitação... Como ansiamos quebrar todo laço e toda
restrição a fim de conseguirmos ter liberdade... Como esperamos que o mundo
inteiro, quer sejam pessoas, quer sejam coisas ou acontecimentos, submetam-se à
nossa vontade... Como somos diferentes de Cristo! Não obstante Ele ser Deus,
aceitou as limitações. Algumas mães não sonham em ser mães, mas em pregar o
Evangelho — uma vez, uma irmã me disse que, se seu marido permitisse, ela
deixaria os três filhos e iria pregar o Evangelho no Tibete. Ela desejava ter
todos os laços cortados para que pudesse viajar. Isso, no entanto, não é a atitude
do Senhor. Ele é Deus, todavia foi obediente aos seus pais terrenos e
importou-se com Seus irmãos e irmãs na carne. Devemos aprender a ser obedientes
e a não darmos brecha a qualquer ambição egoísta. Devemos submeter-nos com
alegria se Deus usar a família ou os filhos a fim de limitar-nos. É errado que
os comerciantes pensem em não fazer negócios, que os estudantes pensem em não
estudar e que os professores esperem não ensinar, e assim por diante.
Encontraremos descanso se, da mesma forma que Jesus, estivermos dispostos a
aceitar todos os tipos de limitações sem rebeldia.
Resumindo, o incrédulo pode receber alívio e ser
reconciliado com Deus, e o cristão encontrará descanso na alma se estiver
disposto a tomar o jugo suave e leve e aprender as limitações do Senhor ao não
defender seus próprios direitos. Dia a dia, o cristão aceita o jugo que Deus
lhe designou e opta por viver uma vida restrita para o Senhor.
"O Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve",
diz Jesus. Todos os que tiveram experiências em Cristo dirão "Amém".
Como é irregular o caminho que escolhemos para andar! Como são problemáticas as
coisas que fazemos segundo nosso próprio pensamento! Quão dolorosas são as
conseqüências! Como nos é difícil seguir em frente! Porém, se estivermos dispostos
a tomar o jugo do Senhor e a aprender Dele, veremos realmente quão suaves e
leves são as coisas que Deus nos concede. Os pedidos de Deus e o meio que
designou para nós são leves e suaves. Ele não permitirá que passemos por coisas
que não somos capazes de suportar. Ele sabe qual a medida de Seu fardo para nós
e conhece nossos esforços. Descansemos Nele. Ele não pedirá algo que não
podemos fazer. O que Ele designa para cada um de nós é o que cada um pode
suportar. Assim como ninguém colocaria um jugo de ferro pesado sobre um bezerro
de três meses, o Senhor não permitirá que quaisquer circunstâncias
insuportáveis recaiam sobre quem não as pode suportar.
Portanto, tudo o que nos acontece foi designado por
Deus como algo que Ele sabe que temos força para suportar. Deus não comete
erros. Por isso, não murmuremos. Ainda que não gostemos dos muitos jugos e
fardos que Ele nos concede, aceitemo-los com tranqüilidade, humildade,
suavidade e alegria como realmente vindos de Sua mão.
Capítulo 5
VIGIAR E ORAR
Leitura:
"Quanto ao
mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda
a armadura de Deus, para puderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;
porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados
e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de
Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo,
permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e
vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho
da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podeis apagar todos os
dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do
Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo
tempo no "Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica
por todos os santos e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha
boca, a palavra, para, com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho,
pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para
falar, como me cumpre fazê-lo "(Efésios 6.10-20).
Quase todos nós estamos familiarizados com esta
passagem extensa, e, portanto, não vou explicar o parágrafo inteiro, mas
enfatizarei apenas o versículo 18, que diz: "Com toda oração e súplica,
orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e
súplica por todos os santos".
Não vou explicar a primeira e a última frase do
versículo, mas concentraremos a atenção apenas nas palavras encontradas no meio
dele: "Orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda
perseverança".
O apóstolo diz que devemos estar no Espírito Santo e
orar em todo tempo no Espírito. Entretanto, ainda que não sinta ser suficiente,
Paulo acrescenta mais uma coisa, ou seja, vigiar com toda perseverança. Agora,
se eu lhe dissesse que você deveria estar vigilante, porque o Senhor está
voltando, é provável que você entendesse. Se eu sugerisse que você devesse
estar alerta quando estivesse sendo provado, porque o Senhor está voltando,
você também entenderia. Contudo, a sentença "vigiando com toda
perseverança", da qual Paulo fala, pode ser difícil de compreendermos.
Para onde aponta a palavra "vigiando"? E possível que se refira às
orações e súplicas mencionadas antes. O apóstolo está nos exortando a fazer
algo - a saber, sermos vigilantes com toda perseverança em oração e súplica.
Ele não diz que o Senhor está voltando e não menciona nenhuma provação, mas
simplesmente fala sobre vigiar com toda perseverança em oração e súplica. Muitos leitores não entendem o que isso significa.
Logo, peçamos que Deus nos conceda luz a fim de que possamos saber o que quer
dizer vigiar em oração e súplica, pois, se aprendermos a vigiar, teremos
aprendido muito em oração. Ah! Devemos ser vigilantes não apenas em
consideração à segunda vinda do Senhor e ao perigo ou provação que podemos
estar vivendo, mas também em consideração à área da oração e da súplica. Então,
o que significa ser vigilante? Significa ter os olhos abertos e estar atento ao
menor deslize. O apóstolo deseja que estejamos vigilantes em oração e súplica -
e não apenas em provação e aflição -, porque nada na vida de um cristão é mais
atacado do que a oração. Por isso, devemos aprender muito em oração se
quisermos crescer espiritualmente.
O
Momento da Oração
Na vida de um cristão, nenhum momento é mais
suscetível ao ataque do que o momento da oração. É fácil admitir que,
literalmente, não conseguimos encontrar o momento de orar. Por essa razão, a
menos que estivermos vigilantes, simplesmente não oraremos.
É estranho pensar que você tem tempo para almoçar,
receber amigos, visitar pessoas e fazer muitas outras coisas, mas não consegue
achar tempo para orar. Na noite passada, por exemplo, você reconheceu que o dia
havia passado sem você ter orado de fato. Por isso, você decidiu que
encontraria tempo para dedicar-se à oração no dia seguinte. Porém, no dia
seguinte, no momento planejado para orar, alguém bate à porta da frente, e
outra pessoa bate à porta de trás, procurando por você. É estranho que, em
outros momentos, tudo está tranqüilo, mas, no momento da oração, muitas coisas
estranhas começam a acontecer. Se você desejar encontrar tempo para as outras
coisas, encontrará. É apenas quando você tenta encontrar tempo para orar que
não consegue. Muitos estão surpresos com tal experiência.
Você deve reconhecer a necessidade de estar vigilante
com a oração. Você precisa abrir os olhos e vigiar. Você não pode deixar de
orar, porque não tem tempo. Em vez disso, deve verificar por que não está tendo
tempo. Perceba, por favor, que tudo é obra de Satanás. Ele está tentando
perturbá-lo e, de propósito, cria obstáculos para impedi-lo de orar.
Deixe-me ser franco: o motivo pelo qual os cristãos de
hoje não oram direito deve-se ao fato de eles nunca terem examinado esse
assunto e mantido vigilância a fim de não permitir que o momento da oração
passe despercebido. Por isso, os cristãos têm tempo para estudar a Bíblia, mas
não encontram tempo para orar. E é aí que Satanás prevalece. Ele sabe que, se
os crentes não tiverem tempo para orar, eles não vão orar, e, assim, o diabo
não será limitado de nenhuma maneira.
Sabemos que, quando vigiamos, vigiamos em virtude de
haver algum perigo. Quando estamos em guarda é devido ao inimigo estar por
perto. Sem nenhum perigo ou inimigo nos cercando, não temos necessidade de ser
cautelosos. Em outras palavras, sempre que há necessidade de estar alerta, deve
haver um inimigo ou algum tipo de perigo adiante. Logo, precisamos estar
atentos no tempo de oração e súplica. Devemos encontrar tempo para orar. Se
esperarmos o tempo livre para orar, nunca teremos a oportunidade de fazê-lo. Todos
os que desejam trabalhar com o ministério de intercessão ou progredir na vida
de oração devem "criar" o momento de separar um período para orar.
Guardemos este período e seguremo-lo com firmeza.
Devemos fazer a oração de proteção pelo tempo de orar.
Ore para que o momento de oração não seja perdido, pois, com a perda,
passaremos a não orar.
Que todos os que desejam servir a Deus tenham em mente
que o momento de oração é o período em que devem separar-se. Andrew Murray
disse, certa vez, que alguém que não tem um horário planejado para orar acaba
não orando. Sem separar um período especial para a oração, ninguém terá tempo
de orar. Além disso, mesmo depois de a pessoa ter decidido um horário, ela deve
usar a oração para proteger esse horário. Ela deve cercar esse tempo com oração
para que o inimigo não o roube — isso é o que indica a expressão
"vigiando"; o cristão deve vigiar as preocupações antes do momento de
orar.
No
Momento de Orar
Não devemos apenas tomar cuidado com o tempo de orar,
mas também estar vigilantes para a forma como o utilizamos. Não precisamos
apenas encontrar tempo para orar, mas também tomar cuidado com este tempo. Como
explicamos isso? Observamos que nenhum momento é mais atacado do que o momento
em que o cristão está orando. Durante os momentos comuns, a sua mente pode
estar mais nítida, e seu pensamento, mais coerente. Entretanto, no momento da
oração, seus pensamentos começam a vagar e tornam-se confusos. Você não sabe
para onde seu ser está sendo conduzido. A princípio, seu corpo está repleto de
força, mas, à medida que começa a orar, seu corpo imediatamente se sente
cansado e sonolento. Em outras situações, você costuma conversar com as pessoas
até 23h ou 24h, ou é capaz de trabalhar até altas horas da noite. Porém, quando
você tenta orar às 21h, sente resistência e deseja ir dormir. Você não entende
por que estava bem, mas, no momento em que começou a orar, sentiu-se cansado.
Você imagina por que isso ocorre já que faz outras coisas no mesmo horário em
que seu espírito parece forte, mas perde sua força espiritual no momento da
oração.
A explicação é que o inimigo está impedindo que você
ore. Ele quer cortar sua linha de comunicação com o céu, pois conhece o poder
da oração. Ele percebe como a oração o restringirá e como fará com que o poder
caia do céu. Por conseguinte, o inimigo tenta fazer o melhor ataque à sua
oração. Ele percebe que, se não conseguir cortar essa linha de comunicação,
sofrerá perdas. Ele pensa que poderá fazer tudo com você segundo suas idéias se
tão-somente impedir que você se comunique com Deus. Como conseqüência, você
pode fazer outras coisas sem a interferência do diabo, mas sofrerá ataques
malignos toda vez que for orar.
Como devemos lidar com esse tipo de situação? Não há
outra forma senão vigiar. Assim, devemos proteger o uso do momento da oração e
o período da própria oração. Abramos os olhos a fim de que não sejamos
enganados e levados a pensar que não podemos orar hoje, pois não nos sentimos
bem. Devemos estar alertas para o fato de que isso é um ataque do inimigo. Não
pensemos que não somos capazes de orar por estarmos cansados, e que causaremos
danos à nossa saúde se insistirmos em orar. Se algum de nós se sente fraco no
momento de orar, não deve considerar essa fraqueza algo natural. Além do mais,
se percebemos que nossos pensamentos estão vagando no momento da oração, não
devemos aceitar esse fato como sendo normal. Tudo isso simplesmente vem de
Satanás para enganar-nos e atacar-nos.
Portanto, esteja alerta, "vigiando com toda
perseverança". Use a oração a fim de proteger sua oração. Cerque sua
oração com orações. Antes de orar, peça ao Senhor que o capacite a fim de que
possa fazer sua oração sem ser atrapalhado, sem sentir sono ou cansaço, mas
orar em espírito e com concentração, sendo protegido prior Seu sangue. Diga ao
Senhor: "Senhor, protege minha oração para que eu possa estar concentrado
e exercer poder sem ser atrapalhado pela aparente fraqueza natural."
Observe que existem dois tipos de soldados na terra:
um é o soldado de carreira, preparado para o combate, e o outro é a sentinela.
A sentinela não tem a função específica de atacar, mas é usada para proteção,
isto é, para guardar os soldados que estão lutando. Você pode reparar em uma
companhia de soldados alojados em uma área cercada. Invariavelmente, haverá
alguns munidos de armas e dispostos na entrada. Por que estes soldados
permanecem lá na entrada? Para guardar os homens que estão do lado de dentro a
fim de que os mesmos não sejam atacados. Sabemos que a oração também significa
enfrentar e repelir Satanás. Precisamos de uma "oração sentinela"
para proteger nossa "oração de combate". Ser vigilante é postar-se
como uma sentinela. Por conseguinte, "vigiando com toda perseverança"
significa observar com cautela a fim de que os homens destinados a lutar (ou
seja, nossas orações) não sofram perdas.
Em resumo, precisamos observar duas coisas: primeiro,
não devemos permitir que Satanás nos roube o tempo destinado à oração; segundo,
devemos pedir ao Senhor que nos dispense proteção para que tenhamos força para
usar o tempo estabelecido de maneira adequada. Nunca nos esqueçamos de que
essas condições aparentemente adversas não são reais, mas enganosas, e são
usadas pelo inimigo como armadilha.
Evite
Tudo o Que Não é Oração
A fim de orarmos direito, existem muitas coisas que
devemos fazer. Dentre elas, é importante evitar tudo o que não é oração, pois o
inimigo não apenas sugará nossa energia, mas também tirará o tempo destinado à
oração e induzirá você a usá-lo com muitas palavras vazias. Isso é algo para o
qual você deve manter os olhos abertos, recusando-se a desperdiçar o tempo de
oração. As orações de muitas pessoas não são verdadeiras, pois elas empregam
palavras vazias que não produzem qualquer obra.
Certa vez, ouvi falar de um incidente relacionado a Evan
Roberts. No início, mal pude acreditar. Saibam que Evans Roberts foi o grande
reavivalista do País de Gales[12].
Em determinada ocasião, havia alguns crentes orando em sua sala por um assunto
específico. No meio da oração de um dos irmãos, Roberts foi até ele, colocou a
mão em sua boca e o impediu de continuar a orar, dizendo: "Irmão, não
prossiga, porque você não está orando." Quando li a respeito do ocorrido,
pensei que fosse impossível, mas, de fato, Roberts agiu dessa maneira. Hoje,
sei que ele estava correto.
Muitas palavras que usamos na oração vêm da carne.
Nossa prece pode ser longa demais e conter muitas palavras que não são
verdadeiras ou eficazes.
Freqüentemente, no tempo em que oramos, andamos em
círculos, gastando tempo e energia sem obter qualquer resposta para a genuína
oração. Ainda que você ore muito, sua oração não será respondida ou eficaz.
Você simplesmente emprega tempo e vigor de modo incorreto. A prece não precisa
ser longa demais. Não há necessidade de inserir muitos discursos. Vigie para
que não tenha muita justificativa em sua oração. Precisamos tão-somente
apresentar o desejo de nosso coração ao Senhor. Isso é o suficiente. Não
devemos acrescentar muitas outras coisas.
Se o que você diz são palavras vazias, você sabe que
Deus não o ouvirá. Logo, devemos observar e estar atentos. O que precisamos
ponderar? Não devemos dizer nenhuma palavra descuidada diante do Senhor. Havia
um cristão bastante poderoso na oração. Uma vez, ele escreveu um hino no qual
foi encontrado o seguinte sentimento: "Se você for até Deus, prepare,
antes, o que pedirá, por favor." Deixe-me perguntar: de que forma você
iria até um juiz apresentar seu caso? Com as mãos vazias? Não! Antes,
prepararia a petição. De maneira similar, devemos colocar-nos diante de Deus. Você
e eu devemos, primeiro, preparar aquilo pelo qual desejamos orar. Não devemos
aproximar-nos do Senhor sem ter idéia do que queremos. Muitas vezes, as orações
não têm poder, não realizam obra alguma e, logo, permanecem sem resposta. Tal
resultado pode ser atribuído, com freqüência, ao fato de que nossas orações não
têm objetivos em virtude de serem acompanhadas de palavras fúteis. Mais uma
vez, isso é manobra de Satanás. Ele nos leva a pronunciar palavras vazias, que
são completamente inúteis. Nesse caso, nossas preces serão ineficazes, sem
alterarem nada. Por esse motivo, devemos estar alertas na oração.
Assim, você deve, em primeiro lugar, saber o que seu
coração deseja. Você precisa ser transparente quando estiver pedindo algo a
Deus. Você não pode aproximar-se da presença de Deus sem anseios. Se não há
firmeza alguma em seu coração, não haverá oração verdadeira, pois todas as
orações são governadas pelo desejo do coração. Certa vez, um homem cego pediu
ao Senhor: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim! O Senhor lhe
respondeu: Que queres que Eu te faça?" (Mc 10.46-52). Hoje em dia, o
Senhor também faria a mesma pergunta a você: "Que queres que Eu te
faça?" Muitas pessoas podem orar durante 15 ou 20 minutos. Se você lhes
perguntasse o que pediram a Deus, é provável que não soubessem dizer-lhe nada
específico. Apesar de terem dito muitas coisas, não sabem o que querem. Não há
um desejo no coração dessas pessoas. Como você pode esperar ser usado por Deus
em oração se não prepara o coração? Devemos prestar atenção ao anseio de nosso
coração antes de orar. Procuremos o que realmente desejamos.
Há outro tópico de igual importância na oração que diz
respeito à fraseologia[13]
que usamos. Você se lembra de como uma mulher siro-fenícia foi até o Senhor, um
dia, e pediu que Ele curasse sua filha. O Senhor respondeu, dizendo: "Não
é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos." Essa mulher,
todavia, não se importou em ser chamada assim. Se ela era vista como um
cachorro, que fosse considerada um cachorro! Então, ela disse: "Sim,
Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das
crianças." Agora, ouça o que o Senhor lhe respondeu: "Por causa desta
palavra, podes ir; o demônio já saiu da tua filha" (Mc 7.24-30). Esse
incidente indica quão importante é a fraseologia que usamos perante Deus. O
Senhor respondeu ao pedido da mulher, pois ela havia pronunciado a sentença
correta. Por isso, além de ter um desejo adequado diante de Deus, devemos
também procurar falar as palavras certas para expressar esse desejo. Com quanta
freqüência temos verdadeiramente anseio dentro do coração ainda que, depois de
orar durante um tempo, nossas palavras desviem-se do alvo que temos. Note que
todas as orações poderosas têm excelente fraseologia. Contudo, essa observação
não quer dizer que devemos escrever uma boa oração e, depois, recitá-la para
Deus.
Agora, já compreendemos duas coisas importantes quanto
à oração: devemos prestar atenção no anseio do nosso oração e usar as palavras
apropriadas quando estivermos orando. Em seguida, notemos uma terceira coisa:
precisamos tomar cuidado com a forma de pedir. É algo patético verificar que
muitas pessoas que têm um desejo adequado e usam as palavras corretas não sabem
vigiar a si mesmas quando oram. Por isso, rapidamente suas palavras já se
desviaram — além do ponto de onde poderiam retornar. Por esse motivo, é preciso
que, na oração, tenhamos certeza de que nossas palavras não corram
selvagemente. Sobretudo, nas orações realizadas em voz alta, devemos examinar,
com cautela, se nossas palavras se afastaram do assunto principal. Se isso
aconteceu, devemos trazê-las de volta. Tal afastamento pode sobrevir com
rapidez, pois, embora, no princípio, tivéssemos realmente algo a pedir no
coração, à medida que pronunciamos as sentenças, podemos, inconscientemente,
sair do centro e direcionar as palavras para outros rumos. Se percebermos que,
de fato, abandonamos o ponto essencial, devemos recomeçar e redirecionar as
palavras para o tópico central. Precisamos ter cuidado para que nossa oração
"se amarre" ao objetivo que temos em mente sem nos distrairmos. Na
oração, é importante manter-nos vigilantes e firmes para que as palavras
desnecessárias sejam evitadas.
O que estou enfatizando é não permitirmos que
quaisquer palavras desnecessárias ou vãs se infiltrem em nossa oração. Devemos
guardar-nos dos discursos e justificativas que invadem as orações.
Em suma, os pontos que acabamos de discutir incluem
três coisas: primeiro, devemos ter um anseio no coração a fim de eliminar a
oração ineficaz, ou seja, precisamos ter em vista um objetivo específico pelo
qual pedir; segundo, precisamos utilizar a fraseologia correta — nossas
palavras devem ser certas; terceiro, devemos manter uma boa condição enquanto
estivermos orando, impedindo que palavras insignificantes sejam adicionadas à
oração a fim de que não façamos uma oração que não é oração.
Orando
em Todo Tempo
Para que a oração seja realmente eficaz, devemos
espalhá-la como se fosse uma rede. O que isso significa? Quer dizer que devemos
fazer todas as orações em uma só a fim de que nada pelo que precisamos orar
fique de fora. Não permitiremos que nada escape. Sem esta "rede de
oração", não seremos capazes de obter bons resultados. Uma pessoa que sabe
orar sabe como derramar completamente o anseio do seu coração diante de Deus.
Ela usará todos os tipos de oração para cercar, como se estivesse utilizando
uma rede, aquilo pelo que ora a fim de que o inimigo não consiga fazer nada.
Hoje em dia nossas orações são muito frágeis; não são suficientemente seguras.
Ainda que usemos muitas palavras, nossas orações não são bem cercadas e, por
isso, fornecem, ao inimigo, brechas pelas quais atacar. No entanto, se as
orações são semelhantes a espalhar redes, o inimigo não terá abertura pela qual
entrar. Logo, nossas petições serão percebidas pelo Senhor.
Tomemos o seguinte exemplo. Suponha que um irmão
estabelecido em determinada região vá pregar o Evangelho em uma área
delimitada. A fim de apoiá-lo, você tem o desejo de ser responsável por ele em
oração. Com essa deliberação, você deve levar à presença de Deus, em oração,
tudo o que pensa a respeito da missão do irmão naquela área específica. Você
ora por suas necessidades, pelo trem que deve pegar, pelos trilhos do trem,
pela passagem do irmão, pelos porteiros, pela bagagem, alimentação, saúde,
hospedagem e pelas pessoas que ele conhecerá no trem. Você ora pela casa na
qual ele ficará hospedado quando chegar, pelas pessoas da região, pelas
atitudes tomadas pelo irmão em meio às pessoas, pela pregação, pelo primeiro
esforço e por suas necessidades de comer e vestir-se. Em suma, ore por tudo o
que imagina ter relação com a missão. Você pode até orar para que ele receba
todas as suas encomendas e correspondências, pedindo que Deus proteja cada uma
das peças, e que nada seja roubado. Isso é fazer todas as orações em uma,
espalhando-a como rede sobre o irmão e deixando que nada fique sem orar a fim
de que ele tenha paz em tudo. Satanás não poderá fazer nada contra ele com essa
rede protetora. Com a oração de rede, a mão do inimigo é completamente atada.
E natural que esse tipo de oração exija vigilância,
pois, se não vigiar, não saberá que existem tantos aspectos pelos quais precisa
orar a seu favor. Uma oração apressada ou muito rápida, excessivamente
econômica no tempo, é normalmente uma oração descuidada, que concede espaço
para o adversário entrar. Muitas vezes, essa oração descuidada significa um
desejo superficial. Se você tem um desejo profundo, será compelido, pelo
encargo dentro de você, a orar todas as orações. Naturalmente, a questão sobre
a qual estamos falando tem uma íntima ligação com o conhecimento. Portanto,
você deve estar alerta e abrir os olhos para que consiga orar por tudo o que
observa e imagina. Se você não vigiar, sua oração poderá ser finalizada em duas
sentenças, já que você não tem mais nada pelo que orar.
Por isso, para servir ao Senhor com oração, precisamos
estar vigilantes quanto ao tempo, à atitude e a todos os aspectos até que se
tenha orado por todas as coisas. Não se trata de uma tarefa fácil, mas de uma
expressão de grande amor. Se não há amor, poderá haver intercessão? Sem o
verdadeiro amor, ninguém intercede — nenhum filho de Deus realiza o trabalho de
intercessão.
Vigiar
Depois da Oração
Um bom médico não apenas tomará cuidado ao prescrever
o remédio, mas também levará em consideração o efeito causado no paciente
depois de atendido, pois sabe que, à medida que os sintomas do paciente se
modificam, a fisiologia do mesmo também é alterada. Logo, o médico altera o
método utilizado. De forma semelhante, no que diz respeito à oração, você deve
estar atento para toda nova descoberta, alteração ou atitude depois de orar.
Você precisa observar continuamente se algum novo acontecimento aparece na
pessoa ou na coisa pela qual orou. De modo contrário, ainda que tenha orado,
sua oração não terá validade se não existir vigilância. E essencial que você
observe "o depois" da pessoa ou coisa pela qual orou. A oração não
deve reunir apenas todas as orações em uma só, mas acontecer em todo tempo. Não
ore apenas uma vez, mas muitas vezes. Não use apenas todas as orações de uma só
vez, mas em todo tempo. Sem vigilância, a oração se torna, com freqüência,
ineficaz. Logo, devemos vigiar depois de orarmos.
Veja outro exemplo com a seguinte situação. Suponha
que você ore por alguém que se oponha ao Senhor e peça a Deus que faça essa
pessoa crer Nele. Você ora pela pessoa, usando todas as orações e em todo
tempo. Enquanto isso, você crê que a promessa de Deus encontra-se em Sua
Palavra. Depois de vários dias, a situação parece piorar. A pessoa passa a
opor-se ainda mais ao Senhor. Muitas pessoas ignoram o fenômeno e continuam
fazendo as velhas orações, o que é errado. A oração, por si só, não é o
bastante. Você deve observar e apresentar a oposição dessa pessoa ao Senhor,
dizendo a Ele que o homem passou a opor-se mais ainda. Ao mesmo tempo, você
pergunta a Deus por que a condição dele piorou, e o que você deve fazer. Se
você estiver vigilante, Deus poderá iluminar seu entendimento e fazer com que
saiba que tudo isso se deve ao fato de que a sua oração tem atingido o inimigo.
Se não estivesse causando efeito, não haveria mudanças. O inimigo receia que
você ganhe esse homem e, por isso, cria uma oposição ainda mais intensa dentro
dele. Então, você já pode começar a louvar a Deus. Embora a oposição externa
tenha crescido, você sabe que sua oração alcançou aquela pessoa, e é por isso
que o inimigo precisa fazer um círculo mais apertado ao redor dela. Todavia,
você pode passar a fazer outro tipo de oração e lançar uma nova rede. Talvez,
depois de pouco tempo, a atitude do homem comece a abrandar-se. Antes, ele o
ignorava, mas, agora, parece estar disposto a conversar com você. É aí que você
precisa espalhar outra rede de oração. Em outras palavras, você precisa modificar
sua oração conforme a alteração das circunstâncias.
Entretanto, isso requer muita observação. Uma coisa é
certa: o conhecimento governa a oração. Quanto mais você for transparente com
relação a determinado assunto, mais facilmente orará por ele. Logo, se alguém
lhe pedir que você ore por alguma questão, esse alguém precisa dizer-lhe
claramente o que deseja a fim de que você possa orar de acordo com o que sabe.
A observação nos ajudará a perceber o rumo que nossa
oração deve tomar e quantas mudanças ocorreram na pessoa ou na coisa pela qual
estamos orando. Devemos, continuamente, estar atentos para notar o efeito que
exerce nossa oração à medida que a situação piora ou melhora, se avança ou
recua. Algumas vezes, precisamos continuar a observar uma pessoa, um trabalho,
uma provação ou até mesmo um irmão — pois não devemos apenas ter fé, mas sermos
sábios. Nossos olhos devem estar abertos mesmo quando estiverem fechados.
Precisamos fechar os olhos a fim de orar com fé pelas pessoas, mas também
precisamos abri-los a fim de observar qualquer mudança. Se simplesmente
fecharmos os olhos, o inimigo terá muitas oportunidades de enganar-nos. Em
Efésios 6, onde é mencionada a batalha espiritual, o elemento mais importante é
citado por último — que é a oração. Porém, esta oração precisa ser sustentada
pela vigilância. Apenas assim, nossa oração será eficaz.
Compreendamos que a essência básica é orar. Contudo,
se desejamos que nossa oração seja poderosa, devemos adicionar a ela a questão
da vigilância. Infelizmente, muitas pessoas, hoje em dia, não aprenderam a
fazer a obra da oração e possuem diversas incertezas. Atualmente, não temos
outro motivo senão esperar que Deus nos desperte para fazer esse trabalho. Por
favor, não esqueça que, na vida de cada filho de Deus, a faceta mais atacada de
seu caminho é a oração, pois, sem ela, não haverá poder. Por isso, Satanás
tenta, sobretudo, atrapalhar a vida de oração do cristão — fazendo com que ele
use muitas palavras vazias na oração, omita muitas coisas importantes sem a questão
ser adequadamente coberta em oração e não consiga observar as mudanças
ocorridas depois de orar.
A fim de aprender a orar de forma correta, a pessoa
precisa prestar atenção a esses cinco pontos. Embora esses tópicos sejam
aparentemente bastante simples, são muito profundos. As pessoas que têm orado,
durante anos, aprenderam bem essas cinco coisas. Por outro lado, os iniciantes
devem preocupar-se com esses cinco pontos. A medida que o tempo for passando,
eles terão mais experiência em orar. Que Deus seja misericordioso para conosco
hoje a fim de que prestemos atenção a esses cinco pontos.
Capítulo 6
O OUTRO ASPECTO DA
OFERTA PELA CULPA
Leitura:
"Falou mais
o SENHOR a Moisés, dizendo:Quando alguma pessoa pecar, e cometer ofensa contra
o SE-NHOR, e negar ao seu próximo o que este lhe deu em depósito, ou penhor, ou
roubar, ou tiver usado de extorsão para com o seu próximo; ou que, tendo achado
o perdido, o negar com falso juramento, ou fizer alguma outra cousa de todas em
que o homem costuma pecar, será, pois, que, tendo pecado e ficado culpado,
restituirá aquilo que roubou, ou que extorquiu, ou o depósito que lhe foi dado,
ou o perdido que achou, ou tudo aquilo sobre o que jurou falsamente; e o
restituirá por inteiro ainda a isso acrescentará a quinta parte; àquele a quem
pertence, lho dará no dia da sua oferta pela culpa. E, por sua oferta pela
culpa, trará, do rebanho, ao SENHOR um carneiro sem defeito, conforme a tua
avaliação, para a oferta pela culpa; tra-lo-á ao sacerdote" (Levítico
6.1-6).
Vamos estudar, com muita atenção, esse trecho das
Escrituras que fala a respeito da oferta pela culpa, que é um assunto muito
importante na Bíblia. São mencionados cinco tipos diferentes de ofertas nos
capítulos 1 a 6 de Levítico. Esses cinco tipos de ofertas tipificam os
diferentes aspectos do Senhor se oferecendo como sacrifício. Nosso Senhor Jesus
Cristo é o sacrifício de Deus, o que pode ser visto a partir de cinco
perspectivas diferentes. Somente se as considerarmos, a apresentação do
sacrifício será completa.
A
Relação Entre a Oferta pela Culpa e as Outras Quatro Ofertas
Qual é a relação entre a oferta pela culpa e as outras
quatro ofertas anteriormente citadas? A fim de respondermos a esta questão,
precisamos descrever esses quatro tipos de oferta antes de os compararmos com a
oferta pela culpa.
1. Holocausto. Significa a forma total e completa como nosso Senhor se oferece a
Deus. Não é para expiação, mas, ao oferecer-se voluntariamente a Deus, Ele
possibilita a obra de expiação.
2.Oferta de manjares. Não há sangue nesta oferta, pois ela tipifica a vida
do nosso Senhor. Sua vida na terra foi muitíssimo pura — Ele viveu de maneira
pura e delicada diante de Deus. A ênfase, nesta oferta, está em Sua perfeição.
Jesus é o perfeito Homem. Assim como a farinha é boa para os homens, para nós,
os que cremos, Jesus é nosso alimento espiritual.
3.Oferta pacífica. Simboliza o Senhor promovendo a paz entre Deus e os homens. Ele faz
com que fiquemos em paz com Deus, e com que Deus fique em paz conosco.
4.Oferta pelo pecado. Essa oferta sugere a forma como a obra redentora do
Senhor nos reconcilia com Deus. Jesus faz a expiação pelos nossos pecados a fim
de que possamos ser salvos por esta Sua obra.
5.Oferta pela culpa. Algumas pessoas podem perguntar qual é a diferença
entre a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa. "Pecado" indica a
soma total de todas as nossas transgressões diante de Deus, enquanto
"culpa" se refere aos pecados que cometemos diariamente, o que nos
torna, assim, responsáveis. É possível dizer que o sacrifício pelo pecado
destina-se ao pecado total, enquanto a oferta pela culpa é dedicada a vários
pecados específicos que podem ser contados.
Os
Dois Aspectos da Oferta pela Culpa
A oferta pela culpa contém duas partes: a primeira
está registrada em Levítico 5, e a segunda, em Levítico 6. No capítulo 5, a
Bíblia nos diz o que devemos fazer perante Deus pelo pecado que cometemos
diariamente contra Ele. O capítulo 6 nos mostra o que devemos fazer aos homens
se pecamos contra eles em nosso cotidiano. Agora, temos de focalizar a atenção
no capítulo 6, que se ocupa com a atitude que precisamos tomar se pecamos
contra nosso próximo depois de sermos salvos.
A
Importância da Oferta pela Culpa
Não me compreendam mal quando eu digo que essa oferta
pode salvar-nos. Já temos o holocausto, a oferta de manjares, a oferta pacífica
e a oferta pelo pecado - que nos salvam e dão-nos vida. Entretanto, a oferta
pela culpa dos capítulos 5 e 6 lida com o problema da comunhão com Deus. Ter
vida é uma coisa; ter comunhão é outra. Assim que você crê na morte
substitutiva de Cristo e O recebe como seu Salvador, você tem a vida eterna.
Porém, isso não significa que, no futuro, nunca faltará comunhão entre você e
Deus. Mesmo após alguns dias depois de ter sido salvo, é possível que você
perca a comunhão com Deus se voltar a pecar e recusar-se a arrepender-se. Nesse
momento, você sente estar longe de
Deus e acha difícil orar e ler a Bíblia. Isso não quer
dizer que não esteja mais salvo, pois, desde o momento em que creu, está salvo,
e esse fato nunca mudará. Contudo, sua comunhão com Deus é mutável com
freqüência. Se você não se livrar do pecado, perderá a comunhão com Ele. Muitos
são salvos, mas encontram grandes dificuldades para orar e ler a Palavra. Isso
pode ser conseqüência de não conseguirem lidar com os pecados cotidianos. No
mesmo instante em que somos salvos, recebemos a alegria da salvação e passamos
a sentir grande desejo de contar a todos como nos sentimos felizes por sermos
salvos. Infelizmente, tal alegria não dura muito. Por que a perdemos? Talvez,
tenhamos dito uma palavra cruel e pecado contra alguém. Por conseguinte,
sentimos vergonha de aproximar-nos de Deus. Pecamos contra alguém, que é outra
pessoa, mas aquele que perde a alegria é quem pecou. Pecamos contra os homens,
mas somos nós quem perdemos a comunhão com Deus.
Hoje, queremos aprender tanto a lição de como ser
salvos quanto a de manter uma comunhão viva com Deus diariamente, fazendo boas
orações, lendo a Bíblia e dando um bom testemunho todos os dias. Podemos perder
a comunhão ainda que nunca percamos a salvação: "Jamais perecerão, e
ninguém as arrebatará da Minha mão. Aquilo que Meu Pai me deu é maior do que
tudo, e da mão do Pai ninguém pode arrebatar" (Jo 10.28b, 29). Assim diz o
Senhor. Nunca perderemos a vida eterna, mas existe algo que podemos perder —
provavelmente, muitas vezes ao dia —, e trata-se de nossa comunhão com Deus.
Suponha, por exemplo, que um pai diga ao filho para
que se comporte e não faça determinadas coisas. Então, o filho desobedece e
pega um objeto do armário, brinca com más companhias ou suja as roupas. Quando
ouve seu pai chamá-lo, o filho não ousa encará-lo. Eles ainda têm um
relacionamento de pai e filho, mas, devido à desobediência, o filho não ousa fitar
o rosto do pai de imediato. O coração do menino bate descompassado ao ouvir a
voz do pai, pois sabe que algo está errado entre eles e pensa: "Como posso
olhar para ele?" Isso tudo mudará o relacionamento de pai e filho?
Certamente que não. Este relacionamento jamais mudará, mas a harmonia entre
eles se modificará.
De qualquer forma, observamos que a relação de Pai e
filho que temos com Deus é para toda a vida e não está sujeita a variar de
acordo com a condição mutável do nosso cotidiano. O que muda é que perdemos a
comunhão diária com Deus.
A oferta pela culpa nos leva à restauração da comunhão
que tínhamos com Deus. Assim como a oferta pelo pecado leva os pecadores a
crerem no
Senhor Jesus, a oferta pela culpa faz com que os
cristãos voltem a ter comunhão com Deus. A oferta pelo pecado tira os pecados
que cometemos nos dias em que ainda éramos incrédulos, mas a oferta pela culpa
livra-nos do que impede nossa comunicação diária com Deus. Uma nos dá vida; a
outra nos concede comunhão.
A
Oferta pela Culpa Relaciona-se aos Homens
Já mencionamos os dois aspectos da oferta pela culpa:
o quinto capítulo de Levítico nos mostra o que devemos fazer se pecamos contra
Deus, e o sexto capítulo indica o que devemos fazer se pecamos contra os
homens. O segundo aspecto é o assunto sobre o qual estou falando. Se pecarmos
contra os homens, fazendo com que nossa comunhão com Deus seja interrompida, o
que deveremos fazer? Simplesmente lembrar que o capítulo 6 não lida com a
salvação para vida, mas com a forma de reaver a comunhão com Deus.
Algumas
Ofensas Contra os Homens
"Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo" (Lv
6.1). Isso indica que as coisas que são ditas em seguida provêm de Deus e não
de Moisés. É Deus quem nos diz quais são as coisas pelas quais podemos ofender
outras pessoas. É como se Deus estivesse fornecendo-nos uma lista.
"Quando alguma pessoa pecar, e cometer ofensa
contra o SENHOR" (V. 2). Se as ofensas listadas a seguir são cometidas
contra os homens, por que aparecem as palavras "e cometer ofensa contra o
SENHOR"? Porque quaisquer ofensas cometidas contra os homens também
ofendem o Senhor. Deus é o Criador da humanidade, e, por isso, todo pecado
cometido contra os homens constitui pecado contra Deus.
1. Ser indigno de confiança
"Negar ao próximo o que este lhe deu em
depósito" (v. 2). Tal pecado certamente interromperá nossa comunhão com
Deus. Alguém já lhe confiou algo? Uma vez, quando eu voltava para Foochow[14],
alguém me pediu que eu levasse algumas mangas para minha segunda tia. Por ser
uma fruta tropical, a manga estraga com facilidade.
Embora eu me esforçasse para que não estragassem, a
cor das mangas modificou-se, e elas estavam chegando a ponto de serem jogadas
fora. Pensei: "Se eu levá-las para casa, provavelmente estragarão. Então,
por que não as dou para que os outros passageiros do navio possam
comê-las?" Assim, guardei três mangas verdes e dei o restante para os
passageiros a bordo. Quando eu me aproximava de casa, porém, senti-me
desconfortável, pois eu não havia sido fiel à confiança do meu vizinho, já que
as mangas não me pertenciam. Quer estivessem verdes ou estragadas, eu deveria
tê-las entregue à minha segunda tia. Senti medo de explicar a ela o que
acontecera — ainda que não explicar fosse igualmente difícil, pois faria com
que a minha injustiça crescesse. Enfim, expliquei-lhe o que havia acontecido no
navio.
Se as pessoas nos confiassem 50 dólares, é provável
que fôssemos fiéis. Porém, se nos confiassem 50 centavos, talvez, não seríamos
honestos, pois a quantia seria pequena, e não lhe daríamos tanta importância.
No entanto, tal conduta seria negar algo às pessoas, o que nos faria perder a
comunhão com Deus. Se nos pedem que entreguemos uma carta, não podemos abri-la
e ler o conteúdo ainda que desejemos verificar o que está escrito. Agora, não seria
problema se, sem querer, a espiássemos, mas seria errado se quiséssemos sondar
os segredos dos outros, pois isso pode evitar que tenhamos e vivamos íntima
comunhão com Deus. Tenho medo de que muitos não estudem a Bíblia corretamente
em virtude de não terem tratado com esse pecado. Se não somos dignos de
confiança e não tratamos com esse pecado, podemos perder a liberdade de manter
comunhão com Deus, o que é vital manter.
2. Negar em penhor
"Negar (...) o que este lhe deu (...) em
penhor" (v. 2). Acima, é mencionada uma ocorrência bastante comum ainda
que, para nós, não seja comum, mas muito especial — trata-se de mentir no
comércio. Entenda, por favor, que não é um assunto de comerciantes, mas até as
pessoas que não trabalham na área podem cometer esse pecado. Trata-se de uma
questão que preocupa a todo irmão e toda irmã em Cristo.
Certa vez, ouvi falar que uma família composta por
quatro pessoas estava em um ônibus. A mãe pediu que o filho separasse 70
centavos para dar ao cobrador depois. Na verdade, ela deveria pagar 72
centavos, mas tentou poupar dois. Isso não foi desonestidade do cobrador, mas
do passageiro. Às vezes, em um ônibus, três pontos de parada podem ser passados
antes que o cobrador venha receber o valor da passagem. Você será honesto e pagará
o valor total, ou pagará apenas o valor do ponto em que vai descer?[15]
Você pode pensar: "Por que não guardar o dinheiro
para mim em vez de colocá-lo no bolso do cobrador?" Trata-se de uma
atitude injusta. Um cristão não deveria negar o que deve. Nós, cristãos, não
deveríamos ser negligentes para com esses assuntos. Às vezes, ao comprarmos,
podemos receber, de troco, dois centavos a mais. Se nos sentimos felizes com o
dinheiro extra, isso indica que amamos o pecado. Você pode pensar que é uma
coisa pequena, mas, como crentes, não podemos deixar nada escapar.
Certo irmão me disse que, se não contarmos nem sequer
uma mentira, nenhum negócio poderá progredir. Contudo, deixe-me dizer que
devemos ser honestos no trabalho. No começo, pode parecer difícil seguir esse
princípio, mas, no final, será lucrativo. Muitos irmãos honestos podem
testificar do que estou falando. Não precisamos mentir e não devemos mentir. Se
mentirmos no comércio e vendermos com fraude, perderemos a comunhão com Deus.
Isso é algo que devemos tratar.
3. Roubar outras pessoas
"Ou furtar" (v. 2). Furtar ou usurpar é
cometer o mesmo pecado. Se algo que não lhe pertence é obtido pela força ou por
um método impróprio, isso é roubo ou furto. Por exemplo, suponha que você seja
incumbido de executar a vontade de alguém que já morreu. Você é fiel em
realizar essa vontade ou tenta reter algo para si próprio? Se você alterar a
vontade do morto por meio de fraude a fim de encaixar suas preferências, você
pegará a parte legítima das outras pessoas. É possível que alguns de vocês
tenham sido oficiais ou fiscais no passado. Tudo o que ganharam por algum
método ilícito pode ser considerado roubo.
Creia no Senhor e receba vida — este é um fato
espiritual. Todo aquele que confia no sangue do Cordeiro tem seus pecados
perdoados — isto também é um fato espiritual. Entretanto, se você peca contra
outra pessoa, Deus não pode perdoar-lhe em nome dessa pessoa. Suponha, por
exemplo, que eu peque contra o irmão Wong. Deus não pode perdoar-me em nome do
irmão Wong se eu apenas confessar meu pecado a Deus. O pecado cometido contra
os outros homens deve ser tratado verdadeiramente, pois pode, com certeza,
interromper a comunhão com Deus.
4. Oprimir um vizinho
"Ou tiver usado de extorsão para com o seu
próximo" (v. 2). O termo "vizinho", no Antigo Testamento, indica
outra pessoa e não necessariamente alguém que more por perto. Trata-se de um
hebraísmo. Se a sogra oprime a nora, os pais oprimem os filhos, os professores
oprimem os alunos, e os ricos oprimem os pobres, qualquer uma dessas situações
pode ser considerada "oprimir o vizinho", e é um ato do qual Deus não
se agrada. Nenhum de nós pode viver sem tomar cuidado, mas devemos lidar com
essas coisas. Muitos maridos são bastante indiferentes; muitas esposas, cruéis;
muitas mães, sem misericórdia. É muito freqüente oprimirmos as pessoas e
tratá-las como se fossem empregadas - embora todas tenham sido criadas por Deus
da mesma forma, e, por isso, não deveriam ser tratadas com grosseria. Às vezes,
elas estão erradas e deixam de ser razoáveis, mas não vivem no ambiente em que
vivemos nem têm a educação e a posição que temos.
Como podemos esperar que elas sejam compreensíveis
tanto quanto nós? Até mesmo quando estão erradas, não podemos oprimi-las. O
cristão não deve ser injusto com os outros e não pode oprimir quem quer que
seja, pois Deus não se agrada desse tipo de atitude.
5. Negar a devolução de coisas perdidas
"Tendo achado o perdido, o negar com falso
juramento" (v. 3). Ainda que não levemos esse assunto a sério, trata-se de
uma ofensa. Podemos pensar que não seja injusto pegar algo perdido. Porém, Deus
declara que essa atitude indica negar a devolução. Nenhum cristão deve pegar
para si o que não lhe pertence. Muitos acreditam que é melhor o dinheiro parar
em seu bolso do que no bolso de outra pessoa, mas esse é um pensamento injusto.
Certa vez, em um bonde, vi uma pessoa deixar cair uma moeda enquanto contava o
dinheiro para o bilhete. Imediatamente, outra pessoa pisou na moeda para que a
primeira não conseguisse encontrá-la. Não devemos pegar nada que não nos
pertença — ainda que seja um lenço, um chapéu, uma caneta ou uma
correspondência —, pois se trata de injustiça. Podemos ter agido assim no
passado, mas tentemos fazer o melhor para devolver todas as coisas. Devemos restituir
o objeto perdido à pessoa que o perdeu ou entregá-lo às autoridades locais. De
forma contrária, estaremos pecando.
6. Jurar com mentiras
"Negar com falso juramento" (v. 3). Nesta
passagem, a mentira tem uma relação especial com o que foi mencionado antes. Se
você pegar um objeto que não lhe pertence e jurar que não o pegou, estará
mentindo. Tal atitude, além de ser incorreta, é inteiramente condenada por
Deus. Nunca devemos mentir a fim de escapar de alguma dificuldade.
No geral, mentir é uma maneira usada para não ser
pego. Existem três motivos principais pelos quais as pessoas mentem:
1.Por orgulho. A mentira é usada para proteger o orgulho de alguém, ou seja, se este
alguém fizer algo errado, ele mentirá e colocará a culpa em outra pessoa a fim
de sair ileso;
2.Por estar sujeito a uma disciplina exigente
demais. A mãe que exige demais
produzirá filhos mentirosos; a professora excessivamente severa terá alunos
mentirosos; o patrão muito exigente acabará gerando empregados mentirosos.
Quando exigimos demais das pessoas, é provável que as façamos mentir. Se você
for mais complacente, as pessoas lhe contarão quando tiverem feito algo errado.
Todavia, se não perdoar o menor deslize, as pessoas tenderão a mentir com o
intuito de evitar problemas;
3. Pela vontade de tirar proveito. Se você pode ganhar 100 dólares se mentir, por que
não mentir? Mentir pode fazer com que você lucre. Algumas pessoas mentem por
orgulho. Outras, porque se encontram em circunstâncias rígidas demais. Ainda
outras mentem para lucrar. A mentira é condenada por Deus, e mentir para
conseguir algum benefício é duplamente condenado.
Suponhamos que você seja enfermeira e pretenda levar
para casa um pouco de algodão e remédio pertencentes ao hospital. Para essa
finalidade, você diz ao empregado do depósito que o material se destina aos
pacientes e, assim, acaba mentindo a fim de tirar algum proveito. É bastante
fácil mentir para ter lucro com coisas ilícitas, mas o cristão não deve
fazê-lo. Eu só não me sentirei culpado se algum proprietário me der esse objeto
ou permitir que eu me aposse dele.
Como
Lidar com as Culpas
Se cometermos tais ofensas (ou culpas), o que
deveremos fazer? Sabemos, é claro, que, de fato, precisamos lidar com a
questão. "Será, pois, que, tendo pecado e ficado culpado (...)" (v.
4). Pecar é um ato, e ficar culpado é ser acusado diante de Deus. O que devemos
fazer quando estamos sendo acusados diante de Deus? "(...) restituirá
aquilo que roubou, ou que extorquiu, ou o depósito que lhe foi dado, ou o perdido
que achou, ou tudo aquilo sobre o que jurou falsamente; e o restituirá por
inteiro ainda a isso acrescentará a quinta parte; àquele a quem pertence, lho
dará no dia da sua oferta pela culpa" (vv. 4, 5). Trata-se de uma
ordenança muito importante. Em primeiro lugar, devolva por inteiro o que pegou.
Tudo o que não nos pertence não deve permanecer em nossa casa. Como você pode
esperar que a sociedade seja limpa se você, sendo cristão, não o é? Como você
espera que as outras pessoas devolvam o que pegaram se você, sendo cristão, não
as devolve? Todo cristão precisa ser limpo. Temos de devolver ou pedir
desculpas tão logo pudermos.
Existe uma diferença básica entre a natureza da oferta
pelo pecado e a natureza da oferta pela culpa. A oferta pelo pecado significa
"conciliar", ao passo que a oferta pela culpa, "restituir".
Não somos capazes de devolver para Deus nada concernente ao que pecamos. Também
não podemos conciliar-nos com os homens se pecamos contra eles. O pecado que
cometemos deve ser propiciado diante de Deus pelo sangue do Seu Cordeiro. No
entanto, quando pecamos contra os homens, precisamos fazer restauração em vez
de propiciação. Se somos infiéis na questão do depósito ou se lucramos por
meios impróprios, devemos restituir ao dono. Se não fizermos a devolução (ou
restituição), não poderemos oferecer uma oferta pela culpa. Ser perdoado por
Deus, pelo sangue do Senhor Jesus, é algo verdadeiro. Porém, você acabará
perdendo a comunhão com Deus se, ao pecar contra os homens, recusar-se a fazer
a devolução. Sempre que você pensar no que fez,
sua consciência ficará inquieta. Assim, você não terá liberdade de estabelecer
comunhão com Deus. Uma vez, F. B. Meyer[16]
foi convidado para participar da Conferência de Keswick, na Inglaterra. Qual
foi a primeira mensagem que ele pregou naquela época? Ele disse: "Devemos
compreender algo se pretendemos que Deus nos abençoe e reavive. Precisamos
entender que, enquanto não acertarmos as dívidas que restam, não receberemos
bênçãos nem seremos reavivados." Essa palavra foi muito eficaz, pois, no
dia seguinte, todas as ordens de pagamento foram esgotadas no correio de
Keswick. A partir desse incidente, é possível concluir que muitos cristãos são
injustos.
Muitas pessoas dirão: "Não matamos ninguém nem
ateamos fogo em nenhuma casa!" Mas me deixe dizer que, caso você deva
alguma coisa a alguém, a pendência pode fazer com que perca a comunhão com
Deus. O sangue de Cristo purifica nossos pecados, pois limpa-nos a consciência
— mas não limpa nosso coração. Nosso coração só será purificado quando
acertarmos nossas relações terrenas.
Surge uma situação mais difícil quando o cabeça de uma
família fundamenta seu lar sobre uma base injusta. Se esta injustiça não for
tratada, será quase impossível estabelecer uma boa comunhão com Deus, pois sua
consciência será pressionada, e seu crescimento, impedido. Contudo, sempre que
estiver ao seu alcance, devolva o que não lhe pertence. Se a devolução for
impossível em virtude de circunstâncias peculiares, o Senhor aceitará o seu
coração bem-intencionado. Por exemplo, determinado irmão devia dezenas de
milhares de dólares. Ele havia ganho uma enorme quantidade de dinheiro por
meios ilícitos, mas, então, gastou quase tudo, e apenas alguns milhares de
dólares sobraram.
Todavia, ele precisava sustentar os filhos e me
perguntou o que deveria fazer. Eu lhe disse: "Se você tivesse 50 dólares
no banco, você se recusaria a devolver o dinheiro que deve? Se sim, não seria
por causa de falta de dinheiro, mas pela sua falta de vontade de
devolvê-lo." Se esse fosse o caso, Deus não o livraria. A consciência
desse homem, a partir de então, não lhe daria paz. Por isso, aconselhei-o a
devolver tudo o que tinha. Eu lhe disse que era muito melhor ser pobre do que
ter uma consciência perversa. Enquanto você não lidar com os seus pecados, sua
energia espiritual será sugada.
Acrescente a Quinta Parte
"Restituirá por inteiro ainda a isso acrescentará
a quinta parte" (v. 5). Suponhamos que você deva cinco dólares. Segundo a
Palavra, você deve devolver seis — o dólar extra é o juro. Qualquer ofensa
cometida contra as outras pessoas e qualquer coisa adquirida por meios
impróprios devem ser devolvidas por inteiro e ter acrescentada a quinta parte a
fim de recompensar o prejuízo causado pelas atividades ilícitas. A quinta parte
também significa que é bom acrescentarmos mais na devolução. Ao devolver alguma
coisa, não restitua a quantia exata, pois é sempre melhor devolver um pouco
mais a fim de que não prejudiquemos ninguém. Trata-se de um princípio
importante. Imaginemos, por exemplo, que eu tivesse uma discussão com o irmão
Wong. Assim, eu deveria pedir-lhe desculpas depois. Se eu dissesse ao irmão
Wong: "Eu não deveria ter discutido com você hoje. De fato, eu não me
comportei como um cristão, mas você também não deveria ter discutido comigo",
eu estaria errado. Na verdade, reconheci minha culpa, mas apenas restituí por
inteiro e não acrescentei a quinta parte. Se, depois disso, eu mencionar a
culpa do outro, estarei demonstrando um coração incapaz de perdoar. Por isso,
quando pedirmos desculpas, é melhor fazer algo a mais. Devemos ter a atitude de
não apenas devolver o inteiro, mas acrescentar a quinta parte. Isso é um
princípio muito eficiente. Precisamos aumentar a margem de lucro. Devemos
apenas confessar o pecado que cometemos em vez de atingir a outra pessoa
também. Devolvamos a quinta parte conforme ordenou o Senhor. Aumentemos a
margem de lucro.
O
Tempo de Devolver
"Aquele a quem pertence, lho dará no dia da sua
oferta pela culpa" (v. 5). Isso nos diz que, no dia em que nos encontrarmos
culpados, precisaremos fazer a devolução. Não há necessidade de esperar. Assim
que descobrimos, devemos devolver. Não temos necessidade de esperar o mover do
Espírito, uma vez que o Espírito Santo obviamente já se moveu com o intuito de
fazer-nos perceber o pecado que cometemos. Não espere, mas restitua hoje. Não
demore, pois a demora pode causar dois efeitos prejudiciais. Em primeiro lugar,
a voz da consciência pode deixar de falar. É precioso sempre que a consciência
fala. Porém, é terrível quando deixa de falar. Em segundo lugar, a acusação da
consciência pode tornar-se tão forte, que sua boca deixa de testemunhar, e você
passa a não ter paz.
Portanto, se ofendemos alguém, tratemos de acertar-nos
com a pessoa imediatamente. Se devemos alguma coisa a alguém ou possuímos
coisas que adquirimos por meios ilícitos, devemos restituí-las ao dono
original. Não seja iludido pelo pensamento de que, se ofender os homens, você
deve tão-somente confessar sua culpa a Deus e não a quem ofendeu. Não pode ser
assim. Deus lhe perdoará por causa do sangue de Jesus, mas não lhe perdoará
pelos outros homens. Faça a devolução no mesmo dia em que descobrir o que deve.
Toda demora fará com que você perca a força de agir. A restituição requer
força, e o dia da descoberta é o melhor.
Trazer
a Oferta pela Culpa
"E, por sua oferta pela culpa, trará, do rebanho,
ao SENHOR um carneiro sem defeito, conforme a tua avaliação, para a oferta pela
culpa; tra-lo-á ao sacerdote" (v. 6). Essa é a segunda coisa a fazer.
Depois de ter devolvido o que devia ao proprietário, você precisa fazer outra
coisa. Embora tenha feito a restituição aos homens, não receberá o perdão de
Deus enquanto não Lhe houver oferecido uma oferta pela culpa. Ninguém no mundo
pode receber o perdão divino apenas pela confissão. Se alguém pecar contra
Deus, receberá o perdão pelo sangue de Jesus. Todavia, se pecar contra o
próximo, deverá, primeiro, acertar-se com ele e, depois, dizer a Deus:
"Senhor, sei que pequei contra meu próximo, mas já me acertei com ele.
Agora, peço-Te que perdoes meu pecado pelo sangue de Jesus Cristo."
"E o sacerdote fará expiação por ela diante do
SENHOR, e será perdoada de qualquer de todas as cousas que fez, tornando-se,
por isso, culpada" (v. 7).
Não existe pecado grande demais para Deus perdoar. A
questão se baseia em confessarmos ou não, pois o sangue do Senhor Jesus é capaz
de conceder-nos o perdão e restituir-nos a comunhão com Deus.
Vejamos, claramente, o lugar que a confissão ocupa na
Palavra de Deus. Alguns defendem a tese de que há perdão sem confissão de
pecados, o que não é adequado. Outros defendem o perdão pela confissão dos
pecados, o que é demais. De acordo com a Bíblia, se alguém peca contra o
próximo, deve acertar-se com ele e confessar a Deus o pecado cometido. Então,
Deus lhe perdoará pelo sangue do Senhor Jesus. Confessar a Deus sem acertar o
assunto com o próximo não pode produzir paz na consciência ou conceder à pessoa
força para crer no poder do sangue de Jesus Cristo. Sem o sangue do Senhor, o
pecado não pode ser perdoado. Sem a confissão ao próximo, o sangue de Cristo
também não será disponível para perdoar.
Nossa expectativa hoje é tratar com tudo em que
tenhamos pecado contra os homens a fim de que não percamos a comunhão com Deus.
Capítulo 7
BEM-AVENTURADOS SÃO OS MANSOS[17]
Leitura:
"E Moisés foi educado em toda a ciência
dos egípcios e era poderoso em palavras e obras" (Atos 7.22).
"Sendo o
menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, da qual passou ele a ser
filho. Esta lhe chamou Moisés e disse: Porque das águas o tirei" (Êxodo
2.10).
'Estando Moisés
no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor e o quis matar" (Êxodo 4.
24).
Quando prestarmos atenção na diferença existente entre
a sabedoria de Deus e a sabedoria do homem, veremos como Deus julga e rejeita a
sabedoria do homem tanto na vida quanto na obra para que sejamos aceitáveis aos
Seus olhos.
Antes de prosseguir, porém, precisamos, em primeiro
lugar, conhecer os três aspectos da carne que mais resistem a Deus, pois eles
precisam ser trabalhados para conseguirmos fazer a boa obra do Senhor. Quais
são estes aspectos? Primeiro, a sabedoria da carne; segundo, a força da carne;
terceiro, a vanglória da carne. Se eles ainda não foram crucificados, não
conseguiremos fazer boas obras, porquanto permanecem em relação adversa à obra
de Deus. Na verdade, destroem a obra divina. Seguem sempre a mesma ordem:
sabedoria, força e, enfim, vanglória. Essa é a ordem natural, e estes aspectos
estão estritamente ligados entre si.
A
Tática Operacional de Deus: Trabalhar com o Homem em Primeiro Lugar
Moisés foi o primeiro servo escolhido por Deus, a
primeira pessoa chamada por Deus para servir. Embora Abraão, Isaque e Jacó
tenham vivido antes do tempo de Moisés, eles não foram, estritamente falando,
servos de Deus, pois não estavam comprometidos com Deus por meio de um acordo
escrito. Assim como Paulo pode ser considerado o primeiro servo escolhido por
Deus nos tempos do Novo Testamento, Moisés pode ser reconhecido como o primeiro
servo escolhido no período do Antigo Testamento. Como Deus operou em Moisés? De
que maneira Moisés agradou a Deus? Antes de tratar com os filhos de Israel,
Deus teve de tratar com Moisés. Antes de poder tratar com Faraó e com os
egípcios, Deus precisou tratar com Moisés.
Certa vez, um
servo do Senhor escreveu o seguinte: quando um homem pensa em fazer alguma
coisa, ele sempre pensa na maneira de fazê-la. Porém, quando Deus pretende
fazer algo, Ele normalmente tenta, antes de tudo, encontrar o homem. Se Deus
não encontrar a pessoa certa, Ele não terá como fazer o que pretende. Hoje, na
Igreja, dispomos de todas as maneiras, organizações e de todos os lugares, mas
será que temos homens? Pois Deus não enfatiza a maneira, mas o homem. Como são
diferentes as idéias de Deus e as dos homens! As pessoas presumem que um bom
método trará um resultado satisfatório. Todavia, não conseguem pensar na pessoa
que executa o método e, por conseguinte, são incapazes de obter o bom fruto
esperado.
Obviamente, a questão não é se Deus pode ou não
encontrar pessoas com grandes talentos nos dias de hoje. O que Deus não
consegue encontrar são pessoas utilizáveis. Três meses depois de ter nascido,
Moisés foi colocado nas águas. Mais tarde, foi retirado pela filha de Faraó que
o adotou. Por isso, deu-lhe o nome de "Moisés", que significa
"tirado das águas". Moisés foi o primeiro a ser retirado das águas.
Posteriormente, a multidão dos filhos de Israel seguiria o mesmo percurso ao
ser retirada (na experiência do mar Vermelho). No deserto, Deus tratou com
Moisés primeiro e, depois, no mesmo deserto, tratou com os filhos de Israel
após terem sido tirados do Egito por Moisés. Se nós não somos libertados, não
podemos esperar que as outras pessoas sejam libertadas. Se nós não temos visão,
como podemos esperar que os outros vejam a maneira como Deus age? Se nós não
caminharmos, ninguém mais será capaz de seguir. Hoje, Deus deseja trabalhar
conosco em primeiro lugar. Depois que Ele tiver ganho alguns de nós, poderemos,
então, ganhar outras pessoas.
No princípio da era da graça, Deus tomou algumas
poucas pessoas pelas quais foi capaz de alcançar todo o mundo romano com o
Evangelho em três décadas. Muitas novas assembléias foram levantadas. Deus
apoderou-se, sobretudo, de Paulo, que pregou o Evangelho até os confins do
mundo romano. Muitos creram na Palavra. Se fôssemos, hoje, como Paulo foi no
primeiro século, o Evangelho já teria sido pregado em todas as nações. Não
teríamos necessidade de recorrer a vários meios de levantar, multiplicar ou
arrecadar dinheiro a fim de levar as pessoas a conhecer a verdade. Se
tão-somente fôssemos ganhos por Deus, tudo daria certo. Ele pode usar você? O
resultado da obra que você realiza provém do fato de você ser usado por Deus ou
de você usar certos meios?
A fim de libertar os filhos de Israel, Deus precisou,
primeiro, apoderar-se de Moisés. Sem ele, Deus não poderia ter salvo os
israelitas. Se Ele não tivesse conseguido um homem, não teria nenhum método. Se
o primeiro homem não tivesse sido tirado das águas, os muitos que viriam depois
não teriam sido tirados também. Se Deus não tivesse salvo Moisés primeiro, Ele
não poderia ter salvo a nação de Israel. O mesmo princípio se aplica a nós
hoje. Se Deus não usar você, Ele não terá outra maneira. Se o Espírito Santo
não tiver a oportunidade de enchê-lo, Ele não poderá operar através de você a
fim de trazer a salvação aos outros. Você simplesmente não terá poder de fazer
a obra, pois o poder e a vida de Deus não têm como fluir. Apenas por intermédio
de você, as riquezas divinas podem ser manifestadas. A fim de ser uma pessoa
que Deus pode usar, você deve fazer duas coisas: confiar e obedecer.
Deus fez uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó e,
nessa aliança, prometeu libertar seus descendentes. Ele viu como os filhos de
Israel eram maltratados pelos egípcios e ouviu o clamor do povo. Assim, Deus
pretendeu salvá-los de acordo com a aliança que havia feito com eles.
Entretanto, percebam, por favor, que, para salvar o povo, Deus precisava
encontrar, primeiro, um canal que servisse de ligação entre Ele e o povo que
salvaria. Em primeiro lugar, Deus teria de conseguir este canal e, então,
poderia operar. Moisés foi o canal usado por Deus, e ele não O decepcionou.
Deus foi capaz de usá-lo com poder. Atualmente, muitos crentes têm decepcionado
o Senhor, pois Ele não consegue usá-los. Deus está à procura do homem do qual
Ele precisa e o qual possa usar.
Deus
Precisa do Homem Que Conhece a Cruz
A qualificação para fazer a obra de Deus não se
encontra no estudo teológico, na fé sólida, no entusiasmo e no amor pelas almas,
mas no fato de a pessoa estar totalmente tomada por Deus. Ele precisa de homens
e mulheres que tenham sido, eles mesmos, crucificados a fim de pregar aos
outros a cruz de Seu Filho.
Paulo declarou: "Porque decidi nada saber entre
vós, senão a Jesus Cristo e Este crucificado" (1 Co 2.2). O apóstolo sabia
apenas isso e nada mais. Não vamos inferir, de maneira incorreta, que Paulo
estava enfatizando a pregação. O que ele realmente ressaltava era o
conhecimento. Quer estivesse em casa ou no exterior, quer estivesse sozinho ou
com outras pessoas, quer estivesse convencendo indivíduos ou pregando em
público, Paulo conhecia a cruz e passou a vida inteira à sombra da cruz. Na
época em que vivemos, Deus precisa muito mais de pessoas que conheçam a cruz do
que de pessoas que preguem sobre a cruz.
Quando Paulo estava fazendo a obra entre os coríntios,
ele disse que nada conhecia a não ser Jesus Cristo, e Este crucificado. Era
assim que o apóstolo pregava sobre a cruz: "Eu, irmãos, quando fui ter
convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de
linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus
Cristo e Este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu
estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em
linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração de Espírito e de poder,
para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana e sim no poder de
Deus" (1 Co 2.1-5).
Por favor, lembre-se de que, se você não fizer a obra
com o poder de Deus, tudo o que realizar será em vão. Ao pregar o Evangelho,
Paulo não usou palavras persuasivas de sabedoria, mas o poder de Deus. Sua
atitude era a de considerar-se em fraqueza, temor e grande tremor (1 Co 2.3).
Deus deve fazer com que você abra mão da própria sabedoria, inteligência e
habilidade antes de poder usá-lo. Hoje em dia, Ele está procurando pessoas que
não confiem em si mesmas e não sejam voluntariosas. Se o Senhor encontrar tais
pessoas, Ele as usará de acordo com a medida em que não confiam nas próprias
capacidades. Contudo, muitas pessoas acham que, por ter a fé ortodoxa e
entender a Bíblia, estão capacitadas para servir a Deus. Porém, gostaria de
declarar que o Espírito Santo só pode agir por meio daqueles que estão
completamente entregues nas mãos de Deus. Apenas estes indivíduos podem ser
canais para o fluir do poder da vida divina.
Assim como Moisés foi o primeiro a ser tratado por
Deus, você e eu também devemos ser tratados por Ele. Se Deus não tivesse
trabalhado com Moisés, Ele não teria como trabalhar com os filhos de Israel. Se
Deus não tivesse lidado com Moisés, Ele não poderia ter lidado com Faraó e com
os egípcios. Se Ele não puder tratar conosco, não terá como tratar com as
pessoas do mundo e com os espíritos malignos. Será que já fomos verdadeiramente
tomados por Deus? Se sim, Ele será capaz de lidar com Satanás e com as pessoas
mundanas.
"E estando prontos para punir toda desobediência,
uma vez completa a vossa submissão" (2 Co 10.6). Paulo precisava falar aos
crentes de Corinto desta maneira, pois sabia muito bem que não conseguiria
lidar com aqueles que estavam em rebelião contra Deus se a maioria dos cristãos
não fosse tratada antes. Ele teve de esperar que os cristãos de Corinto
obedecessem, e, apenas quando submeteram-se, conseguiu lidar com os rebeldes.
Se os cristãos não tivessem sido tratados antes, Paulo não teria como tratar
com os poucos remanescentes.
Deus
Trabalha com Moisés
A partir de Atos 7.22, podemos compreender a educação
que Moisés recebeu nos primeiros anos de vida: "E Moisés foi educado em
toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras". Ele
aprendeu toda a sabedoria do Egito e tornou-se eloqüente e mais capaz. Mesmo
assim, o aprendizado, a habilidade e o brilhantismo com as palavras e obras não
o qualificaram para ser usado por Deus. Ao contrário, tais complementos
passaram a ser os motivos pelos quais Deus não poderia usá-lo.
Ah! Como os homens buscam sabedoria e poder! Porém,
Deus procura os loucos e os fracos. A Primeira Epístola aos Coríntios fala a
respeito da sabedoria e do poder de Cristo. Além disso, declara que Deus
escolhe o louco e o fraco. Os gregos buscam sabedoria, e os judeus, milagres
que demonstrem poder. Todavia, Deus coloca de lado a sabedoria e o poder dos
homens, pois, onde há sabedoria humana, há poder carnal. A sabedoria e o poder
humanos só podem ser eficazes nas relações humanas. Se tais homens forem usados
na obra de Deus, eles a destruirão.
Deus usará tão-somente o poder e a força do Espírito
Santo a fim de realizar Sua obra. Esta força e este poder são manifestados
pelos fracos e loucos. A menos que sejamos levados por Deus, de forma prática,
a abrir mão da sabedoria e do poder que temos e passarmos a ser fracos e loucos
diante Dele, Ele não nos poderá usar.
Como
Deus Tratou com a Sabedoria e o Poder Carnais de Moisés
Todos nós já estamos familiarizados com Moisés. Ele
tinha eloqüência, sabedoria, poder e conhecimento. Ele sentia que poderia fazer
alguma coisa com esses talentos. Quando viu um inimigo oprimindo seus irmãos,
matou um egípcio com sua força física. Depois, no dia seguinte, descobriu que
dois israelitas discutiam. Tentou reconciliá-los e, sem dúvida, pensou que se
tratasse de uma tarefa fácil. Para surpresa de Moisés, ele foi rejeitado pelos
mesmos, que chegaram a mencionar o assassinato do egípcio ocorrido no dia
anterior. Com medo, Moisés rumou para a terra de Midiã.
O que isso tudo significa? Moisés conhecia apenas o
próprio poder e a própria sabedoria, mas precisava reconhecer sua loucura e
fraqueza. Deus queria mostrar-lhe que, ao confiar em si mesmo, ele não poderia
fazer certas coisas. Moisés sinceramente desejava ajudar Deus a salvar os
filhos de Israel, mas Deus não tinha necessidade da ajuda humana. As pessoas
que tentam ajudar o Senhor com a sabedoria e o poder carnais nunca serão por
Ele aprovadas. Muitas são rejeitadas por Deus por serem sábias e poderosas
demais — e não por serem desprovidas de sabedoria e poder. Por isso, Deus não
pode usá-las. Ele as coloca de lado e as deixa acalmar. Ele esperará até que o
fogo natural seja extinto diante Dele antes de usá-las.
Moisés era uma pessoa que tentava ajudar Deus com o
poder e a sabedoria humanos. Deus o fez parar e recusou-se a usá-lo enquanto a
sabedoria sentimental e almática jorrasse poder carnal com facilidade. Os
atributos carnais não têm lugar na obra de Deus. Durante os 40 anos no deserto,
Moisés não foi apenas provado, mas também ensinado por Deus. Ele aprendeu a ver
como tudo o que possuía era inútil. Ele não seria usado até então.
O mesmo ocorre conosco. Atualmente, Deus também nos
coloca no deserto com a intenção de provar-nos e ensinar-nos. Quando Ele o põe
de lado, é possível que você não compreenda Sua vontade e, então, torna-se
rebelde. Vez após vez, Ele o coloca no deserto, num meio ambiente que não lhe é
propício, para que você se submeta sob Sua mão poderosa. Isso significa provar
se você fará ou não a vontade divina, pois sua própria vontade precisa ser
trabalhada. Trata-se de uma crise que você deve enfrentar. A rejeição que
Moisés recebeu da parte dos filhos de Israel veio de Deus. O fato de Faraó
procurar matar Moisés também veio de Deus. Da mesma forma, a passagem pelo
deserto veio de Deus. Depois de ter estabelecido várias comunicações com Deus
no deserto por 40 anos, Moisés, enfim, foi ensinado por Deus e percebeu,
afinal, sua completa inutilidade. Então, não mais sonhava em salvar os
israelitas com as próprias habilidades e não mais se considerava um homem
grande e poderoso. Moisés deixou de considerar-se o padrão de alguém que vivia
no reino espiritual e, por fim, soube que não conseguiria fazer. Foi a esse
ponto que Deus desejou que ele chegasse durante todo o tempo.
Admitiu
Não Ter Poder
Mais tarde, no monte Horebe, Deus mandou Moisés
libertar os filhos de Israel. Se a libertação tivesse ocorrido 40 anos antes,
Moisés, sem dúvida, não teria tido a oportunidade de ser usado. Porém, mesmo
sem a ordenança do Senhor, ele teria ido por vontade própria. Naquela época,
ele sabia tão-somente o que conseguia fazer e não tinha noção do que não podia
fazer. Entretanto, Moisés estava diferente agora; sabia realmente o tipo de
pessoa que era. Enfim, percebeu que seu poder e sua sabedoria nada poderiam
fazer. Então, Moisés disse a Deus: "Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do
Egito os filhos de Israel?" (Êx 3.11). Como ele estava muito diferente do
que era antes! Anteriormente, ele pensava ser o único no mundo; agora, porém,
confessava: "Quem sou eu?".
Além de ter deixado de ser arrogante, Moisés não
colocava mais sua confiança em si mesmo, mas se considerava um
"joão-ninguém". Deus também nos fará chegar a esse ponto, que é um
isolamento espiritual, santo e abençoado. Se não enxergarmos, em nosso coração,
que nada somos, ainda não poderemos ser pessoas usadas por Deus.
Moisés confessou que, por si próprio, não poderia
tirar os filhos de Israel do Egito, pois havia passado a considerar-se
insignificante e incapaz. Ele reconheceu, enfim, sua inaptidão. Aquele que
ainda não reconheceu sua fragilidade não serve para fazer a obra de Deus. Moisés
percebeu que a obra era grande demais e enxergou sua pequenez. Finalmente, ele
havia aprendido a lição. Não mais ousava usar a sabedoria natural e o poder da
carne, reconhecia sua fraqueza e incapacidade e Julgava-se o menor de todos,
pois perguntou a Deus: "Quem sou eu?" — e deixou que Ele o julgasse.
Moisés precisou ser levado a esse ponto para que Deus pudesse usá-lo.
Reconheceu
a Falta de Eloqüência
Todavia, Deus tinha de encorajar Moisés. Todo o
atrevimento, o poder, e toda a sabedoria anteriores haviam morrido e, agora,
deveriam ser recebidos novamente das mãos de Deus. Isso significa ressurreição.
O longo período de 40 anos foi como se o grupo de Aarão tivesse de passar a
noite diante da Arca do
Senhor (cf. Nm 17.1-8). Depois da noite, entretanto,
tudo o que havia morrido seria ressuscitado.
Na obra de Deus, tudo deve passar pela morte e ser
ressuscitado antes de poder ser usado. Quando observamos um jovem que demonstra
conhecimento, imaginação e habilidade, a maioria de nós é levada a pensar que
este jovem poderia ser realmente usado nas mãos de Deus caso fosse salvo.
Contudo, permita-me dizer que, embora possua conhecimento, coragem e talento,
ele não é nada nas mãos de Deus, pois, para Deus, tanto a sabedoria quanto a
tolice carnais são imprestáveis. O sábio deve deixar a sua sabedoria morrer, e
o tolo tem de fazer o mesmo com sua tolice. Apenas o que emerge na esfera da
ressurreição pode ser usado por Deus. Tudo o que pertence ao domínio natural
deve morrer, e, então, receberemos, de Deus, o novo e o ressuscitado. Este é um
grande princípio pertinente à obra de Deus: tudo o que ainda não foi levantado
dos mortos não é utilizável. Depois de 40 longos anos, Moisés, finalmente,
compreendeu que todo o talento, o poder e toda a sabedoria anteriores eram
completamente imprestáveis. Ele havia passado pela morte, e, por isso, Deus
poderia conceder-lhe coragem e capacidade ressuscitada.
Em Êxodo 3.12, descobrimos que Deus prometera estar
com Moisés. No versículo 13, porém, Moisés perguntou mais coisas: "Eis
que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais
me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome?, que lhes
direi?" Observamos que ele não mais ousava julgar-se sábio embora tivesse
a capacidade de instruir as pessoas.
Nesse tempo, Moisés havia sido tratado por Deus -
ainda que não supusesse ou imaginasse. Ele não ousava agir com presunção, e,
por isso, perguntou a Deus desse modo. Ele havia aprendido a lição, que não era
diferente da que o próprio Senhor Jesus apresentara: "Porque Eu não tenho
falado por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Esse Me tem prescrito o que
dizer e o que anunciar. E sei que o Seu mandamento é a vida eterna. As cousas,
pois, que Eu falo, como o Pai Mo tem dito, assim falo" (Jo 12.49, 50).
Moisés havia percebido que até mesmo as palavras que
falava deveriam ser governadas por Deus. Quão freqüentemente falta as nossas
palavras a restrição de Deus! As pessoas eloqüentes, sobretudo, precisam da
moderação do Senhor, pois imaginam que podem falar. Todavia, aqueles que já
foram trabalhados por Deus sabem como aprender a falar e não ousam confiar em
si mesmos. Assim, ainda que Deus tivesse dito Seu nome a Moisés, Moisés estava
com medo de ir — ele temia que os filhos de Israel não acreditassem em suas
palavras (Êx 4.1).
Anteriormente, ele havia ousado a arriscar-se sozinho,
matando um egípcio, e a advertir dois israelitas contenciosos. Porém, quando
Deus o mandou ir, Moisés tremeu e atemorizou-se. Sua coragem natural tinha
desaparecido totalmente, e sua autoconfiança havia sumido por completo. Ele não
acreditava mais em si mesmo e passou a ser humilde — mas sua humildade quase se
transformou em timidez. Contudo, a verdadeira humildade e a falta de confiança
em si mesmo são manifestações espirituais. Moisés havia, enfim, aprendido a
lição e tinha consciência de que não poderia fazer nada entre os filhos de
Israel sozinho. Portanto, Deus o encorajou pela terceira vez e concedeu-lhe o
poder de operar milagres de transformar uma vara em uma serpente, de tornar
água em sangue e de ferir a própria mão com lepra. Por meio desses sinais, o
povo acreditaria nele.
No entanto, apesar disso tudo, Moisés disse pela
quarta vez: "Ah! SENHOR! EU nunca fui eloqüente, nem outrora, nem depois
que falaste a Teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua" (Êx
4.10). Estas palavras são completamente opostas ao conteúdo do que está
registrado em Atos 7.22, que diz como "Moisés foi educado em toda a
ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras". Moisés estava
tentando justificar-se, dizendo que não poderia falar em virtude de não ser
eloqüente. Por conseguinte, Deus fez de Arão a boca de Moisés.
Posteriormente, se continuarmos a ler as Escrituras,
não encontraremos o relato de que Arão falou ao povo por Moisés, mas, sim, que
Moisés falou ao povo. Por quê? Pois, durante os muitos anos precedentes, Moisés
havia aprendido que, para Deus, nada valiam a eloqüência, o poder e a sabedoria
naturais. Se o Espírito Santo não mover as pessoas e lhes der eloqüência,
sabedoria e poder, a habilidade natural será absolutamente inútil para a obra
de Deus. O poder espiritual, porém, é necessário.
Depois de ter-se relacionado muito com o Senhor, você
sabe como não usar a eloqüência natural? Você preferiria não pronunciar muitas
palavras persuasivas que soam pouco inteligentes. Você já recebeu a obra da
cruz e morreu para seu próprio discurso? Sem dúvida, nosso discurso revelará
que tipo de pessoa somos. Deus almeja constatar que a excelência do que falamos
produza apenas frutos espirituais. Se ao falar não formos vencidos por Deus,
traremos um grande prejuízo para Sua obra.
Vemos que Moisés justificou-se de duas maneiras:
primeiro, disse que nunca havia sido eloqüente, mas pesado de boca; segundo,
mesmo depois de Deus ter falado com ele, disse que continuava sendo pesado de
língua. Assim, Moisés mostrou-se completamente inútil diante de Deus e
reconheceu que nenhum de seus atributos poderia ser sustentado perante Ele.
Moisés realmente havia aprendido uma lição muito
profunda, pois, durante aqueles 40 anos, libertou-se de tudo o que pertencia a
seu ego e à vida natural.
Retrocesso
Excessivo por Não Conhecer o Poder da Ressurreição
O fato de alguém reconhecer apenas sua própria
inutilidade ainda é insuficiente. O importante é conhecer o poder de Deus, e
conhecê-lo é a verdadeira ressurreição. Deus queria que Moisés soubesse que
fora Ele que havia feito a boca do homem. Assim sendo, Deus tentou encorajá-lo.
"Ah! SENHOR! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim" (Êx 4.13).
Moisés justificou-se mais uma vez. Quando Deus ouviu-o desculpar-se, irritou-se
com ele. Por quê? Porque, embora o fato de chegarmos a despir-nos da
autoconfiança seja muito relevante e altamente aceitável para Deus, se
permanecermos parados e recusarmos ir adiante, confiando Nele, nós O
desagradaremos profundamente.
Precisamos ter cuidado para não balançar de um extremo
para o outro. Se Deus prometeu-nos eloqüência, estaremos pecando contra Ele se
não avançarmos. Devemos ter humildade, mas não recuar. Devemos ser cuidadosos,
mas não tímidos. Precisamos tomar cuidado para não deixar de confiar em Deus e
para não confiar em nós mesmos. Deus nos faz passar pela morte com o intuito de
erguer-nos. A morte não é o fim, mas a ressurreição é o objetivo. Seremos inúteis
se permanecermos na morte e não ressuscitarmos.
Moisés quis esconder-se e teve preguiça. Ele chegou a
antecipar que seria melhor Deus não o enviar. Certamente, é bom para alguém
reconhecer sua própria fraqueza, mas não crer que Deus é capaz de fortalecê-lo
é um elemento prejudicial nesse autoconhecimento. Tanto o julgamento excessivo
da fraqueza de alguém quanto a estimativa excessiva do poder de alguém podem
fazer com que deixemos de confiar em Deus. Muitos recuos não constituem
humildade espiritual, mas refletem medo e preguiça que se originam quando a
pessoa olha para dentro de si mesma. Devemos confiar no poder tremendo de Deus
e sermos fortes.
E muitíssimo importante, na obra espiritual, que haja
uma transação clara a respeito do comissionamento feito por Deus. O Senhor
Jesus não veio para este mundo por conta própria, mas a Bíblia diz que Ele foi
enviado — o Pai enviou Seu Filho para o mundo. Hoje em dia, a obra de Deus é
prejudicada por muitas pessoas que se oferecem como voluntárias e não são enviadas
por Ele. Deus não aprova as pessoas que trabalham na obra sem terem sido
enviadas nem se agrada das obras presunçosas dos homens. O pecado da soberba é
igual ao pecado da rebelião. Deixar de agir é pecado, e agir sem ter sido
ordenado também o é. Moisés não foi, porque não quis. Na verdade, ele nem
sequer desejava ir. Porém, Deus o havia mandado ir.
Se não podemos não trabalhar para Deus, não seremos
usados por Ele para salvar pecadores; mas se podemos não trabalhar para Deus,
seremos usados por Ele para salvar pessoas. Isso não significa que o Senhor
salvará as almas sem usar os homens para pregarem o Evangelho. Entretanto, se
determinada obra não é da vontade de Deus, devemos estar dispostos a não
fazê-la. Não devemos agir com presunção e soberba. Sem a ordenança divina, é
melhor permanecermos parados do que seguir em frente. Pessoas que agem assim
serão enviadas por Ele com a finalidade de salvar as almas.
Atualmente, a Igreja sofre grandes perdas, e estas
perdas não se devem à oposição externa ou à incredulidade interna, mas aos
muitos que confessam ter grande fé e agem com soberba sem ter sido enviados por
Deus.
Portanto, as obras que realizam não têm valor
espiritual. Fazer alguma coisa sem ter sido enviado é semelhante a construir
uma casa sobre a areia ou uma casa banhada a ouro, isto é, a casa pode
permanecer em pé ou brilhar por algum tempo, mas será destruída no juízo de
Cristo. Apenas as obras que seguem à risca as ordenanças de Deus são úteis.
Foi
Circuncidado
Moisés, então, não disse mais nada. No entanto, ele
precisava demonstrar que havia negado completamente tudo o que era carnal e
natural, fazendo com que tais características morressem, antes de poder ir e
salvar os filhos de Israel. Por conseguinte, lemos que "estando Moisés no
caminho, numa estalagem, encontrou-o o SENHOR e o quis matar" (Êx 4.24).
Por que Deus desejaria matá-lo? Porque Moisés não estava sob o sinal da aliança
— ele e seus filhos não haviam sido circuncidados, o que os fazia iguais aos
gentios. Logo, ele começou a fazer a obra de Deus, mas ainda era semelhante a
um gentio incircunciso. Deus não poderia deixá-lo ir e libertar os filhos de
Israel. Portanto, pensou em matar Moisés a fim de mostrar-lhe que Sua obra
divina não poderia ser feita por uma pessoa incircuncisa. Logo, a circuncisão
foi realizada, e, depois de feita, Moisés recebeu a permissão para ir e salvar
os israelitas[18]. Mais
tarde, quando os filhos de Israel situaram-se na primeira parada em Canaã,
receberam também o ritual da circuncisão.
Qual é o significado da circuncisão? "Nele,
também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do
corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo" (Cl 2.11).
Esse versículo nos diz claramente que a circuncisão
não tem outro significado a não ser despojar o corpo da carne. O que é a carne?
São todas as coisas das quais somos dotados quando nascemos: "O que é
nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo
3.6). Tudo o que temos antes de sermos regenerados é a carne. O que temos após
nascermos de novo é espiritual. A eloqüência, o poder, a sabedoria, a
inteligência e as boas obras naturais são todas da carne. O que devemos fazer?
Pela cruz de Cristo, devemos dar fim a todos esses talentos naturais. Devemos
negar a eloqüência natural, ou o poder natural, ou a sabedoria natural. Essa
atitude é a circuncisão mencionada no segundo capítulo de Colossenses.
A obra de Deus só pode ser realizada pelas pessoas que
morreram com o Senhor. Na ótica de Deus, para a carne não há lugar, apenas a
morte. Todas as pessoas que seguem a carne são marcadas com a morte por Ele. A
obra divina requer a morte do homem natural.
O
Princípio da Cruz
Você já morreu? Você já abriu mão das habilidades
naturais? Se ainda não o fez, não está qualificado para realizar a obra de
Deus. Nos dias de hoje, muitos estão trabalhando, mas não estão fazendo a obra
de Deus, pois não é Deus quem está operando, mas, sim, os homens[19].
Não se trata do agir da nova criação, mas é a velha criação quem está operando.
Por isso, o Espírito Santo não se move de forma alguma. Trabalhar pelo poder do
Espírito Santo é trabalhar de espírito para espírito — ou seja, com seu
espírito você alcança o espírito de outras pessoas.
Por que Paulo se recusou a pregar a palavra da cruz
com a sabedoria natural? A fim de que a palavra da cruz não se tornasse
ineficaz, pois a cruz é um fato. Se você prega com conhecimento carnal,
consegue apenas difundir a razão, mas não é capaz de propagar o poder e a vida,
porquanto prega sobre a cruz sem ter o Espírito da cruz bem como a vida da
cruz. Você não prega segundo o princípio da cruz e, portanto, só consegue
enxergar a razão (ou lógica) pela qual a cruz deve ser propagada, mas não vê
seu poder. Por isso, a cruz deve tornar-se um tipo de princípio para nós em primeiro
lugar.
Precisamos investigar: o que nos qualifica a pregar
sobre a cruz? Será que pregamos por estarmos profundamente familiarizados com
as doutrinas bíblicas, por sermos capazes de apresentá-las com eloqüência ou
pelo fato de pregar ser nossa profissão? Seria muito patético este último caso.
Muitos se tornam líderes na Igreja, mas não em virtude da experiência
espiritual, da vida e do poder do Espírito Santo — na verdade, muitas das
pessoas que escutam as pregações têm uma vida espiritual melhor, experiências
mais profundas e mais compreensão das coisas espirituais do que os que pregam.
Em alguns lugares, vejo, com freqüência, jovens pregadores ensinando a pessoas
mais velhas que possuem pouco conhecimento. Entretanto, a verdade é que estas
pessoas mais idosas superam, de longe, estes jovens pregadores em experiência
espiritual, fé e oração. Todavia, apenas devido ao fato de esses jovens terem
um pouco mais de conhecimento e eloqüência, arriscam-se a ensinar assuntos
espirituais aos mais velhos.
Devemos saber se Deus já trabalhou conosco ou não.
Será que meu talento natural já foi trabalhado? Deus é poderoso em mim? Sem a
experiência mais profunda, eu estarei apenas dizendo às pessoas, com minha
própria habilidade, que elas devem caminhar de determinada maneira embora eu
mesmo desconheça totalmente essa maneira. Quantos, hoje em dia, são cegos a
guiar cegos! Muitos pregadores só sabem de que forma propagar o conhecimento,
mas não são capazes de suprir a vida divina e o Espírito Santo!
Sendo assim, o problema está no princípio. Um grão de
trigo permanece solitário a menos que morra. Se a inteligência e as habilidades
naturais que possui não morreram ainda, você não serve para ser usado por Deus,
pois, nos assuntos espirituais, não são necessários sabedoria, inteligência ou
entendimento, mas interesse em ter experiência e poder espiritual.
Se, após uma pessoa ser salva, ela experimentar
profundamente as realidades espirituais, não precisará que outras pessoas a
reavivem. Muitos viajam pelo mundo e ministram reuniões com o poder da
sabedoria carnal. Será que eles não percebem o quanto Deus precisa reavivá-los?
Se Deus não os reavivar, todas as obras que fizerem terão sido em vão, e as
outras pessoas também não receberão nada. Por isso, Deus deve fazer-nos parar.
Eu preferiria deixar de pregar a ter de continuar
apenas com minha própria força. O que será do futuro se as pregações baseadas
na sabedoria carnal forem realizadas por 30 anos? O que acontecerá, com
certeza, no trono de julgamento de Cristo? Deus preferiria que tivéssemos
recebido a luz do julgamento anteriormente a fim de que confessássemos nossos
erros e parássemos de cometê-los.
Que Deus nos ilumine para que percebamos como é errado
fazer a obra com o conhecimento e a habilidade naturais e, assim, reconheçamos
que tudo o que provém da velha criação adâmica precisa morrer. Rejeitaremos
tudo isso da mesma forma como o fizemos no momento da nossa salvação. Neguemos,
realmente, tudo o que pertence à velha criação e recebamos a nova vida que
pertence à nova criação de Cristo. Perguntemos a nós mesmos, com seriedade,
como nosso futuro e nosso caminho são determinados. Será que ambos são
decididos pelo poder e pela vontade de Deus ou por nossa própria vida?
Algumas pessoas são revivificadas após cada reunião de
reavivamento que freqüentam. Porém, depois que o culto termina, seu avivamento
também acaba. Esse tipo de reavivamento é como injetar um estimulante, cuja
dosagem deve ser aumentada a partir da segunda vez para que possa continuar a
fazer efeito. A partir da primeira ocasião em que foram revivificadas por meio
do entusiasmo e da emoção externas, essas pessoas exigirão cada vez mais
eloqüência e incentivo a fim de serem reavivadas — caso contrário, não o serão.
Que Deus realmente obtenha alguma coisa de nós para
Seu nome. Se Ele não conseguir nada, não será glorificado. Tudo termina em
vaidade. Que sejamos trabalhados por Deus a fim de que sejamos apenas Dele e
que ofereçamo-Lhe o que Ele merece ter. Que nos entreguemos, com singeleza de
coração, nas mãos divinas e esperemos pela direção Dele. Se Deus já estivesse
dirigindo sua vida, você precisaria negar completamente a sabedoria e o poder
carnal e receber o novo poder divino. Examine se seu caminho está sendo
verdadeiramente guiado por Deus.
Queremos ver o Senhor glorificado e desejamos que Sua
vontade seja cumprida. Esperamos que Ele — e não nós mesmos — tenha posse.
Nunca dirigiremos nossa vida e nosso trabalho com a sabedoria carnal, mas
perguntaremos se estamos cumprindo a vontade de Deus. Temos cumprido Sua
vontade? Não desejemos realizar nossa própria vontade, mas queiramos que a
vontade de Deus se cumpra em nós.
Capítulo 8
VERDADEIRAMENTE POBRE
Leitura:
"Pois
dizes: Estou rico e abastado e não preciso de cousa alguma, e nem sabes que tu és
infeliz sim, miserável, pobre, cego e nu"(Apocalipse 3.17).
Mentalidade
de Laodicéia
Um problema muito real é encontrado, com freqüência,
entre os filhos de Deus. Trata-se da "atitude e mentalidade de
Laodicéia". Essa atitude se reflete no fato de as pessoas se acharem
espiritualmente ricas quando, na verdade, são muito pobres.
Nas questões espirituais, é mais fácil resolver o
problema de ter ou não ter do que decidir se alguém é rico ou pobre. A pessoa
que nada tem pode encontrar Deus com facilidade, mas a que é pobre tem
dificuldades para encontrá-Lo. Muitos realmente nada têm diante de Deus, mas,
mesmo assim, são freqüentemente encontrados por Deus. A pior pessoa é a que diz
ter e, de fato, tem alguma coisa. Se você cita algo, ela declara que sabe. Se
você fala sobre outra coisa, ela também sabe. Porém, será que realmente sabe?
De jeito nenhum! Esta pessoa diz ter tanto, mas dificilmente dá um passo para a
frente. Na verdade, é pobre.
O maior problema que existe em um homem pobre é o fato
de ele não reconhecer facilmente sua pobreza. A pessoa que nada tem confessa
sua falta na mesma hora. Se tem, tem; se não tem, não tem. Isso é bastante
simples de entender e ser mostrado. No entanto, a pobreza é algo relativo: é
possível que "A" não seja tão rico quanto "B";
"A" pode ser mais pobre do que "B". "B", por sua
vez, não é tão rico quanto "C", ou seja, "B" é mais pobre
do que "C". Logo, é bastante difícil concluir qual deles é pobre.
Quando uma criança recebe sua primeira mesada, ela
pensa que tem mais dinheiro do que todas as pessoas do mundo. Entretanto, ela
não conhece verdadeiramente sua pobreza. Se não tem nada, consegue ver que nada
tem no mesmo instante, mas, se tem um pouco, torna-se difícil, para ela,
compreender a insuficiência do que possui. Nos assuntos espirituais, Deus tem
habilidades especiais para cuidar da pessoa que não tem absolutamente nada,
mas, no caso do pobre, o pouco que possui o atrapalha, pois produz arrogância e
satisfação sem motivo.
Certa pessoa, durante as décadas passadas, pode ter
obedecido a Deus apenas três vezes e, mesmo assim, nunca se esquece do tempo em
que obedeceu a Deus. Contudo, quando ela fala a respeito de obediência, aqueles
que realmente aprenderam a lição da obediência e têm sensibilidade espiritual
dizem: "O que você sabe sobre obediência?" Porquanto se trata de uma
pessoa pobre, verdadeiramente contaminada pela pobreza!
Existem outros que gostam de conversar sobre a cruz.
"A" diz que uma pessoa precisa da cruz diante de Deus, e
"B" fala que a mesma pessoa certamente precisa da cruz. Porém,
aqueles que realmente conhecem a cruz dizem: "Irmãos, vocês sabem o que é
a cruz?" Não pense que, por ter sido tratado pelo Senhor algumas poucas
vezes, sua personalidade foi afetada. Perceba que seu primeiro dia, o dia em
que foi salvo e tratado por Deus, não significa que você já tenha aprendido a
mais profunda lição. Você ainda está bem longe disso. Aquele que menciona a
cruz com freqüência, mas não sabe o que ela significa, é uma pessoa
verdadeiramente pobre.
É possível que algum irmão diga ter clareza em seu
entendimento sobre a Igreja, pois, quando observa o Corpo de Cristo, age e
reage de acordo com o que pensa. Uma irmã pode dizer estar buscando o Reino uma
vez que está disposta a abrir mão de tudo em favor dele. As pessoas que
conhecem esse irmão e essa irmã dirão, entretanto, que nenhum dos dois conhece
o Corpo ou o Reino de Cristo. Muitos dos filhos de Deus possuem uma obediência
barata, uma cruz barata e um reino barato. Eles não sabem, na realidade, o que
são a obediência, a cruz e o Reino. Isso é o que chamamos de pobreza.
Pobreza
e Cegueira
Sem o orgulho, a pobreza não é um obstáculo absoluto
para o progresso espiritual. Todavia, a pobreza que contém orgulho cria uma
situação impossível. Por si só, a pobreza não é um problema. Contudo, Laodicéia
é um problema, porque, além de pobre, também é orgulhosa — além de pobre,
considera-se rica. Poucas pessoas pobres não têm orgulho espiritual. No
entanto, os ricos não costumam ser orgulhosos. Não é triste ver que muitos dos filhos
de Deus estão andando em círculos, sem fazer progressos, pois a arrogância os
tem prejudicado? Muitos falam sobre a carne embora desconheçam completamente o
que seja a carne. Muitos falam sobre revelação, mas não sabem o que ela
significa. Essas pessoas têm muito a dizer acerca da obediência, do Reino e até
mesmo de como a cruz opera na vida natural do homem. Porém, a maneira como
falam demonstra que, na verdade, são pobres e ignorantes — elas ainda precisam
tocar Deus. Quando as pessoas falam sobre coisas que não experimentam, apenas
enganam a si mesmas e àqueles que são como elas. Portanto, na área espiritual,
uma pessoa que diz ser rica nunca convencerá os outros de que é rica de fato,
mas, ao contrário, será considerada pobre. "Estou rico e abastado e não
preciso de cousa alguma", declara a igreja em Laodicéia. (Essas riquezas
não indicam coisas materiais, mas espirituais.) Ela sente que tem adquirido
riquezas embora Deus afirme: "Nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável,
pobre, cego e nu." "Você possui alguma coisa? É muito provável que
você realmente tenha algumas poucas coisas, mas o que tem não exerce muito
poder em sua vida. Se você genuinamente possui riquezas, deveria ser alegre,
mas, infelizmente, é infeliz e miserável. Você não parece que as tem. A
infelicidade e a miséria denunciam às pessoas o fato de você ser pobre."
A pobreza está estritamente relacionada à cegueira. O
homem pobre é incapaz de enxergar as coisas espirituais. O homem que não
enxerga normalmente se considera rico. O homem que não vê a cruz pensa ter a
cruz, o que não enxerga o Reino acredita ter o Reino, e o que nunca conheceu o
Corpo de
Cristo pressupõe conhecer a Igreja. Portanto, aquele
que se julga possuidor é, na verdade, pobre espiritualmente. Sempre que
realmente percebermos, não nos gabaremos de sermos ricos. Sempre que os olhos
de alguém forem abertos, ele contemplará sua nudez e a reconhecerá. O fato de
ser pobre e não perceber a pobreza faz com que a pessoa seja um laodicense.
Precisamos estar alertas quanto a isso.
Pobreza
e Superficialidade
O que é pobreza? A pobreza não é uma questão de
quantidade, mas de qualidade. O capítulo 3 de 1 Coríntios nos mostra a
diferença existente entre o grupo do ouro, da prata e das pedras preciosas e o
grupo da madeira, do feno e da palha. O capítulo 2 de 2 Timóteo fala tanto
sobre os utensílios (ou vasos) de ouro e de prata quanto sobre os utensílios de
barro e de madeira. Essa nítida disparidade nos indica o que é rico e o que é
pobre. Por conseguinte, ainda que tenha, você precisa enxergar exatamente o que
tem. Se você tem um grande amontoado de madeira, feno e palha, é pobre do mesmo
jeito. Ter um utensílio não é suficiente para saber [se é rico ou pobre], mas a
questão deve estar no tipo de utensílio — se é um vaso de madeira ou de barro,
ou de ouro ou de prata. Para nós, é bastante fácil ter orgulho, pois sentimos
possuir algo. Pensamos que, pelo fato de termos algo, estamos em uma situação
excelente. Todavia, percebamos que, se não sabemos exatamente o que possuímos,
seremos contados com os pobres.
Avaliando a questão a partir de outro ângulo, a
pobreza também pode ser considerada superficialidade, infantilidade e
imaturidade. Uma vida abundante é uma vida madura. Sabemos a diferença que
existe entre desenvolver a maturidade e alcançá-la. Uma criança cresce todo
ano, mas, após atingir certa idade, não se trata mais de crescimento, mas de
maturidade. A pessoa que só passa pelo período de crescimento não tem vida
abundante, pois, para adquirir abundância, é necessário tempo de amadurecimento.
Todas as pessoas que consideram o começo como sendo o todo consideram-se
possuidoras de tudo e passam a ser os laodicenses de hoje: espiritualmente
pobres. Quanto prejuízo, portanto, podem trazer as experiências iniciais para o
entrarmos em experiências mais profundas. Uma experiência superficial pode
impedir-nos de ter uma experiência realmente profunda; ter um conhecimento
superficial pode adiar o conhecimento mais profundo.
Abundância
e Profundidade
A abundância não significa simplesmente termos ou não
termos, mas se relaciona com o que temos, do quanto temos e da profundidade do
que temos. A abundância não é uma experiência inicial ou uma compreensão mental
do ensinamento acerca da vida abundante nem de sua explicação. A abundância é
ser levado por Deus a enxergar divinamente, entrando na esfera da abundância
espiritual.
Durante o primeiro ano após ser salvo, certo irmão
passou muito tempo pesquisando as Escrituras. Ele estudava, sobretudo, as
coisas concernentes à segunda vinda do Senhor e conseguia analisar os
acontecimentos que cercavam a volta de Jesus. Como resultado, ele sentia
bastante orgulho de si mesmo. Um dia, ele conheceu uma irmã que tinha
experiências profundas com Deus. Eles conversaram sobre a segunda vinda de
Cristo. Porém, ela não analisava as coisas da mesma forma que ele. O que ela
enfatizava era como esperar a volta do Senhor. Naquele dia, aquele irmão
aprendeu uma lição profunda, pois ele era a pessoa que falava a respeito da
segunda vinda do Senhor Jesus, mas havia, ali, uma pessoa que esperava a volta
de Cristo. O homem que simplesmente fala sobre a volta de Jesus é pobre, mas o
que a espera é muito rico.
Todos os que realmente vêem algo diante de Deus não
ousam a ser egoístas ou independentes. A fim de compreender Romanos 6, por
exemplo, pode ser preciso lê-lo uma, duas, dez ou vinte vezes. Quando você o lê
pela primeira vez, pode sentir-se bem e declarar que viu o conteúdo.
Entretanto, quando for lê-lo pela segunda vez, dirá: "Meu Deus! Eu não
havia visto isso antes!" Isso demonstra que, quando surge a luz da
inspiração, ela destrói o que você havia pensado originalmente. Uma vez,
encontrei um irmão que sabia muito a respeito da Igreja. Em determinada
ocasião, na qual várias pessoas haviam recebido a luz da inspiração sobre a
Igreja, ele anunciou: "Que estranho... Eu nunca havia conhecido a Igreja
antes. Mas, graças a Deus, hoje eu a veja?' Outros poderiam ter pensado, em
virtude do conhecimento anterior desse irmão, que, se ele não conhecia a
Igreja, quem poderia conhecê-la? Porém, quando ele recebeu a luz divina, viu
que, de fato, nada tinha, pois, quando a luz ilumina, ela destrói. A luz mais
ofuscante engolirá a menos brilhante. Toda vez que alguém divisa alguma coisa
diante de Deus, ele sente como se nunca houvesse enxergado. Isso não significa
que ele não via nada antes, pois poderia muito bem ter visto algo no passado.
Isso quer dizer que, quando ele recebe a luz mais ofuscante, sentirá que o que
distinguia antes parece pálido diante dessa nova luz e terá consciência de como
nada possui!
A abundância provém do esclarecimento. A medida que a
luz nos ilumina, tornamo-nos ricos. É estranho dizer, mas, quando recebemos tal
esclarecimento, sentimos como se diminuíssemos em vez de crescer, pois o brilho
da luz romperá com nossa visão passada. Sob a iluminação de Deus, nós crescemos
na verdade, mas, mesmo assim, sentimos o contrário! Por isso, o que é real aos
olhos de Deus e o que é nosso próprio sentimento são duas coisas diferentes.
Quando Deus envia luz, se você pensa que está crescendo não está, na verdade,
vendo coisa alguma. Contudo, no caso de você realmente ver, sentirá como se
tivesse acabado de ser salvo e de ter somente começado. Não se deve inferir, a
partir dessa declaração, que você não era salvo antes, mas ela simplesmente
significa que, quanto aos seus sentimentos, você sente um vazio como se nunca
tivesse começado a percorrer o caminho espiritual da vida. Alguém que é
verdadeiramente abundante sente ser nada sob a luz de Deus.
Nosso Deus é o Deus de abundância, e Ele não quer que
Seus filhos sejam pobres. As obras que Ele deseja não são feitas de madeira,
feno e palha, e os vasos que usa não são utensílios de madeira e barro, pois,
sendo o Deus da riqueza, Ele apenas usará vasos ricos. As riquezas divinas são
profundas e abundantes: "E não haverá cômodos suficientes para
recebê-las" (Ml 3.10 — tradução literal do inglês). Assim é a graça de
Deus! Qualquer coisa que Ele faça em nossa vida é superabundante — jamais
forçada, fraca ou pequena. Ah! Este Deus de abundância pode enriquecer-nos,
pois Ele sempre dá mais, e, toda vez que dá mais, sentimos como se fosse a
primeira vez que estamos recebendo alguma coisa. Embora pareça estranho, é a
pura verdade.
Que Deus tenha misericórdia de nós para que possamos,
de fato, enxergar a luz. O homem orgulhoso é tolo, pois é pobre. Que Deus nos
esvazie a fim de que participemos de Sua abundância.
Capítulo 9
A IMPORTÂNCIA DA FÉ
Leitura:
"Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus
enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos" (Gálatas
4.4, 5).
"De sorte
que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Romanos 10.17 -
RC).
'De fato, sem fé
é impossível agradar a Deus" (Hebreus 11.6).
"E, porque
vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de Seu Filho, que
clama: Aba, Pai!" (Gálatas 4.6).
"Mas o
Consolador, o Espírito Santo, a Quem o Pai enviará em Meu nome, Esse vos
ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito"
(João 14.26).
"Quando
vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade" (João
16.13).
No dia de hoje, sinto, profundamente, a necessidade de
pregar-lhes uma mensagem especial a respeito da importância da fé. "Sem fé
é impossível agradar a Deus", declara Hebreus 11.6. Sabemos que o mais
importante, na vida de um cristão, é ser agradável a Deus. Contudo, o cristão
não pode agradar a Deus sem fé. Por que a fé é tão importante? Se fôssemos entrar
em um acordo a respeito da palavra "fé", descobriríamos que toda a
graça que Deus dá aos homens é concedida pela fé. A fé é tão essencial, que
Deus não concederá graça por nenhum outro motivo. Por que muitas pessoas
parecem ser bastante obedientes e dispostas a fazer o bem, mas não recebem
muito da graça divina? Precisamos observar que, no plano de redenção traçado
por Deus, existem quatro princípios básicos:
1.A obra de Cristo. O primeiro passo é termos a redenção consumada por
Cristo. Por meio da morte e da ressurreição, Jesus efetuou a obra de redenção
por nós.
2.A Palavra de Deus. Por Sua Palavra, Deus nos diz o que fez por nós,
homens. A Palavra de Deus divulga as boas-novas concernentes à obra consumada
por Cristo.
3.Os homens crêem na Palavra de Deus. Cremos na Palavra de Deus e não na obra de Cristo. A
obra de Jesus satisfez o coração de Deus, pois Ele realizou o que Deus havia
planejado. Confiamos na obra de Cristo, mas cremos na Palavra de Deus,
porquanto, sem ela, não podemos colocar nossa confiança na obra de Cristo. Sem
a Palavra de Deus, não temos conhecimento da obra de Cristo. Por isso, crer na
Palavra de Deus é confiar na obra de Cristo.
4.O Espírito Santo opera, nos crentes, a obra
consumada de Cristo. Quando a Bíblia
menciona o Espírito Santo, enfatiza a comunhão do Espírito, pois é Ele quem
canaliza a obra consumada por Cristo até nós e nos conduz à verdade divina.
Verdade é realidade, ou seja, realidade espiritual[20].
A concepção bíblica de verdade é dividida em duas partes: (a) a verdade aponta para
Cristo e para o que Ele realizou, pois diz Ele: "Eu sou a verdade"
(Jo 14.6); (b) a verdade aponta para a Palavra de Deus, pois Cristo também
declara: "a Tua [de Deus] palavra é a verdade" (17.17). O Espírito
Santo é o Espírito da verdade.
É Ele quem faz com que entremos na presença de Cristo
e participemos de tudo o que Cristo realizou por nós. Além disso, é Ele quem
torna a Palavra de Deus verdadeira em nossa vida.
Sendo este o plano de redenção traçado por Deus,
ninguém pode receber nada sem fé. Embora Cristo tenha consumado todas as
coisas, e a Palavra de Deus tenha testificado disso, o Espírito Santo nada
poderá fazer, e nós não receberemos nada se não crermos.
O quanto a obra de Cristo engloba? Há certo tempo,
quando algumas irmãs foram batizadas, falei-lhes a respeito das riquezas
existentes em Cristo. Santificação, perfeição, fim da condenação, libertação do
pecado, santidade, prazer de Deus e assim por diante — tudo isso foi obtido por
Cristo. Quando Ele morreu, você também morreu Nele. Quando Ele ressuscitou,
você também foi ressuscitado Nele. Quando Jesus ascendeu aos céus, você também
ascendeu Nele. Você não precisa mais morrer, pois Cristo já morreu em seu
lugar. É possível que as pessoas lhe digam — quando você estiver fraco
espiritual ou moralmente — que você precise morrer e, a partir de então, não
pecará mais. No entanto, a Palavra de Deus lhe diz que, aproximadamente 2000
anos atrás, você já morreu. Cristo já fez por você o que você mesmo é incapaz
de fazer por conta própria. Nenhum pecador é capaz de ser salvo pelas obras que
pratica. Um dia, ele compreenderá que a salvação é a base da obra de Cristo e,
então, entrará no descanso. Nos dias atuais, muitos cristãos vivem em um
dilema: parecem ser incapazes de morrer. Hoje, eles são maus e, amanhã,
continuam a mesma coisa. Não importa quanto se esforcem para serem bons, pois
tudo será em vão. Ah! Deixe-me dizer que, se você escuta alguém aconselhá-lo a
fazer algo por conta própria, trata-se de uma crença errônea, pois a Bíblia
afirma explicitamente isto: "Nele [em Cristo], também fostes
circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo" (Cl 2.11). Tudo é feito por nós por
Cristo. Esse é Seu trabalho. Devemos reconhecer o que foi feito Nele. O que o
Senhor Jesus realizou deve fazer-nos ser perfeitos Nele. O Espírito Santo
conduz para nosso interior tudo o que está em Cristo. Jesus não apenas morreu,
mas também ressuscitou.
Quando Cristo morreu, nós também morremos; quando foi
ressuscitado, também fomos ressuscitados; quando ascendeu, também ascendemos. A
herança que temos Nele é, na verdade, muito superior ao que esperamos e
imaginamos.
Quando lemos a Bíblia, precisamos tomar nota do
seguinte ponto: será que vamos obter o que está em Cristo ou será que já o
obtivemos? Certa vez, eu disse a um irmão para que lesse o sexto capítulo de
Romanos e descobrisse quanto ele deveria fazer e quanto já tinha obtido com
relação à morte e à ressurreição. Ele respondeu que deveria morrer e ser ressuscitado.
Assegurei-lhe que minha Bíblia não dizia o mesmo, pois Romanos 6, na minha
Bíblia, afirma que ele já havia morrido e sido ressuscitado, e, portanto, tudo
o que precisava fazer era consagrar-se a Deus. Neste mundo, as pessoas falam
sobre morte e ressurreição, mas não possuem base para o cumprimento de ambas.
Agradecemos a Deus, pois Cristo já realizou tudo. Todavia, como poderíamos crer
se a Bíblia, a Palavra de Deus, não dissesse que Cristo já havia morrido e sido
ressuscitado? Com base nas Escrituras Sagradas, passamos a ter conhecimento do
que Cristo realizou. Por essa razão, cremos na Palavra de Deus e não na obra de
Cristo. Como poderíamos crer se nossos olhos não testemunhassem a morte de
Cristo? Cremos, pois a Palavra de Deus nos conta todas as coisas. Deus ordenou
que Seus servos escrevessem tudo o que Cristo fez ao morrer e ser ressuscitado
dos mortos por nós. Isso nos provê o fundamento para crermos.
O mais essencial é crer na Palavra de Deus. "Quem
crê no Filho", diz a Escritura Sagrada, "tem a vida eterna" (Jo
3.36). Quando a Bíblia menciona as expressões: "crer em Mim",
"crer em Meu Nome" e outras similares, devemos crer em quê? Será que
crer no Senhor Jesus não significa crer em Sua obra? "De sorte que a fé é
pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17 - RC). Se não
houvesse Palavra, em que poderíamos crer? A Palavra de Deus traz, para perto de
nós, o que está muito distante. Se não guardamos a Palavra de Deus, não cremos.
Sem ela, nossa fé não tem fundamento, mas é simplesmente psicológica.
Qual é a diferença entre fé e psicologia? Psicologia é
fazer com que alguém creia naquilo que não é dito, enquanto a fé consiste em
crer no que foi dito. Ninguém, por exemplo, convidou-me para jantar hoje à
noite, mas eu digo crer que o Sr. Fulano me convidou para jantar. Isso não
passa do agir psicológico, pois o Sr. Fulano não fez o convite. Porém, se
alguém me disser que, de fato, ele me convidou para jantar, eu vou crer no fato
— logo, trata-se de fé, pois ele fez a afirmação. Portanto, nos assuntos
espirituais, devemos ter a Palavra de Deus antes de crermos. Não nos
contemplamos sendo crucificados por Deus, pois isso foi realizado pelo próprio
Deus. Assim, precisamos que Ele nos diga que fomos crucificados e, então,
creremos nisso. Por que sabemos que a Palavra de Deus é verdadeira? Porque o
que Deus realizou é verdadeiro. O que Ele diz simplesmente reflete o que Ele já
consumou. Para melhor ilustrar o que digo, suponhamos que eu tenha ido a
determinado parque ontem. Hoje, eu lhe digo que estive no parque ontem.
Uma vez que a visita ao parque foi real e verdadeira,
o que falo a respeito dela também é real e verdadeiro. A obra de Cristo está
consumada, e a Palavra de Deus nos diz o que Cristo realizou. Portanto, cremos
nela, e ela passa a ser nossa. Não precisamos fazer nada além de crer na
Palavra de Deus. Sem ela, não pode haver fé. Fé é crer na Palavra de Deus. É a
coisa mais difícil que alguém pode fazer, mas é, ao mesmo tempo, a mais fácil.
Isso é paradoxal? Sim, mas se trata da pura verdade. Com freqüência, não
conseguimos crer.
Entretanto, no momento em que cremos, tudo nos
pertence. Esse fato é comprovado pela própria experiência.
Certa vez, J. Wilbur Chapman[21]
pregou em Xangai, e seu trabalho foi bastante eficaz. Embora, em determinado ponto
de sua carreira, ele já fosse doutor em teologia, Chapman não era salvo. Uma
vez, depois de um culto, D. L. Moody convidou-o para conversar. "Dr.
Chapman, o senhor é um cristão salvo? O senhor pertence a Cristo?"
"Não ouso dizer que sou, embora eu espere pertencer a Deus",
respondeu Chapman. Então, Moody leu João 3.16 com ele. No final da leitura,
Moody perguntou-lhe novamente: "Dr. Chapman, o senhor é um cristão salvo?
O senhor pertence a Cristo?" Ele ainda respondeu: "Não ouso dizer,
mas espero muito pertencer a Deus." Em seguida, Moody leu João 3.16 mais
uma vez.
Depois de terminar a leitura pela segunda vez, ele
olhou para Chapman seriamente. Chapman sentiu-se tão constrangido com o olhar
de Moody que resmungou em voz alta: "Eu realmente espero poder dizer que
pertenço a Cristo." Então, Moody falou com grande sinceridade: "Dr.
Chapman, o senhor sabe de qual Palavra está duvidando?" De imediato,
Chapman despertou para a realidade e percebeu que estava duvidando da Palavra
de Deus.
Mais tarde, ao longo de toda a vida, Chapman passou a
testificar que tudo o que Deus havia dito destinava-se a ele. Inicialmente, ele
achava que precisava fazer o melhor a fim de ser qualificado para entrar no
céu. Porém, percebeu que Deus havia dito: "Quem crê no Filho tem a vida
eterna" (Jo 3.36), isto é, todo aquele que crê tem a vida eterna.
Reconheçamos o fato de que Deus já realizou todas as
coisas em Cristo. Portanto, cremos e, logo, tomamos posse. Crer na Palavra de
Deus nada mais é do que crer exatamente
no que Deus declarou.
Nos Estados Unidos havia um homem que exercia o cargo
de presidente de uma escola bíblica. Ele havia conseguido superar muitas coisas
na vida, mas era incapaz de vencer quatro ou cinco pecados que cometia
repetidas vezes. Ele confessou que sua existência era uma história de contínua
confissão. Um dia, este homem leu Romanos 6.14: "Porque o pecado não terá
domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei e sim da graça." Após
ler o versículo, fez a seguinte oração: "A Tua Palavra diz que o pecado
não terá domínio sobre mim, mas minha situação atesta que o pecado tem tido
domínio sobre minha vida. Porém, eu creio, hoje, em Tua Palavra e, assim,
declaro que já venci meu pecado." A partir de então, quando uma das mesmas
tentações cruzava seu caminho, ele ainda caía se olhava para si mesmo. Todavia,
sempre que confiava na Palavra de Deus e dizia ao Senhor que Sua Palavra não
poderia ser falsa, ele experimentava a vitória. Foi assim que este homem teve
uma vida vitoriosa. Eis a coisa mais importante que você deve guardar: a
Palavra de Deus. Se você olhar para si mesmo, será tão corrupto como era antes.
Se você olhar para o ambiente em que vive, a vida e a convivência serão tão
difíceis como sempre foram. Contudo, se você crer na Palavra de Deus, conseguirá
vencer.
Havia uma mulher muitíssimo fraca fisicamente. Ela era
mãe de um rapaz de 16 anos perverso e incontrolável. Um dia, ela orou a Deus:
"Não posso suportar mais esse fardo tão pesado. Por favor, concede-me uma
promessa." Então, esta mulher recebeu o que havia pedido em Filipenses
4.6, 7: "Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam
conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com
ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o
vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus." Ela creu que aconteceria o
que Deus tinha falado. No entanto, seu filho continuava indo de mal a pior.
Um dia, ela subitamente foi notificada pela polícia de
que o seu filho estava no posto médico, pois havia sido atropelado por um
carro. Ela foi até lá e encontrou-o sangrando. Seu marido, que também a
acompanhara, desmaiou ao ver o filho todo machucado. Logo, os outros parentes
chegaram. No entanto, todos tentavam imaginar por que ela continuava a sorrir em
uma circunstância como aquela. Será que o coração daquela mulher era duro
demais? "Não", disse ela, "pois Deus prometeu, em Sua Palavra,
que me daria a paz que excede todo o entendimento. E, hoje, cruzei com esse
acidente, mas recebi a paz que excede todo o entendimento. Por isso é que estou
calma". Fé é apoderar-se da Palavra de Deus.
Se eu encontro um paciente e lhe pergunto como está,
ele pode responder-me, dizendo acreditar que Deus irá curá-lo no fim das
contas. Entretanto, sei que Deus não irá curá-lo, pois ele não tem a Palavra
divina. Certo irmão era míope e pretendia comprar um par de óculos. Alguém o
aconselhou a crer em Deus em vez de usar óculos. Então, ele chegou à conclusão
de que sua fé era mais forte do que a das outras pessoas e orou. Posteriormente,
foi convidado para pregar o Evangelho. Ele pensava que sua visão seria
restaurada depois que pregasse e até me pediu que orasse com ele. Eu lhe disse,
com toda a franqueza, que o Senhor não o curaria, e ele perguntou por quê.
Respondi que ele não tinha a Palavra de Deus, e, portanto, sua fé não era fé,
mas sentimento. O que ele professava ter era, na verdade, esperança, e não fé.
Como alguém pode crer se a Palavra de Deus não está presente em sua vida?
A obra de Cristo é verdadeira - embora o mundo inteiro
vá perecer se não tiver a Palavra de Deus. Com a presença da Palavra, porém,
nem o mundo todo é capaz de derrubar aquilo em que você e eu cremos. Certa vez,
há muito tempo, nosso Senhor havia ordenado a Seus discípulos da seguinte
forma: "Passemos para a outra margem". Depois, Ele foi dormir na popa
do barco. De súbito, formou-se uma grande tempestade de vento, e as ondas se
arremessavam de tal forma contra o barco, que este já se enchia de água. Os
discípulos acordaram o Senhor, dizendo: "Mestre, não Te importa que
pereçamos?" Então, Jesus levantou-se e repreendeu o vento. Quando o vento
se aquietou, houve grande bonança. Depois, o que Jesus disse aos discípulos?
"Por que sois assim tímidos? Como é que não tendes fé?" (veja Mc 4.35-41).
Uma vez que o Senhor havia ordenado que passassem para a outra margem, Ele
seria responsável por qualquer coisa que acontecesse durante a trajetória —
quer fossem as ondas ou o vento. Não crer no que o Senhor falou é simplesmente
cancelar Sua Palavra. Suponha, por exemplo, que eu lhe dê uma nota de dez
dólares para ser trocada. Como você sabe que foi designado a receber o valor
equivalente ao dinheiro trocado? Pois a quantia correta está impressa na nota
de dez dólares. O mesmo se aplica às questões espirituais, isto é, seja qual
for a quantia que Deus diz ser, trata-se da quantia exata a ser recebida. Tudo
o que Deus fala é verdade. Se o Senhor ordenar-lhe que passe para a outra
margem, você passará para a outra margem. Você poderá enfrentar, com coragem, o
vento que soprar e as ondas que rugirem e chegará à outra margem mesmo assim,
pois crê no que disse o Senhor. Todavia, se duvidar de Sua Palavra, você, na
verdade, naufragará em virtude da oposição do vento e das ondas. A Palavra de
Deus é verdadeira. Ainda que as circunstâncias estejam contra você, a Palavra
continua sendo verdade. Quando você tiver problemas no lar, na escola, no
trabalho ou até sentir necessidades pessoais, suas orações serão inúteis se
você não crer na Palavra de Deus. Você não tem, pois não ora. Você ora, mas não
tem, porque não crê na Palavra de Deus (cf. Tiago 4.2, 3).
É perda de tempo orar sem crer na Palavra. A fim de
receber da graça divina, é necessário guardar Sua Palavra. Você crê, e Deus
realiza. Sempre que algo confrontá-lo, você deverá pedir que o Senhor lhe dê
uma palavra. Então, com esta palavra, você será capaz de superar qualquer
problema. Ter a Palavra de Deus dessa forma é possuir a espada do Espírito.
Quase toda a armadura mencionada em Efésios 6 é destinada à defesa. Apenas a
espada do Espírito, "que é a Palavra de Deus", destina-se ao uso
ofensivo. Tendo a Palavra de Deus, você pode destruir qualquer obstáculo e
resolver todos os problemas. Eu tinha uma amiga que, certa vez, passou por uma
situação financeira muito difícil. Durante aquela época, ela lia a Bíblia e
orava: "Ó Deus, dá-me uma palavra. Não peço que Tu coloques mil dólares
diante de mim, mas que apenas me dês uma palavra." Deus fez com que ela se
lembrasse de uma sentença do Salmo 23: "o meu cálice transborda" (v. 5).
Naquele momento, ela estava literalmente vazia. Mesmo assim, creu na Palavra de
Deus e escreveu o seguinte poema:
Sempre há algo superior, Quando confiamos em nosso
gracioso Senhor.
Todo cálice que Ele enche transborda, Seus grandes
rios são todos largos.
Nada estreito, nada poupado, Sempre do Seu armazém
retirado;
Aos Seus, Ele dá medida plena, Transbordante e eterna.
Sempre há algo superior Quando, das mãos do Senhor,
Tomamos nossa porção com ações de graças,
Louvando pelo caminho que Ele planejou. Satisfação, completa e profunda,
Enche a alma e ilumina o olhar, Quando o coração
confia que Jesus, Todas as necessidades vai satisfazer.
Sempre há algo superior, Quando falamos de todo o Seu
amor; As profundezas insondáveis sobre nós
[permanecem ainda, E as alturas inalcançáveis sempre
crescem para cima.
Os lábios humanos nunca conseguirão expressar Toda a
Sua impressionante ternura.
Só podemos louvar e imaginar, E, para sempre, Seu nome
bendizer.
Margaret E. Barber[22]
Ela enviou este poema a um amigo. Depois de um tempo,
o mesmo lhe respondeu, dizendo: "Quando leio seu poema, imagino que Deus
deve realmente tê-la abençoado para que você tenha tanto." Contudo, quem
sabia que ela não tinha nem sequer um centavo? Porém, a Palavra de Deus a
decepcionou? De jeito nenhum, pois, após dois dias, Deus supriu as necessidades
de Margaret, usando um instrumento humano.
Ah! Se você tem a Palavra de Deus, possui uma fonte
inesgotável de suprimento! Os corvos suprirão suas necessidades, e a torrente
também o sustentará. Até o pouco da refeição de uma viúva será seu bocado {veja
1 Reis 17). Se, no entanto, não houver nenhum corvo, nenhuma torrente ou
nenhuma viúva, Deus abrirá as janelas do céu e lhe mandará o suprimento lá de
cima. Isso é fé. A obra de Cristo está feita, e a Palavra de Deus declara a
mesma coisa. Eu creio e, por isso, tenho tudo. O Espírito da Palavra de Deus é
o Espírito Santo, que é responsável por fazer com que todo aquele que crê na
Palavra de Deus viva a realidade da Palavra. Se você crer, o Espírito Santo o
levará a Cristo e a tudo o que Ele realizou. A obra de Cristo está consumada, e
a Palavra de Deus é concedida. Todavia, o Espírito Santo não poderá aplicar em
sua vida o que Cristo realizou se você não crer.
Por que será que, mesmo quando enxergamos e
compreendemos o que Deus realizou em Cristo, ainda não tomamos posse de nossas
bênçãos? Porque não temos fé. Podemos dizer que cremos, mas por que será que
não recebemos? Eu posso dizer que, na verdade, não cremos, pois, se realmente
crêssemos, o Espírito Santo seria responsável por transformar nossa fé em
realidade. O conhecimento, por si só, não é suficiente, mas a fé deve ser
acrescentada ao saber. Muitas vezes, lemos um capítulo inteiro da Bíblia, e,
ainda assim, é bastante provável que não compreendamos um versículo sequer.
Falta fé em muitas coisas que fazemos. No momento em que cremos, porém, o
Espírito Santo realiza imediatamente, em nós, aquilo em que cremos.
Quando Deus diz: "Haja luz", a luz realmente
surge. Qualquer coisa que Deus fala é efetuada no universo. No princípio, Deus
falou, e o universo Lhe obedeceu. Hoje em dia, Ele continua a falar, e o
universo ainda Lhe obedece, porque toda Palavra de Deus tem poder, e o poder
existente por detrás de cada palavra é o Espírito Santo. Quando Deus fala, o
Espírito Santo realiza, de imediato, o que Deus falou.
Isso também se aplica aos pecadores que são salvos.
Assim que um pecador crê na Palavra de Deus, o Espírito Santo imediatamente lhe
concede aquilo que Cristo consumou. O viciado em drogas ou o alcoólatra
inveterado podem encontrar libertação se crerem na Palavra de Deus. O vício de
fumar ou de beber deixa de existir como se tivesse sido cortado por uma espada.
Isso nada mais é do que o Espírito Santo concedendo à pessoa o poder para
vencer. Certa vez, tive um colega de classe que, quanto ao caráter, era muito
astuto. Ele conseguia persuadir a classe inteira para fazer o que desejava,
pois todos tinham medo dele. Mais tarde, ele se converteu a Cristo e passou a
ser meu colega de ministério. Sem conhecer seu passado, ninguém teria imaginado
que ele havia sido o tipo de pessoa que foi. Contudo, ele é o que é hoje em
virtude do poder da ressurreição. A maior das maravilhas que existem no mundo é
uma pessoa morta poder receber a vida de Deus. No mesmo momento em que uma
pessoa crê, o Espírito Santo coloca, dentro dessa pessoa, tudo o que Cristo
efetuou.
Pode ser que ela diga: "Eu creio" ao ouvir a
pregação da Palavra de Deus, ou se sente na última fileira do auditório ou
esteja até passando pela rua. No instante em que crê, o Espírito Santo lhe
transmite o que Cristo consumou. Minha responsabilidade foi entregar essa
mensagem a você. Será ótimo se você crer no que ouviu. Que Deus opere em nosso
meio, fazendo com que creiamos em Sua Palavra exatamente como foi escrita.
Capítulo 10
QUATRO ESTÁGIOS IMPORTANTES
NA JORNADA DA VIDA
Leitura:
"Quando
estava o SENHOR para tomar Elias ao céu por um redemoinho, Elias partiu de
Gilgal em companhia de Eliseu. Disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o
SENHOR me enviou a Betel. Respondeu Eliseu: Tão certo como vive o SENHOR e vive
a tua alma, não te deixarei. E, assim, desceram a Betel. Então, os discípulos
dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu e lhe disseram:
Sabes que o SENHOR, hoje, tomará o teu senhor, elevando-o por sobre a tua
cabeça? Respondeu ele: Também eu o sei; calai-vos. Disse Elias a Eliseu:
Fica-te aqui, porque o SENHOR me enviou a Jericó. Porém ele disse: Tão certo
como vive o SENHOR e vive a tua alma, não te deixarei. E, assim, foram a
Jericó. Então, os discípulos dos profetas que estavam em Jericó se chegaram a
Eliseu e lhe disseram: Sabes que o SENHOR, hoje, tomará o teu senhor,
elevando-o por sobre a tua cabeça? Respondeu ele: Também eu o sei, calai-vos.
Disse-lhe, pois, Elias: Fica-te aqui, porque o SENHOR me enviou ao Jordão. Mas
ele disse: Tão certo como vive o SENHOR e vive a tua alma, não te deixarei. E,
assim, ambos foram juntos. Foram cinqüenta homens dos discípulos dos profetas e
pararam a certa distância deles; eles ambos pararam junto ao Jordão. Então,
Elias tomou o seu manto, enrolou-o e feriu as águas, as quais se dividiram para
as duas bandas; e passaram ambos em seco. Havendo eles passado, Elias disse a
Eliseu: Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. Disse
Eliseu: Teço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito.
Tornou-lhe Elias: Dura cousa pediste. Todavia, se me vires quando for tomado de
ti, assim se te fará; porém, se não me vires, não se fará. Indo eles andando e
falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro;
e Elias subiu ao céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu
pai, carros de Israel e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, tomando as suas
vestes, rasgou-as em duas partes. Então, levantou o manto que Elias lhe deixara
cair e, Voltando-se, pôs-se à borda do Jordão. Tomou o manto que Elias lhe
deixara cair, feriu as águas e disse: Onde está o SENHOR, Deus de Elias? Quando
feriu ele as águas, elas se dividiram para uma e outra banda, e Eliseu passou
" (2 Reis 2.1-14).
Na passagem acima, encontramos delineados quatro
estágios de uma jornada singular que partia de Gilgal, rumava para Betel,
Jericó e, enfim, cruzava o rio Jordão.
Na época em que Elias iria ser elevado ao céu, e
Eliseu estava para receber uma porção dobrada do Espírito Santo, esses dois
homens de Deus viajavam por um caminho que ligava os quatro locais acima
citados. A partir dos aspectos físico e geográfico, podemos extrair uma lição
espiritual muito importante: se quisermos ser elevados ao céu como Elias, ou
receber o Espírito Santo como Eliseu, teremos de percorrer estes quatro
estágios da vida, conforme nos são tipificados pelos quatro locais visitados
durante a viagem. Devemos, também, dar início a uma jornada em Gilgal e
percorrer toda a trajetória até atravessar o rio Jordão se almejamos ser
arrebatados ou esperamos receber o poder do Espírito Santo. Vejamos o que estes
quatro lugares podem representar exatamente.
Gilgal
(v. 1) - Tratando com a Carne
A fim de interpretar corretamente o significado de
Gilgal, devemos, primeiramente, compreender o princípio da primeira menção[23]
contido nas Escrituras Sagradas. A partir de Josué 5.9, descobrimos que Gilgal
é um lugar que significa "removido". Ao ler os versículos 2 a 9,
compreendemos que a geração dos filhos de Israel que inicialmente saíram do
Egito foi toda circuncidada, ao passo que a geração de israelitas que nasceram
depois, no deserto, não o foi. Naquela época, esta geração estava entrando em
Canaã e, logo, herdaria sua herança. Portanto, a velha carne deveria ser
"removida"; o opróbrio do Egito precisava ser lançado fora ou
removido para que os filhos de Israel pudessem ter a chance de desfrutar uma
nova vida, porquanto o significado da circuncisão, conforme nos é revelado no
Novo Testamento, indica "despojamento do corpo da carne" (Cl 2.11).
Quem verdadeiramente reconhece o que é a carne? Quem entende o que quer dizer
tratar com a carne? Quem compreende o que quer dizer o julgamento da carne?
Muitas pessoas supõem que a vitória sobre o pecado é a marca da perfeição, mas
não sabem que é a carne quem peca! Segundo as Escrituras, a carne é condenada
por Deus. Trata-se de algo do qual Ele se desagrada. A carne é tudo o que temos
ao nascer: "O que é nascido da carne é carne" (Jo 3.6). Tudo o que
temos, ao nascer, provém da carne, e isso não inclui apenas pecado, imundície e
corrupção, mas também bondade, habilidades, zelo, sabedoria e poder naturais.
Uma lição bastante difícil de ser aprendida, na vida de um crente, é que ele
conheça a própria carne. O cristão deve ser conduzido por todos os tipos de
fracassos e privações antes ele saber o que sua carne é. O que atrapalha o
progresso do crente, tanto na vida quanto na obra, é a carne. Ele não tem
consciência de que Deus o convoca a negar a própria carne, imagina que abrir
mão dos pecados já é o suficiente e desconhece o mesmo desprazer que Deus sente
tanto por suas habilidades, seu zelo e sua sabedoria na obra de Deus quanto por
sua própria bondade e por seu poder na vida espiritual.
Segundo Deus, precisamos negar, fazer morrer e
permitir que passe pelo julgamento tudo o que consideramos bom de acordo com a
carne e tudo o que planejamos e organizamos pela carne. O Senhor não confere o
menor valor à ajuda da carne, nem na vida nem na obra espirituais.
No tempo de Josué, Gilgal era exatamente o lugar onde
a carne foi despojada e julgada. Para o crente hodierno, Gilgal simboliza o
lugar onde a carne deve ser julgada por meio do entendimento que Deus nos
concede. Deus declara que a carne deve ser lançada fora. Assim, concordemos com
Ele. Deus afirma que a carne precisa ser circuncidada. Portanto, sejamos
circuncidados no coração. Em nossa jornada espiritual pela vida, devemos, também,
partir de Gilgal e negar a carne. Porém, observe, por favor, que isso não
especifica o grau de despojamento de alguém,
mas simplesmente declara que a carne precisa ser
julgada. Um erro freqüente cometido pelas pessoas é procurar zelo e boas obras,
mas deixar de negar a carne. No entanto, o mais essencial é julgarmos a carne
da mesma forma como Deus a julgou.
De acordo com uma experiência muito pessoal que tive
com o Senhor, a expressão mais elevada de vida espiritual não se encontra na
regeneração, santificação, perfeição, vitória sobre o pecado ou no poder, mas
em negar a carne — que é tanto o objetivo quanto o caminho da vida espiritual.
Aqueles que não partiram de Gilgal nunca deram início, de fato, à jornada
espiritual. Aqueles que não aprenderam a negar a carne não sabem o que é a vida
espiritual. Esses indivíduos podem ser zelosos nas boas obras, e é possível que
até se sintam felizes ao realizá-las, mas não compreendem a verdadeira vida
espiritual.
Betel
(vv. 2, 3) — Lidando com o Mundo
De Gilgal, agora temos de avançar em nossa jornada até
Betel. O que significa o nome Betel? Novamente, descubramos onde, na Bíblia,
Betel é mencionado pela primeira vez e, assim, poderemos decifrar o que
significa para nós hoje em dia. Leia, por favor, Gênesis 12.8. Betel era o
lugar onde Abraão edificou um altar. Um altar tem o propósito de estabelecer
comunicação com Deus quando a pessoa oferece sacrifícios e entrega-se a Ele por
inteiro.
Gênesis 12.9-14 relata a descida de Abraão ao Egito.
Ali, ele não edificou qualquer altar. Sua comunicação com Deus foi
interrompida, e o seu coração de consagração, posto de lado — o que assinala a
diferença entre Betel e Egito. Logo, Betel significa tudo o que é contrário ao
que o Egito representa.
Gênesis 13.3, 4 registra algo muito significativo:
"Fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro
estivera a sua tenda, entre Betel e Ai; até ao lugar do altar, que outrora
tinha feito; e aí Abraão invocou o nome do SENHOR". Abraão havia perdido a
comunhão com Deus enquanto estava no Egito. Contudo, quando voltou ao lugar
original — ou seja, Betel —, ele invocou, mais uma vez, o nome do SENHOR.
Apenas na Betel espiritual, as pessoas terão comunhão com Deus e se entregarão
a Ele.
Por conseguinte, ao passo que Gilgal fala a respeito
de vencermos a carne, Betel fala sobre vencermos o mundo, pois, nas Escrituras
Sagradas, o Egito representa o mundo. Vencer o mundo é uma condição para o
arrebatamento e para receber o poder do Espírito Santo. Nossa vida deve chegar
ao ponto de o mundo ser incapaz de afetar nosso coração. Quanto, na verdade,
estamos separados do mundo? Será que expressamos, por nossa vida, que nos
separamos do mundo? Será que as nossas atitudes e palavras demonstram que não
pertencemos mais a este mundo? E quanto às nossas intenções? Será que
alimentamos algum desejo secreto pelas coisas do mundo? Será que, de forma
sub-reptícia, buscamos o louvor dos homens? Será que nos permitimos sofrer
muito interiormente por causa da calúnia dos homens? Quando sofremos alguma
perda material, sentimos esta perda com intensidade? Existe alguma diferença
entre o que sentimos pelo mundo e o que as pessoas do mundo sentem? Se nosso
coração não vencer completamente o mundo, e, se as pessoas, coisas ou os
acontecimentos deste mundo ainda ocuparem lugar dentro de nós, não seremos
capazes de atingir nosso objetivo. O crente deve pagar o preço por seguir o
Senhor se espera ser cheio do Espírito Santo e ser arrebatado. Precisamos abrir
mão do mundo e aprender a comunicar-nos com Deus no altar da consagração. A
consagração e a comunhão são indispensáveis. No Egito, não era normal haver
fome; todavia, quando havia, sobravam apenas os velhos grãos para sustentarem
os moradores. Contudo, em Canaã, parecia ocorrer fome com freqüência. Espiritualmente
falando, isso indica que, no mundo, há pouca ou nenhuma fome, pois aquele que
vive no mundo não apenas está no mundo, mas também pertence ao mundo. Porém,
para as pessoas que vivem em obediência a Deus, às vezes, haverá fome, pois,
pela comparação, há pouca ou nenhuma tentação no mundo, ao passo que, no
caminho da obediência, podem existir muitas tentações. Entretanto, esse é o
caminho para o poder para o arrebatamento. Ainda que a tentação seja grande,
sempre há livramento com Deus (veja 1 Co 10.13). Logo, sejamos vigilantes e
fiéis. Se não formos cautelosos, voltaremos ao Egito, onde não existem
consagração ou comunhão com Deus. Permanecer no Egito, ainda que
temporariamente, significa pecar durante certo tempo. Deve ser muito patético e
digno de dó alguém fixar residência permanente ali. Embora a pessoa possa até
evitar a tentação, não existe altar no Egito.
Algumas pessoas são semelhantes a Abraão, que não foi
diretamente ao Egito. Primeiro, ele rumou para o Oriente, que era na direção do
Egito, embora não houvesse ainda chegado ao Egito. Estar no Oriente pode ser
descrito espiritualmente como pertencer metade ao mundo e metade a Deus. No
entanto, no Oriente, também não existe altar — não há comunhão com Deus. Betel,
por outro lado, é um local completamente separado - não se trata do Egito do
mundo nem do Oriente da aceitação carnal.
Calcula-se que entre dois e três milhões de israelitas
saíram do Egito, ainda que Deus não tenha permitido que nenhum deles edificasse
um altar no Egito. Para que estes israelitas servissem a Deus de verdade, era
preciso que partissem do Egito e viajassem durante três dias (Êx 8.25-27)! No
Egito, eles poderiam realizar a Páscoa, pois Deus os havia libertado do castigo
do pecado que era a morte. Porém, para que estivessem sob o nome do Senhor e O
adorassem, precisavam abandonar o Egito.
Jericó
(v. 4) — Tratando com Satanás
A referência mais clara concernente ao significado de
Jericó encontra-se no livro de Josué. Nele, podemos observar a conquista de
toda a cidade de Jericó.
"Naquele tempo, Josué fez o povo jurar e dizer:
Maldito diante do SENHOR seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade
de Jericó" (6.26). Portanto, Jericó significa ser amaldiçoado. Esse trecho
da história bíblica narra a forma como os filhos de Israel venceram seus
inimigos pela primeira vez em Canaã. Espiritualmente falando, os diversos povos
de Canaã representam os espíritos malignos que pertencem ao diabo e podem ser
comparados às hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais, mencionadas
em Efésios 6.12. Trata-se dos inimigos contra os quais os crentes lutam hoje em
dia.
Não temos de lutar apenas contra a carne e o mundo,
mas precisamos, também, vencer o inimigo.
Existe apenas uma forma de vencê-lo: crer na Palavra
de Deus e praticá-la. Cremos que alcançaremos o resultado prometido se
praticarmos a Palavra. Deus o falou, e isso basta. As pessoas que vivem em
Jericó, nos dias atuais, dizem possuir a cidade, mas nós dizemos crer na
Palavra de Deus. Elas dizem que as muralhas chegam ao céu, mas nós dizemos que
nosso Deus está nos céus. Elas dizem que o território incluso na cidade lhes
pertence, mas nós dizemos que Deus prometeu dar-nos todo lugar onde pisar a
planta do nosso pé (veja Js 1.3).
Muitas pessoas conhecem apenas a luta entre o espírito
e a carne, mas não percebem o conflito travado entre os crentes e os espíritos
malignos, conforme descrito no sexto capítulo de Efésios. A verdadeira guerra
espiritual é travada entre nós e Satanás (com seus espíritos demoníacos). Esta
guerra reúne todos os crentes maduros, pois os filhos de Deus, na terra, são
freqüentemente atacados pelos espíritos do mal. Esses ataques ocorrem, às
vezes, no próprio lugar onde vivem, no corpo, nos pensamentos, nas emoções e no
espírito. Sobretudo, no final dos tempos, as forças malignas redobrarão seus
esforços para impedir que os crentes sirvam ao Senhor, fazendo-os estar
angustiados e aflitos com muitas coisas. Com bastante freqüência, os crentes
não têm consciência de estarem sendo atacados pelos espíritos malignos e não
compreendem por que tudo parece estar contra eles, o que produz uma terrível
confusão e muito problema. É muito comum que eles achem naturais as coisas que
acontecem e não percebam que estão sendo oprimidos por forças sobrenaturais.[24]
No final dos tempos, é da maior importância que os crentes reconheçam o inimigo
e saibam como lutar contra ele e vencê-lo. Ainda que vençamos a carne e o
mundo, não seremos capazes de realizar grandes progressos se não vencermos as
obras do inimigo. A queda de Jericó não poderia ser atribuída à força humana,
mas a dois fatores: à Palavra de Deus e à posição que os filhos de Israel
assumiram.
A fim de vencer os ataques dos espíritos imundos,
devemos agir de duas formas: (1) ignorar as circunstâncias e os sentimentos,
acreditando na promessa contida na Palavra de Deus e fazendo o inimigo bater em
retirada; (2) permanecer nos lugares celestiais que Cristo nos proporcionou,
mantendo, assim, Satanás e seus espíritos malignos em posição inferior. Sem a
Palavra de Deus e sem assumir a posição que Deus nos concedeu pela fé, não
conseguimos ter vitória sobre o inimigo.
O
Rio Jordão (vv. 6-14) - Tratando com a Morte
O rio Jordão assinala o poder da morte, e, por
conseguinte, cruzar o rio Jordão significa vencer a morte. Isso é o
arrebatamento. Essa faceta da jornada tem uma relação especial com o Senhor
Jesus, já que o próprio Senhor foi batizado no rio Jordão. O fato de Ele ter
descido às águas batismais indica a morte. O fato de Ele ter subido das águas
denota a ressurreição. Ele vence a morte por meio do poder da ressurreição. O
maior poder de Satanás, conforme sabemos, é a própria morte (veja 1 Co 15.26).
E como se o Senhor desafiasse Seu inimigo ao dizer: "Faça o que puder
Comigo" (cf. Hb 2.14). E, de fato, Satanás faz o melhor que pode. No
entanto, Deus tem o poder da ressurreição. Satanás almeja matar completamente o
Senhor, embora Ele tenha a vida que não pode ser tocada ou apoderada pela
morte. O Senhor, conforme dizem as Escrituras, sofre numa terra seca! Com exceção
da ressurreição do Senhor, não há poder que possa vencer a morte.
A vida que recebemos, ao tempo da regeneração, é essa
vida da ressurreição. E o poder da vida ressurreta afugentará toda morte.
Cruzar o mar Vermelho e atravessar o rio Jordão têm
significados muito diferentes. Cruzar o mar Vermelho foi um acontecimento
forçado pelas circunstâncias. Os filhos de Israel foram perseguidos pelos
inimigos egípcios e teriam sido mortos se não o tivessem cruzado. Atravessar o
rio Jordão, todavia, foi uma ação voluntária. Nos dias de hoje, algumas pessoas
recusam-se a cruzar o rio Jordão e não buscam o poder da ressurreição. Porém,
Paulo estimava muitíssimo este poder e, por isso, buscava-o com diligência (Fp
3.10-12). Todos os filhos de Deus foram ressuscitados com o Senhor. Entretanto,
muitos não conhecem o poder da ressurreição do Senhor na prática. Portanto,
eles não experimentam a vitória sobre a morte.
Neste momento histórico, quando o arrebatamento está
próximo, os crentes devem, enfim, vencer o último inimigo — a morte. Precisamos
vencer a morte (seja ela física, mental ou espiritual). O mundo hodierno está
repleto de uma atmosfera mortal. Por um lado, muitas pessoas usadas pelo Senhor
costumam sofrer fraqueza física e enfermidade. Por outro lado, a mente de muitos
santos parece estar paralisada — seus pensamentos, a memória e a concentração
não estão tão alertas como antes. Além do mais, o espírito de muitos crentes
parece estar envolto pela morte, ou seja, inativo, sem poder, encolhido,
paralisado e incapaz de enfrentar o meio ambiente. Por conseguinte, nos dias
que antecedem o arrebatamento, os crentes devem aprender a atravessar o rio
Jordão — isto é, vencer a morte. Devemos aprender a resistir ao poder da morte
em nosso corpo e nas circunstâncias da vida. Devemos provar o poder da
ressurreição em todas as coisas. Precisamos testificar, mais e mais, o fato de
nosso Senhor ter sido ressuscitado dentre os mortos e de nós, que estamos
unidos a Ele, também termos sido ressuscitados.[25]
A fim de recebermos o espírito de Eliseu é chegarmos
ao arrebatamento de Elias, devemos partir de Gilgal, viajar até chegar ao rio
Jordão e atravessá-lo. O Espírito Santo só pode descer sobre aqueles que estão
repletos da vida da ressurreição. Não imagine que, tão logo sejamos regenerados,
seremos arrebatados. Deus não pode levar alguém que não está preparado. Por
isso, antes que possamos ter um arrebatamento como Elias, devemos passar pelas
experiências de Gilgal, Betel, Jericó e rio Jordão.
Deus nos diz que seremos arrebatados. Então, façamos o
que devemos fazer - começando de Gilgal e terminando pela outra margem do
Jordão. Descobriremos que Deus estará ali esperando por nós!
Notas:
[1] Parque público situado no subúrbio de Xangai.
[2] Uma pequena biografia dele pode ser encontrada no
livro Cântico dos Cânticos — O Misterioso Romance, publicado por esta editora.
Mais detalhes sobre sua experiência com a vida vitoriosa são apresentados no
livro O Segredo Espiritual de Hudson Taylor, de Howard Taylor, publicado pela
Editora Mundo Cristão. (N.E.)
[3] A biografia de T. Austin-Sparks pode ser encontrada no
livro O Testemunho do Senhor e a Necessidade do Mundo, publicado por esta
editora, ou em nosso site. Ele estava vivo à época em que Watchman Nee deu essa
mensagem, mas partiu para o Senhor em abril de 1971.
[4] Recomendamos a leitura da mensagem "Consagração
Total", de Stephen Kaung, no livro O Homem que Deus Usa, publicado por
esta editora. (N.E.)
[5] Robert Cleaver Chapman (1803 -1902) serviu a Deus numa
região isolada da Inglaterra. Não é conhecido por ter escrito grandes livros,
pois decidiu grande templo foi levantado. D. L. Moody ouviu falar de sua fama e
tomou o trem, um dia, para ouvir a pregação de Chapman. Ele se sentou em
silêncio e ouviu. Quando a reunião terminou, Chapman reconheceu Moody e foi até
ele lhe pedir que falasse francamente se tinha algo a dizer. "Irmão",
disse Moody, "o que você fez foi um fracasso e não um sucesso, porque
existe algo de errado na sua vida". Ao ouvir isso, Chapman entristeceu-se
bastante e sentiu que Moody não deveria tê-lo criticado da forma que fez, pois
com que autoridade falara daquele jeito? Todavia, Moody foi obrigado a dizer, e
o próprio Chapman sabia que existia, na verdade, uma imperfeição em seu ser:
ele sabia que não conseguia desistir de amar mais a esposa e os filhos [do que
ao Senhor] e, com esse assunto, lutou dolorosamente durante as várias semanas
que se seguiram. Enfim, ele disse ao Senhor: "Deus, não posso deixar de
amar minha esposa e meus filhos, mas Te peço que operes em mim até eu ser capaz
de abrir mão deles." A partir evitar qualquer publicidade sobre si, a fim
de que toda a atenção dos homens fosse dada exclusivamente ao Senhor Jesus. No
final de sua vida, era um dos mais respeitados cristãos de seu tempo. Foi amigo
e mentor muito íntimo de George Müller e grande encorajador de HudsonTaylor.
Seu amor pelo Senhor e pelas pessoas e sua posição contrária ao
denominacionalismo e a quaisquer divisões entre os cristãos são exemplos para
todos os filhos de Deus. Spurgeon disse que "Robert Chapman foi o homem
mais santo que eu jamais conheci" e John Nelson Darby declarou:
"[Chapman] vive o que eu prego". Quando lhe disseram que não seria um
grande pregador, Chapman declarou: "Há muitos que pregam Cristo, mas não
há muitos que vivam Cristo. Meu grande objetivo é viver Cristo". (N.E.)
[6] Uma pequena biografia dele pode ser encontrada no
livro O Poder latente da Alma, de Watchman Nee, publicado por esta editora.
(N.E.)
[7] Hino ou prece em que se glorifica a Deus (N.T.).
[8] No Antigo Testamento, a libação era uma oferta
acessória, que consistia no derramamento de vinho sobre o holocausto oferecido
a Deus para que este se consumisse mais rapidamente e fosse, assim, melhor
aceito por Deus (N.T.).
[9] Na versão em inglês da Bíblia adotada para a edição
americana deste livro, em ambos versículos é usada a mesma palavra, rest, que
significa descanso. No grego, ambas palavras vêm da mesma raiz, tendo,
portanto, significados muito semelhantes. Na presente edição, em respeito à versão
da Bíblia adotada, fazemos a distinção entre alívio e descanso (N.E.).
[10] Podendo significar, também, "febril, exasperado,
exaltado" (N.E.).
[11] Sobre este importante tópico, recomendamos a leitura
do livro Humildade —A Beleza da Santidade, um clássico de Andrew Murray,
publicado por esta editora. (N.E.)
[12] Ele era um jovem mineiro, de formação humilde, que foi
constrangido pelo Senhor a entregar-se totalmente a Ele. Orou, juntamente com
outros jovens cristãos, por um reavivamento no País de Galês; Deus respondeu-lhes
com o grande reavivamento ocorrido entre 1904-5. Juntamente com Jessie
Penn-Lewis, que muito o ajudou, escreveu Guerra Contra os Santos, um clássico
sobre guerra espiritual, publicado por esta editora. (N.E.)
[13] No texto, o termo "fraseologia" se refere à
forma como construímos e reunimos as frases em nossa oração (N.T.)
[14] Capital da província de Fujian, localizada no sudoeste
da China (N.T.).
[15] Pelo texto, entende-se que na China o valor da
passagem de ônibus urbano era pago de acordo com a distância percorrida, como
ocorre com os táxis. (N.E.)
[16] Frederick Brotherton Meyer (1847 - 1929), pastor
batista inglês. Trabalhou com D. L. Moody, Campbell Morgan, Spurgeon e outros
destacados homens de Deus de sua época. Realizou obras de cunho social e de
recuperação de alcoólatras e de reabilitação de ex-presidiários. Foi
evangelista na África do Sul e no Oriente. Por muitos anos, esteve intimamente
ligado à Conferência de Keswick. (N.T.)
[17] Este capítulo apresenta notas extraídas da Conferência
de Outubro, ministrada em 1931, na qual o autor discursou.
[18] No registro de Êxodo 4.25, podemos ver que somente o
filho precisou ser circuncidado naquela ocasião. Moisés, provavelmente, foi
circuncidado no oitavo dia de vida por seus parentes no Egito.
[19] O autor detalha esse assunto em seu livro A Obra de
Deus, publicado por esta editora. (N.E.)
[20] Esse assunto é bastante detalhado pelo autor em seu
livro Realidade Espiritual ou Obsessão?, publicado por esta editora. A clara
distinção entre a realidade espiritual e o que supomos ser realidade é decisiva
para uma vida cristã equilibrada e normal. (N.E.)
[21] John Wilbur Chapman (1859-1918) foi um evangelista,
reavivalista e pastor americano (N.T.).
[22] Margaret E. Barber, missionária inglesa, foi o
instrumento usado por Deus para Watchman Nee à vida profunda com Deus, à busca
pela experiência da cruz e ao amor pela volta do Senhor. Ela lhe apresentou os
livros de D. M. Panton, Robert Govett, G. H. Pember, Jessie Penn-Lewis, T.
Austin-Sparks e outros grandes homens de Deus. Uma pequena biografia dela pode
ser encontrada no livro O Poder Latente da Alma, de Watchman Nee, publicado por
esta editora. (N.T.).
[23]
Esse princípio de interpretação da Bíblia diz que
a primeira menção de uma palavra, personagem, lugar etc. determina seu
significado no restante da Bíblia. (N.E.)
[24] Recomendamos a leitura de Guerra Contra os Santos, de
Jessie Penn-Lewis, publicado por esta editora, obra que muito auxiliou Watchman
Nee a compreender a realidade dessa luta espiritual. (N.E.)
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